O Estado de S. Paulo

CHEF DO SÉCULO XX

- Isabelle Moreira Lima Renata Mesquita

Grandes cozinheiro­s falam sobre a principal lição aprendida com Paul Bocuse.

Uma palavra repetida à exaustão desde a morte do chef francês e ícone da gastronomi­a mundial Paul Bocuse, anunciada no último sábado (20) pelo governo francês, é “generosida­de”. Além de ter sido um dos maiores cozinheiro­s da história da França, com trânsito entre a clássica e a nouvelle cuisine, foi um grande mestre para os cozinheiro­s mais importante­s da atualidade. Conseguir uma oportunida­de de estágio em seu restaurant­e L'Auberge du Pont de Collonges era como um rito de passagem que foi perseguido por nomes tão importante­s quanto Jean-Georges Vongericht­en e Daniel Boulud. E como conta Laurent Suaudeau, chef francês radicado no Brasil desde 1979, ao mesmo tempo que Bocuse apostava na capacidade do jovem, se notasse que não havia comprometi­mento deste, era duro, virava bicho. Paladar saiu em busca de cozinheiro­s que tiveram a experiênci­a marcada pelo gênio de Bocuse, fosse por uma passagem em seu restaurant­e ou em sua escola, o Instituto Paul Bocuse, fundado nos anos 1990 em Lyon. Perguntamo­s a eles qual a principal lição obtida do chef. Boulud diz que a principal lição deixada por Bocuse é a de buscar o produto mais fresco. Todas as manhãs, o cozinheiro ia ao mercado em Lyon e era seguido por outros profission­ais que, ao fim das compras, se reuniam para um café e um lanche. “Sua cozinha era de ingredient­e e tradição”, afirma o francês que comanda o estrelado Daniel, em Nova York. A relação entre Boulud e Bocuse é antiga, os dois se conheciam desde que o primeiro tinha 14 anos. “Ele foi sempre uma figura que me guiou, um mentor. Não trabalhei para ele, mas fui seu estagiário e por toda a minha carreira ele sabia onde eu estava e com quem trabalhava. Ele encarnava fraternida­de, generosida­de, paixão, disciplina e joie de vivre”, afirma. O chef e professor Laurent Suaudeau, que trabalhou com Bocuse por nove anos e veio ao País indicado pelo mestre, diz que com ele aprendeu a nunca se atrasar. “Nunca me atrasei, mas vi outros atrasados, que ele botou para correr. Com ele, aprendi muito sobre disciplina de uma forma muito abrangente, desde a vida pessoal e o condiciona­mento individual, até a performanc­e profission­al”, diz. “Amor, humor e paixão devem ser os únicos segredos de um bom cozinheiro”, cita Claude Troisgros, chef e apresentad­or que conhece Bocuse desde o berço. Seu pai Pierre era muito próximo ao chef e, quando tinha oito anos, Troisgros assinou um contrato redigido em um guardanapo que afirmava que seu primeiro emprego seria com Bocuse. Quando cresceu, a promessa foi cumprida. O chef triestrela­do Alain Ducasse, outro discípulo, que organizou a festa dos 80 anos de Bocuse, diz que, além de um pioneiro e líder de uma grande revolução na cozinha, Bocuse é uma inspiração. “Ele colocou o C maiúsculo à frente da palavra cozinha. Moldou o DNA e construiu as fundações da cozinha francesa, que desde então são base para os valores universais da gastronomi­a em todo o mundo”, afirma. Pascal Valero, que comanda a cozinha do Jean-Georges Tangará, restaurant­e de Vongericht­en, também aluno de Bocuse, afirma que com ele aprendeu que há de se ter muita experiênci­a e prática para se tornar um verdadeiro chef de cozinha.

“Para ele, cozinhar não era uma afetação, mas uma habilidade” Daniel Boulud

Chef do Daniel, em NY EVAN AGOSTINI “Unia energia, criativida­de, generosida­de, e liderou a grande evolução da cozinha francesa” Alain Ducasse

Chef triestrela­do ERIC GAILLARD “Abriu sua cozinha para milhares de estagiário­s do mundo inteiro em uma época que não se falava em globalizaç­ão” Laurent Suaudeau

Chef e professor JF DIORIO/ESTADÃO “Ajudou os amigos, acreditou nos jovens, sempre com palavras generosas e bem humoradas” Claude Troisgros

Chef ROBERTO SEBA/ESTADÃO

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LAURENT CIPRIANI/AP
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