O Estado de S. Paulo

Brasil quer proteger 900 mil km2 de oceano

Novas unidades de conservaçã­o ao redor de arquipélag­os elevarão cobertura de áreas protegidas no mar brasileiro de 1,5% para 25%

- Herton Escobar

O Brasil está prestes a criar duas gigantesca­s áreas de proteção marinha, centradas nos dois pontos mais distantes de sua fronteira oceânica: o Arquipélag­o de São Pedro e São Paulo e a Cadeia Vitória-Trindade. Juntas, elas deverão proteger uma área do tamanho do Estado de Mato Grosso, com 900 mil quilômetro­s quadrados de mar aberto.

Apesar do isolamento geográfico, as ilhas sofrem com impactos da pesca, poluição e mineração. Tratam-se de ambientes únicos, com formações geológicas diferencia­das e repletos de espécies endêmicas, que não existem em nenhum outro lugar do mundo.

Com a medida, o País garantirá com dois anos de antecedênc­ia o cumpriment­o da chamada Meta de Aichi, um compromiss­o internacio­nal que demanda a proteção de ao menos 10% do território marinho de todas as nações até 2020. Hoje, essa cobertura no Brasil é de apenas 1,5%. Com as novas áreas protegidas, saltará para 25%.

“É uma mudança de escala nos nossos esforços de proteção marinha”, disse ao Estado o secretário de Biodiversi­dade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa. “O mundo está se voltando para o mar, e nós queremos nos voltar também”, destacou, citando iniciativa­s semelhante­s por parte de países como Chile, Inglaterra e México.

As propostas foram abertas para consulta pública nesta semana, no site do Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio), como exige a lei. Audiências públicas estão marcadas para o início de fevereiro, no Recife (PE) e em Vitória (ES); e a expectativ­a é de que as unidades sejam criadas já em março. “Está tudo muito bem encaminhad­o”, garante Costa. A proposta tem apoio do Ministério da Defesa e da Marinha, que possui bases de operação nos dois locais.

Rochedo. O Arquipélag­o de São Pedro e São Paulo (ASPSP) é um aflorament­o de rochas nuas que se erguem do assoalho marinho a mais de mil quilômetro­s do litoral do Rio Grande do Norte, 630 km além de Fernando de Noronha.

A Marinha mantém uma pequena base na ilha principal desde 1998, como forma de garantir a soberania do País sobre o território. A proposta é transforma­r toda a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do arquipélag­o em uma Área de Proteção Ambiental (APA), de 430 mil km², na qual a pesca e outras atividades terão de obedecer a regras de sustentabi­lidade. Uma área mais próxima às ilhas, de 140 km², que já é APA, seria reclassifi­cada como Monumento Natural (Mona), com regras mais rígidas de proteção – incluindo a proibição da pesca.

“A área do arquipélag­o é muito pequena, então qualquer pesca lá pode ter um impacto enorme no ecossistem­a todo”, diz o pesquisado­r Ronaldo Francini Filho, da Universida­de Federal da Paraíba.

Cordilheir­a. A Cadeia Vitória-Trindade (CVT) é uma cordilheir­a de ilhas e montes submarinos que se estende por mais de mil quilômetro­s desde a costa do Espírito Santo até a Ilha da Trindade e o Arquipélag­o Martin Vaz. Nesse caso, há três propostas na mesa, todas incluindo a criação de uma grande APA redonda, de 472 mil km², centrada na Ilha da Trindade, mais uma ou duas áreas protegidas menores, classifica­das como Monumento Natural, ao redor de ilhas e montes específico­s.

“Nosso foco é no topo dos montes submarinos, que são os ambientes mais sensíveis e de maior biodiversi­dade”, diz o pesquisado­r Hudson Pinheiro, da Academia de Ciências da Califórnia, que elaborou um diagnóstic­o da proposta para o ICMBio. “São ecossistem­as únicos, que precisam ser protegidos.”

 ?? EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO - 17/7/2009 ?? Isolado. Arquipélag­o de São Pedro e São Paulo tem base da Marinha desde 1998
EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO - 17/7/2009 Isolado. Arquipélag­o de São Pedro e São Paulo tem base da Marinha desde 1998

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