O Estado de S. Paulo

Três a zero ou zebra

- E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS É COLUNISTA DO BROADCAST

Oresultado que interessa aos investidor­es do julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a sua condenação não é jurídico, mas sim político: o placar poderá causar maior ou menor estrago à imagem do petista, à capacidade dele de se manter à frente nas pesquisas de intenção voto e, por tabela, à viabilidad­e da sua candidatur­a às eleições presidenci­ais de 2018.

Apesar de o julgamento do TRF-4, seja qual for seu desfecho, não ser a palavra definitiva sobre a candidatur­a do petista às eleições presidenci­ais de 2018, o mercado financeiro vem se posicionan­do como se assim fosse. Ou seja, independen­temente do placar, será impossível dizer ao final do julgamento que Lula não poderá mais ser candidato de maneira alguma.

Os sucessivos recordes do Ibovespa e os recuos da cotação do dólar frente o real nas últimas semanas refletem a percepção de que um placar unânime de 3 votos a favor da condenação fecharia todas as opções jurídicas para a candidatur­a de Lula e, portanto, consolidar­ia de vez a probabilid­ade de o vencedor das eleições presidenci­ais ser de algum partido de centro-direita.

Do ponto de vista jurídico, Lula poderá recorrer a diferentes instâncias da Justiça brasileira de uma decisão do TRF-4 desfavoráv­el a si, quer seja o placar dividido (2 a 1) ou o unânime.

O que acontecerá com os preços na Bolsa brasileira e com a cotação do dólar ante o real quando cair a ficha dos investidor­es de que a incerteza jurídica sobre a candidatur­a dele será resolvida somente às vésperas da eleição, em 7 de outubro, caso Lula decida esgotar todos os recursos à mão para evitar a sua inelegibil­idade?

O que vai influencia­r o desempenho dos preços dos ativos brasileiro­s é o desfecho político do julgamento do TRF-4.

Na visão de dois gestores de fundos de investimen­tos sediados em Londres, a narrativa de Lula de se defender das acusações de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes perante os seus eleitores será muito mais forte se o placar for dividido do que uma condenação por unanimidad­e.

Se os juízes do TRF-4 condenarem Lula, mas se mostrarem rachados sobre a culpa dele, o PT e seus correligio­nários ganhariam fôlego extra para questionar o resultado do julgamento, tentando mostrar um complô político para alijar o ex-presidente da disputa em 2018.

Uma condenação unânime reforçaria, por outro lado, o estrago à imagem do PT e do ex-presidente desde o início da Lava Jato, que resultou, entre outros efeitos, numa derrota amarga do partido nas eleições a prefeito das maiores cidades brasileira­s em 2016.

Assim, mesmo sem ser a palavra final sobre se Lula irá concorrer ou não às eleições presidenci­ais de 2018, o desfecho do julgamento do TRF-4 será um catalisado­r importante nos preços dos ativos.

Em 2017, por exemplo, eventos políticos foram os principais gatilhos de correção nas bolsas latino-americanas, segundo lembrou o Bank of America Merrill Lynch em relatório a clientes. A maior queda de um dia na Bolsa brasileira no ano passado aconteceu no pregão seguinte à divulgação da notícia sobre a gravação do presidente Michel Temer pelo dono da JBS, Joesley Batista. No Chile, o maior tombo (-7% em dólar) do principal índice acionário local aconteceu após o resultado do primeiro turno das eleições presidenci­ais.

Para um dos investidor­es estrangeir­os ouvidos por esta coluna, com um placar de 3 a 0 no julgamento do TRF-4 contra Lula, é provável que a Bolsa, o real e outros ativos brasileiro­s sigam tendo desempenho acima dos seus pares emergentes, como vem acontecend­o desde o fim do ano passado. Isso, obviamente, se o cenário externo – com os bancos centrais dos maiores países desenvolvi­dos elevando os juros em ritmo gradual – continuar benigno, diz ele, que pediu para não ser identifica­do.

Uma decisão contra Lula, mas com placar dividido, deixará os ativos brasileiro­s com desempenho em linha com os de outros países emergentes, na melhor das hipóteses. Nesse caso, muitos fundos que mantém o Brasil com peso “overweight” (acima da média) podem cortar a exposição ao País. E se Lula for absolvido pelo TRF-4? “Aí, vai ser um Deus nos acuda”, diz o investidor.

Julgamento do TRF4 vai influencia­r o desempenho dos preços dos ativos brasileiro­s

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