Temer fala em ‘normalidade institucional’
Presidente participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos, em meio ao julgamento de petista; ideia é evitar politizar decisão de tribunal
Uma eventual condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será apontada pelo governo Michel Temer como sinal de “normalidade institucional”. Em Davos, para participar do Fórum Econômico Mundial, Temer e seus interlocutores buscam reforçar o discurso de separação entre “questões políticas e jurídicas” e tentam desarmar a tensão em torno do julgamento do petista, enquanto já se mobilizam diante de uma possível repercussão internacional da decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, a 10,5 mil quilômetros das montanhas suíças.
Hoje, Temer estará com representantes das maiores multinacionais do mundo, no fórum. Ele dividirá, porém, a atenção dos empresários e líderes estrangeiros com o julgamento de Lula. O Estado apurou que a estratégia no governo é defender a separação dos Poderes e tentar despolitizar o resultado. A mensagem, tanto para o mercado no Brasil como para investidores no exterior, é a de que as instituições funcionam.
O mesmo recado deverá ser adotado por eventuais contatos diplomáticos ou oficiais, caso o assunto seja levantado por governos, executivos ou instituições estrangeiras, entre elas a Organização das Nações Unidas (ONU). Nos últimos dias, partidos e deputados nos Estados Unidos e Europa têm se manifestado em apoio ao ex-presidente, e a ofensiva, na avaliação do Planalto, pode ganhar força.
Em Davos, a participação de Temer no fórum será em parte ofuscada pelos acontecimentos no Brasil, e mesmo o presidente da entidade, Borge Brende, admitiu que o julgamento de Lula será uma “incógnita”.
A estratégia de Temer, porém, é a de vender a ideia de que o julgamento vai tranquilizar os investidores. “Isso significa que as instituições brasileiras estão funcionando, e funcionando com toda a tranquilidade, o que naturalmente dá muita segurança para quem quer investir no País”, afirmou.
Cronograma. O cronograma de Davos foi cuidadosamente montado pelos organizadores. Temer fará seu principal discurso às 10h30 da manhã no horário suíço, 7h30 no horário de Brasília, e antes do julgamento começar – a 8.ª Turma Criminal do TRF-4 julgará Lula a partir das 8h30. Depois disso, ele vai se retirar e terá reuniões bilaterais com empresários, em um hotel da cidade. Ali, também vai acompanhar a transmissão da sessão do TRF-4 na internet.
A decisão, porém, poderá sair justamente no momento em que Temer estará em um jantar em sua homenagem, organizado por Davos. Para o presidente, não há risco de “mal-estar”. “Não acredito que isso ocorra. Não vai causar mal-estar nenhum. É natural”, disse Temer.
A mesma estratégia de tentar despolitizar o processo foi confirmada por Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. “A expectativa que temos é de que haja uma divisão entre a questão política e a questão jurídica”, afirmou. Nos bastidores, integrantes do alto escalão do governo têm afirmado que o resultado do julgamento do recurso do ex-presidente no TRF-4 pode ser “o início” de um processo político em vários partidos para tentar definir candidatos. Temer busca consolidar uma candidatura única de centro que defenda o seu legado econômico.
Assédio. Também em Davos, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que tem sido frequentemente abordado para ser candidato à Presidência da República nas eleições deste ano. “Isso é recorrente. Sempre tem essa história. É normal”, disse a jornalistas.
Meirelles acrescentou que sua resposta é a mesma que tem dado oficialmente à imprensa nos últimos meses: de que está 100% focado na economia e que, em abril, decidirá sobre a candidatura. Ele afirmou ainda que seu plano é “ficar totalmente focado na economia até decidir sobre concorrer ou não”.
Segurança •
“Isso (o julgamento) significa que as instituições brasileiras estão funcionando e funcionando com toda a tranquilidade, o que naturalmente dá muita segurança para quem quer investir no País.” Michel Temer
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
“Agora, juridicamente, o que tranquilizaria é o respeito pelo que está escrito na Constituição.” Moreira Franco
MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO