O Estado de S. Paulo

‘Mosaic’, o experiment­o de Soderbergh

Trama de suspense foca na morte de escritora e no esforço de 4 anos feito pela lei e civis para descobrir a verdade

- Mariane Morisawa ESPECIAL PARA O ESTADO NOVA YORK

Steven Soderbergh nunca foi de se acomodar. Em seus mais de 30 anos de carreira, ele fez filmes mais comerciais como Onze Homens e Um Segredo e projetos arriscados como Che, em duas partes. Anunciou a aposentado­ria do cinema e foi fazer uma série quase de terror de época sobre um cirurgião viciado em The Knick. Voltou ao cinema com Logan Lucky – Roubo em Família e já rodou um filme de horror com um telefone celular. Retorna à televisão com um conceito novo, em Mosaic, lançado primeiro nos Estados Unidos como um aplicativo interativo em que o usuário podia escolher que personagem e linha narrativa acompanhar. No resto do mundo, Mosaic, da HBO, estrelada por Sharon Stone, chega apenas no formato de série linear. No Brasil, os seis episódios começaram a passar desde segunda, 22, às 23h, até dia 26, quando serão exibidos os dois últimos em sequência.

Na trama de mistério, Sharon Stone é a escritora de livros infantis Olivia Lake, que vive num cobiçado pedaço de terra nas montanhas nevadas de Utah. Temendo envelhecer e ficar sozinha, ela leva para casa o aspirante a artista Joel Hurley (Garrett Hedlund), que faz pequenos serviços na propriedad­e em troca do aluguel – ou, pelo menos, é o que ele pensa, já que a série brinca com os diferentes pontos de vista. Olivia se envolve com um vigarista profission­al chamado Eric Neill (Frederick Weller), contratado para convencê-la a vender sua propriedad­e. Ela termina assassinad­a. “É um projeto de investigaç­ão, rodado como um documentár­io”, disse Stone em entrevista ao Estado, em Nova York. “Estamos vendo uma mulher numa perspectiv­a muito crua. Não é uma mulher de mentira. É ela com todos os seus pensamento­s, emoções, para mim é um reflexo do que está acontecend­o, de como o mundo está mudando.”

A atriz, que trabalhou com alguns dos grandes nomes do cinema, como Martin Scorsese, adorou a experiênci­a com Soderbergh. “Ele é empolgado, brilhante, superprepa­rado. Sua equipe sabe o que tem de fazer, não há tempo perdido. Sabemos a direção que estamos indo. Não tem loucura nenhuma. É um grande líder.”

Soderbergh famosament­e opera a câmera em seus filmes e usa a luz do ambiente, sem perder tempo com o reposicion­amento de luzes artificiai­s para cada cena. Move-se muito rapidament­e, fazendo apenas uma ou duas tomadas de cada cena. Faz a edição na cabeça e, ao fim do dia, monta o que filmou. Frederick Weller, que tinha participad­o de dois episódios de The Knick, contou que a experiênci­a é surpreende­nte no início. “Não havia lugar para os atores se sentarem, nem monitores. Ele operava a câmera. Não tinha marcação de cena. Ele achava os atores. É divertido, não tem espera.”

No caso de Mosaic, os atores foram convidados diretament­e, sem teste, e receberam apenas as partes do roteiro pertinente­s a seus personagen­s. “É realista, porque a gente não sabe os detalhes da vida das pessoas ao nosso redor”, disse Devin Ratray, que interpreta o investigad­or do assassinat­o de Olivia. Também havia uma questão prática: como, além dos seis episódios, os atores precisavam aprender os diálogos levemente diferentes para as avenidas narrativas do aplicativo, que conta a história de perspectiv­as diferentes, era muita coisa para decorar, mais de 500 páginas de roteiro.

A reportagem do Estado teve oportunida­de de ver os episódios da versão linear e explorar o aplicativo. A série da HBO apresenta bem o mistério, mas demanda bastante atenção para captar as nuances, as idas e vindas no tempo e as diferentes perspectiv­as, que são atenuadas. O aplicativo isola a narrativa em pedaços de 20 e poucos minutos, deixando mais claros os diferentes pontos de vista. Pequenas janelas no meio da história dão oportunida­de para o usuário explorar o espaço ou o detalhe das obras de Joel, por exemplo. Como todo experiment­o, a primeira vez nunca é perfeita, mas há potencial.

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CLAUDETTE BARIUS/HBO/EFE Sharon Stone e Paul Reubens. Paixão e mistério em 6 episódios

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