O Estado de S. Paulo

Roda viva

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Nos anos 60 do século passado, o jovem Chico Buarque cantava, em período de angústia no País: “A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a Roda Viva e carrega o destino pra lá”. É isso. Nem sempre conseguimo­s escolher os rumos de nossas existência­s, carreiras e nos apegamos ao que for possível.

No momento, quatro jogadores de renome lidam com a Roda Viva – nem todos com fôlego para determinar as opções que talvez lhes satisfizes­sem na trajetória no mundo da bola. Para não dar tom pessimista à crônica, puxo o fio da meada com Dudu, por ora em situação mais cômoda.

O moço há algumas temporadas é o astro do Palmeiras. A torcida o vê como principal talento da trupe, sobretudo depois da saída de Gabriel Jesus, ainda no ano passado. A ele vieram juntar-se Lucas Lima e Scarpa para dividir a condição de protagonis­tas. O trio promete dar o que falar em 2018.

Porém, surgiu oferta de time chinês para levar Dudu embora. A proposta colocada na mesa previa em torno de R$ 51 milhões e alguns quebrados. Dinheiro bom, ainda mais agora que o clube precisa bancar certas despesas, no novo acordo com a Crefisa, como o Estado revelou na edição de ontem.

Dudu foi consultado, disse “Não, obrigado”, e até segunda ordem assunto encerrado. Espaço de quem anda com moral no emprego – e indício de que o patrão tem urgência de fazer caixa. Ótimo para ambos os lados, e para o time, que se mantém intacto. Nessa, Dudu é quem mandou na Roda Viva.

Não é o caso de Robinho. Já na fase de maturidade da carreira, quando imaginava encerradas aventuras no exterior, eis que tem de botar o pé na estrada para recolocar-se no mercado. Após a rescisão com o Atlético-MG, recebeu sondagens desta ou daquela equipe doméstica, e não acertou com nenhuma.

Ninguém abriu o jogo, mas ficou evidente que as portas se fecharam por causa da condenação, na Itália, em caso de estupro. Numa primeira etapa, ainda em Minas, o assunto passou batido, na base do “isso é coisa lá com os gringos e não interfere aqui”. Aos poucos, a gravidade do tema ganhou espaço, cresceu e assustou eventuais interessad­os em Robinho. Quem iria associar imagem a atleta que tem problemas – por razão grave – com a Justiça? Mesmo que seja no estrangeir­o?

Robinho tem direito a recorrer e paga advogados para tanto. Mas não lhe restou alternativ­a a não ser aceitar o aceno que veio da Turquia. Que tenha sorte por lá – e que, por estas bandas, não se considere natural que astros do futebol possam ser blindados, ao se envolverem em acidentes e violência. São cidadãos com direitos e obrigações como você, eu, nós todos.

Gabigol também viu interrompi­do, pelo poder da Roda Viva, o sonho de brilhar na Europa como Neymar, ídolo, modelo e ex-parceiro de Santos e seleção. Ao menos por um tempo. A passagem por Inter e Benfica foi desastrosa e, aos 21 anos, está a ponto de retornar ao Santos, por empréstimo. Uma chance para reconstrui­r trajetória, amadurecer e... partir, adiante, para nova tentativa fora.

A Roda Viva está perto de atropelar Cueva no São Paulo. O peruano tem pisado na bola e se safa pois sabe jogar e hoje é dos que têm algum brilhareco num elenco carente de estrelas. Às vezes, exagera na dimensão que imagina ter no Morumbi.

A mais recente veio ontem, com a recusa de ir para Mirassol, ao saber que não começaria como titular e com isso se sentir menos “importante”. E, por coincidênc­ia, após o clube refutar negociação com árabes.

O diretor Raí afirmou ao site tricolor que Cueva não está “plenamente comprometi­do com a agenda” do São Paulo. Epa, se é assim, melhor manobrar de forma inteligent­e e promover a saída do rapaz. O clube não pode ficar refém dessa inconstânc­ia.

Dudu pôde optar pelo “fico”; Robinho e Gabigol, não; Cueva precisa decidir o que quer

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