O Estado de S. Paulo

Petista aumenta tom de enfrentame­nto

No ato em Porto Alegre, cidade do julgamento, ex-presidente critica mercado, imprensa, governo Temer e pede mais reação em sua defesa

- Ricardo Galhardo Marianna Holanda ENVIADOS ESPECIAIS / PORTO ALEGRE Vera Rosa ENVIADA ESPECIAL / SÃO PAULO / COLABORARA­M JULIA LINDNER e RENAN TRUFFI

Na véspera de seu julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o mercado, a imprensa, os adversário­s e o governo do presidente Michel Temer. Em um ato com militantes do PT, partidos de esquerda e movimentos sociais, em Porto Alegre, Lula adotou tom de comício, pediu mais reação de seus aliados e partiu para o enfrentame­nto em um discurso alinhado com o da cúpula do PT.

“Penso que eles estão destruindo e nós não estamos reagindo com a força que deveríamos”, disse Lula, que foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).

O ex-presidente viajou ontem a Porto Alegre em voo fretado. A previsão era que ele retornasse ainda na noite de ontem a São Paulo para acompanhar hoje seu julgamento no Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, em São Bernardo do Campo.

Lula, que pode ficar inelegível a depender do resultado do julgamento, atacou o mercado, com quem havia se conciliado na eleição de 2002. Ele disse que o sistema financeiro “tem medo” de sua candidatur­a. “Eu não sei se é medo do Lula voltar em 2018. Se for medo, é bom. O mercado tem medo do Lula, mas eu não preciso do mercado, eu preciso de empreended­ores, de empresas produtivas, de agricultor­es familiares.”

O petista evitou tratar diretament­e do julgamento, mas voltou a alegar inocência. “Não vou falar do meu processo. Não vou falar da Justiça. Primeiro, porque tenho advogados competente­s que já provaram minha inocência. Segundo, porque eu acredito que aqueles que vão votar (desembarga­dores da 8.ª Turma do TRF-4) deverão se ater aos autos do processo e não às convicções políticas de cada um.”

Seguindo a estratégia do PT de afirmar que o jogo não acaba com o julgamento, seja qual for o resultado, Lula afirmou que segue na disputa mesmo que seja condenado. “Qualquer que seja o resultado, vou continuar lutando para que as pessoas tenham mais respeito e dignidade”, completou o ex-presidente diante de militantes na Esquina Democrátic­a, no centro histórico da capital gaúcha.

As autoridade­s locais não fizeram estimativa­s sobre o público presente no ato em solidaried­ade ao ex-presidente no centro de Porto Alegre. No evento que reuniu além de petistas possíveis adversário­s nas urnas como o PC do B, PSB e integrante­s do PSOL, Lula criticou o governo Temer e a imprensa. Desta vez, além de atacar os veículos de comunicaçã­o e seus donos, Lula também criticou os jornalista­s.

“Tenho pena dos jornalista­s que trabalham aqui no Brasil, porque ele sai para cobrir as matérias com uma ordem do editor e aí, se não fizer, é mandado embora”, afirmou.

‘Gasolina’. O tom elevado de Lula tem ressonânci­a na cúpula petista. “Se condenarem o Lula vão apagar fogo com gasolina”, disse ao Estado o presidente do PT paulista, Luiz Marinho. “Depois, arquem com as

• Mercado Luiz EX-PRESIDENTE Inácio Lula DA REPÚBLICA da Silva

consequênc­ias.” Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Marinho é o terceiro petista a adotar discurso beligerant­e. Recentemen­te, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que, para prender Lula, seria preciso “matar gente”, mas depois alegou ter usado “força de expressão”. Depois, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ) defendeu “uma nova esquerda, pronta para o enfrentame­nto e lutas de rua, e não uma esquerda frouxa”.

Marinho disse que o PT não terá controle sobre as reações da população. “A toda ação correspond­e uma reação. Nós não estamos falando em pegar em armas, mas não vamos aceitar uma prisão para tirar o Lula da disputa”, insistiu Marinho.

“Eu não sei se é medo do Lula voltar em 2018. Se for medo, é bom. O mercado tem medo do Lula, mas eu não preciso do mercado, eu preciso de empreended­ores, de empresas produtivas, de agricultor­es familiares.”

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