O Brasil no Oscar
O animador Carlos Saldanha e o produtor Rodrigo Teixeira estão na disputa
Tem brasileiro no Oscar. Aliás, dois. O animador Carlos Saldanha concorre na categoria de animação com O Touro Ferdinando. É azarão, porque por mais encantador que o filme possa ser para o público infantil, existem animações melhores (mais adultas?) na disputa – Viva – A Vida É Uma Festa e Com Amor, Van Gogh. O outro é Rodrigo Teixeira, um dos produtores de Me Chame pelo Seu Nome, do italiano Luca Guadagnino, um dos nove concorrentes a melhor filme. Apresentado por Andy Serkis e Tiffany Haddish – ela errou muito os nomes –, o anúncio dos indicados para o 90.º prêmio da Academia reafirmou A Forma da Água como favorito, com 13 indicações, incluindo melhor filme, diretor (Guillermo Del Toro), roteiro (do cineasta), atriz (Sally Hawkins) e ator coadjuvante (Richard Jenkins). Del Toro teve mais indicações do que Christopher Nolan, que vai concorrer a filme e direção, mais seis estatuetas técnicas, por Dunkirk.
Embora esses nomes de ponta do cinemão estejam na dianteira, o Oscar 2018 abriu uma importante janela para os novos talentos. A estreante Greta Herwig concorre a melhor filme, direção e roteiro, por Lady Bird – A Hora de Voar. E Jordan Peele faz história como primeiro negro a concorrer nas mesmas categorias de Greta, por Corra! Também fazendo história, Rachel Morrison é a primeira mulher a concorrer ao Oscar de fotografia, por Mudbound, de Dee Rees. Mais novos talentos? Timothée Chalamet, o excepcional Elio de Me Chame pelo Seu Nome, concorre a melhor ator. E não, Steven Spielberg não concorre a melhor diretor, por melhor que seja seu The Post – A Guerra Secreta, indicado para filme e atriz (Meryl Streep).
Del Toro pode nem ganhar a maioria das estatuetas a que vai concorrer, mas só o fato de estar na dianteira já dá o que pensar. A Forma da Água tem sido multipremiado, desde o Festival de Veneza, e no começo do mês Del Toro foi melhor diretor no Globo de Ouro. As 13 indicações sugerem desagravo da Academia contra o presidente Donald Trump, que desde que tomou posse, em janeiro de 2017, endureceu o discurso racista. Os mexicanos têm sido alvo de suas piadas e Trump não desiste de erguer um muro para isolar os EUA do México.
No longa de Del Toro, que tem forte subtexto político, a par de sua dimensão fantástica, os EUA estão empenhados numa corrida para ultrapassar a arqui-inimiga URSS – o ano é 1962 – na epopeia espacial. A grandeza do país está em jogo nesse laboratório onde a faxineira muda (Sally) se envolve com um estranho ser aquático. Alguma dúvida de que ela leve a melhor contra o establishment militar? Como Corra!, A Forma da Água começou a nascer bem antes do início da era Trump, mas tem tudo a ver com o momento atual.
No Oscar de filme estrangeiro, o Chile conseguiu cravar, entre os cinco, a indicação de Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lélio com a transexual Daniela Vega. A entrega dos prêmios será em 4 de março, no Dolby Theatre, e o comediante Jimmy Kimmel será o host, pelo segundo ano seguido.