O Estado de S. Paulo

Mais da metade das estatais não cumpre lei que coíbe ingerência

Governança. Regras entraram em vigor há um ano e meio, mas 84 das 147 empresas da União não ajustaram até hoje seus estatutos para atender à legislação que impõe critérios técnicos à administra­ção e tenta barrar ingerência política; prazo termina em julho

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Criada para dar um caráter mais técnico à administra­ção de empresas públicas federais, a Lei das Estatais não é cumprida por mais da metade dessas companhias um ano e meio após sua sanção, já no governo Temer. Das 147 estatais da União, 84 não aprovaram as mudanças que tentam barrar ingerência política. O prazo para que elas ajustem o estatuto às novas regras termina em 30 de julho.

Um ano e meio após a sanção da Lei das Estatais – criada para dar um caráter mais técnico às administra­ções de empresas públicas –, mais da metade ainda não cumpre a legislação. O prazo para que elas ajustem seus estatutos às novas regras termina no dia 30 de julho. Das 147 estatais da União, 84 não aprovaram as mudanças que tentam barrar ingerência política. O levantamen­to, obtido pelo ‘Estadão / Broadcast’, foi feito pelo Ministério do Planejamen­to.

A Lei das Estatais foi uma das primeiras sancionada­s pelo presidente Michel Temer, que defendeu a necessidad­e de “sanear” empresas públicas após uma série de escândalos sobre desvios de recursos e ingerência política, embora diversas legendas aliadas do governo, incluindo o próprio partido do presidente (MDB), façam indicações políticas para cargos de alto escalão.

A lei proíbe, por exemplo, indicação de dirigentes políticos e de parlamenta­res (mesmo licenciado­s) a cargos de presidente, diretor e membro de conselho de administra­ção de estatais. Também estabelece regras para o funcioname­nto de comitês e conselhos, com o objetivo de melhorar as práticas dentro das companhias.

Apesar das exigências técnicas, não existe uma regra específica para barrar a indicação de pessoas ligadas a políticos, mas que não sejam parentes ou não tenham relação formal com partidos. “A lei estabelece claramente os critérios positivos e negativos. Se a pessoa entra naqueles critérios, ela é apta a exercer o cargo, independen­temente da indicação política”, diz o secretário de Empresas Estatais do Ministério do Planejamen­to, Fernando Soares.

Segundo ele, a determinaç­ão no governo é buscar pessoas qualificad­as, mas não se pode correr o risco de “demonizar” a política.

O secretário lembrou ainda que o governo é “dono” da estatal e pode fazer indicações, assim como um controlado­r de uma empresa privada.

Das 147 empresas estatais do governo federal, 63 já fizeram as mudanças necessária­s, entre elas BNDES, Petrobrás, Eletrobrás,

Banco do Brasil e, mais recentemen­te, Caixa. O banco estatal se adequou à Lei das Estatais dias depois de ter afastado quatro vice-presidente­s por suspeitas de irregulari­dades (um acabou sendo reconduzid­o). Dos 12 vices da Caixa, apenas um não era indicado de partidos políticos.

Os gestores indicados antes da vigência da lei não precisam ser destituído­s. Mas o secretário garante que os critérios técnicos serão cobrados na renovação dos mandatos, impedindo reconduçõe­s de quem não tem as competênci­as exigidas. “Isso (manutenção do cargo) não é um problema. Pode falar que é um problema político e técnico, mas não é jurídico. Não é nenhuma ilegalidad­e. Ele tem direito a cumprir aquele mandato. Vai renovar? Não”, diz.

Entre as 84 que faltam, estão os Correios. Em grave dificuldad­e financeira e com um histórico de interferên­cia política, a empresa já aprovou internamen­te o novo estatuto e deve apreciálo em assembleia-geral no dia 30 deste mês. A estatal informou que adotou medidas de forma antecipada, entre elas a inclusão dos requisitos e vedações para administra­dores e conselheir­os.

Quem não cumprir o calendário estará sujeito à fiscalizaç­ão dos órgãos controlado­res a partir de 1.º de julho.

“Se a pessoa entra nos critérios (da lei), ela é apta a exercer o cargo, independen­temente da indicação política” Fernando Soares SECRETÁRIO DE EMPRESAS ESTATAIS DO MINISTÉRIO DO PLANEJAMEN­TO

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