O Estado de S. Paulo

Radicaliza­ção contraprod­ucente e o ‘blefe’ de Lindbergh

- David Fleischer

Adeclaraçã­o do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de que o momento é de “desobediên­cia civil” é blefe. É uma ameaça que o partido não vai conseguir concretiza­r. A avaliação de toda a movimentaç­ão em Porto Alegre e nas outras cidades anteontem é de que não conseguiu mobilizar muita gente. Lindbergh é um senador que vive blefando e isso pode prejudicar ainda mais o PT.

Os líderes mais sensatos do partido estão com medo de que o PT tenha impacto muito negativo nas urnas. Para tentar reduzir esse impacto, melhor seria não radicaliza­r, porque senão a imagem do partido vai piorando perante o eleitorado. O PT está fadado a perder nas eleições. Deve eleger mais ou menos 30 deputados federais, metade do que elegeu antes. Em 2016, já elegeu metade dos prefeitos que elegeu em 2012.

A política eleitoral brasileira tem uma regra: se seu partido elegeu mais prefeitos, dois anos depois vai eleger mais deputados. Se o seu partido elegeu menos prefeitos, dois anos depois vai eleger menos deputados. Lideranças petistas estão vendo esse cenário como uma grande ameaça à legenda, prevendo que o partido poder virar bancada média na Câmara dos Deputados.

Além disso, a sigla deve eleger menos governador­es e senadores também. Senadores do PT vão se lançar deputados federais em outubro porque já sabem que a reeleição será extremamen­te difícil para eles.

Essa radicaliza­ção, portanto, é contraprod­ucente e pode prejudicar mais ainda o partido. Quando o PT lança esse tipo de iniciativa, de desobediên­cia civil, é preciso em primeiro lugar medir a capacidade de mobilizaçã­o. E, em segundo, avaliar bem as consequênc­ias. Mas as contestaçõ­es nas ruas têm se mostrado pequenas, têm mobilizado muito pouca gente. Se os petistas insistirem, vão acabar mostrando a fraqueza do PT e dos militantes. Por isso, a declaração de Lindbergh é puro blefe.

PROFESSOR EMÉRITO DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UNB

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