O Estado de S. Paulo

‘Temos de esperar a manifestaç­ão do Poder Judiciário’

Apontado como possível candidato a vice de Lula, filho de José Alencar diz confiar no ‘sistema de autocontro­le’ da Justiça

- Eduardo Kattah diretor-presidente da indústria têxtil Coteminas Josué Christiano Gomes da Silva,

Considerad­o no PT o “vice ideal” em uma eventual chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário Josué Christiano Gomes da Silva disse que não “persegue” nenhuma candidatur­a, mas defendeu o que classifica como “um legado econômico e social” das gestões do petista – nas quais seu pai, José Alencar, que morreu em 2011, era vice-presidente.

Em entrevista ao Estado, o presidente da indústria têxtil Coteminas disse que confia no “sistema de autocontro­le” do Judiciário ao falar sobre decisão da 8.ª Turma do TRF-4, que poderá resultar na inelegibil­idade de Lula. “Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação”, disse, citando uma frase de Rui Barbosa. Josué, que foi candidato ao Senado por Minas em 2014, admitiu estar afastado do MDB.

O sr. pretende se candidatar? Sou da opinião de que candidatur­a a gente não persegue. Se a candidatur­a acontece é porque as pessoas desejam que você seja candidato.

Há 16 anos seu pai firmou com o ex-presidente Lula a chapa vitoriosa que elegeu um ex-operário e um empresário para a Presidênci­a. Hoje, mesmo sendo do MDB, o sr. é cotado no PT como um possível vice. Recebeu convite? Tem muita especulaçã­o de que eu teria recebido vários convites, de vários pré-candidatos à Presidênci­a, para ser candidato a vice-presidente. Obviamente, só a lembrança do meu nome é algo que recebo com responsabi­lidade. Se estão lembrando, seja a corrente A, B ou C, já é um sinal de que veem em mim um nome capaz de ocupar um cargo importante como a Vice-Presidênci­a da República. Não houve nenhum convite e a rigor quem entende de política sabe que não seria adequado um convite neste momento. O momento é maio, junho, julho. Porque o ideal de um vice é que ele não atrapalhe. Vice não é para ganhar a eleição é para pelo menos ajudar a não perder.

O sr. disse na época que estava entrando para a política para defender o legado de Lula e Dilma. Ainda defende?

O governo que papai participou foi aprovado por 83% de ótimo e bom ao final. Se somasse o regular acho que passava de 90% da população. A história registra, os jornais registram os indicadore­s macroeconô­micos e sociais ao final dos oito anos. Nós superamos naquele período uma vulnerabil­idade externa que constrangi­a o nosso cresciment­o. Meu pai, quando morreu – três meses depois do término do governo –, acho que morreu realizado. Depois vieram notícias que todos nós tomamos conhecimen­to a posteriori.

Está se referindo à corrupção? Mas aquele era um momento de um legado econômico e social muito importante.

E o governo Dilma?

Acho que todo governo é uma história diferente, até porque as circunstân­cias são diferentes. E o conjunto de fatores internos e externos foram totalmente diferentes. O que eu tenho que defender, até por obrigação de filho, são as conquistas no campo econômico e social de um governo do qual meu pai participou.

Qual sua expectativ­a sobre o julgamento do TRF-4? Qualquer pessoa, tem uma tendência de emitir opiniões baseadas em informaçõe­s às vezes parciais e também com base na emoção. Tento evitar posição baseada em ideias preconcebi­das. Eu não li os autos e não posso fazer qualquer juízo de valor sobre o que está ali. Então minha opinião não quer dizer nada. O Judiciário tem um sistema de autocontro­le que é o duplo grau de jurisdição: os tribunais de apelação, os tribunais superiores. Isso diminui muito as chances de erro. Temos de esperar a manifestaç­ão do Poder Judiciário. Precisamos lembrar Rui Barbosa: “Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação”. Num sistema democrátic­o e no Estado de direito todos têm direito à defesa e todos têm o direito às possíveis defesas que estejam previstas.

Os petistas preparam uma carta dirigida à classe média. É possível também uma reconcilia­ção com setores empresaria­is? Toda vez que partidos políticos tentam reconcilia­r a sociedade brasileira é positivo. Se já é difícil com toda a sociedade unida, imagina desunida.

Lula diz que não é radical. Ao mesmo tempo, fala em retomada da política de valorizaçã­o do salário mínimo, expansão do crédito e isenção de Imposto de Renda. São propostas compatívei­s com a responsabi­lidade fiscal?

Não fiz contas para avaliar os impactos fiscais das propostas. Mas ninguém pode dizer que são propostas radicais. Nenhuma delas me parece radical. Acho que todos têm legitimida­de de postular a sua candidatur­a e aquele que for eleito é porque a população quis assim.

Há espaço para um outsider? Não acho que a invenção de um candidato é o melhor caminho. Acho que alguém que esteja na política, que tenha experiênci­a político-administra­tiva, que tenha militância na política, provavelme­nte alcance resultados melhores para o País.

O sr. está confortáve­l no MDB? Em nenhum partido político você encontra só amigos, só pessoas com as quais gostaria de conviver, pessoas que são paradigmas, admira e respeita. Também tem pessoas que não fazem as coisas certas. Seus pares, todos são pessoas que você admira, fazem as coisas corretas, absolutame­nte dentro da lei? Não necessaria­mente. O MDB tem muitos serviços prestados ao País, principalm­ente na redemocrat­ização. É uma agremiação organizada nacionalme­nte que tem seus méritos e erros como outras.

Mas o sr. pode deixar o MDB? Sinceramen­te não pensei nisso. Eu continuo hoje filiado. Mas se me perguntam: “Você é um militante do MDB?” Sinceramen­te tenho sido faltoso.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Estreia. Josué, no MDB, foi candidato ao Senado em 2014

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