Radicalização contraproducente e o ‘blefe’ de Lindbergh
Adeclaração do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de que o momento é de “desobediência civil” é blefe. É uma ameaça que o partido não vai conseguir concretizar. A avaliação de toda a movimentação em Porto Alegre e nas outras cidades anteontem é de que não conseguiu mobilizar muita gente. Lindbergh é um senador que vive blefando e isso pode prejudicar ainda mais o PT.
Os líderes mais sensatos do partido estão com medo de que o PT tenha impacto muito negativo nas urnas. Para tentar reduzir esse impacto, melhor seria não radicalizar, porque senão a imagem do partido vai piorando perante o eleitorado. O PT está fadado a perder nas eleições. Deve eleger mais ou menos 30 deputados federais, metade do que elegeu antes. Em 2016, já elegeu metade dos prefeitos que elegeu em 2012.
A política eleitoral brasileira tem uma regra: se seu partido elegeu mais prefeitos, dois anos depois vai eleger mais deputados. Se o seu partido elegeu menos prefeitos, dois anos depois vai eleger menos deputados. Lideranças petistas estão vendo esse cenário como uma grande ameaça à legenda, prevendo que o partido poder virar bancada média na Câmara dos Deputados.
Além disso, a sigla deve eleger menos governadores e senadores também. Senadores do PT vão se lançar deputados federais em outubro porque já sabem que a reeleição será extremamente difícil para eles.
Essa radicalização, portanto, é contraproducente e pode prejudicar mais ainda o partido. Quando o PT lança esse tipo de iniciativa, de desobediência civil, é preciso em primeiro lugar medir a capacidade de mobilização. E, em segundo, avaliar bem as consequências. Mas as contestações nas ruas têm se mostrado pequenas, têm mobilizado muito pouca gente. Se os petistas insistirem, vão acabar mostrando a fraqueza do PT e dos militantes. Por isso, a declaração de Lindbergh é puro blefe.
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PROFESSOR EMÉRITO DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UNB