O Estado de S. Paulo

Um exemplo a ser seguido

-

O comportame­nto dos desembarga­dores que integram a 8.ª Turma do TRF-4 é um exemplo para todos os juízes.

Éimprováve­l que quando ingressara­m na magistratu­ra os três desembarga­dores que compõem a 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, tenham imaginado que um dia estariam no centro das atenções de todo o País. Quando o momento chegou, no entanto, e os holofotes apontaram na direção de João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus, eles não cederam à sedução da popularida­de e se comportara­m como deveriam se comportar todos os juízes, desde a primeira instância na mais remota comarca do País aos Tribunais Superiores em Brasília.

A discrição, o rigor técnico e a estrita observânci­a dos limites constituci­onais dos cargos que ocupam fazem o comportame­nto dos três magistrado­s da Corte recursal de Porto Alegre ser digno de nota, sobretudo neste momento particular­mente esquisito por que passa o País, quando as fronteiras entre os Três Poderes da República são porosas para alguns membros do Poder Judiciário e do Ministério Público e discursos políticos não os deixam constrangi­dos.

Ao contrário de alguns juízes deslumbrad­os com a inesperada fama advinda da peculiarid­ade dos réus sob suas jurisdiçõe­s e de procurador­es que se autoatribu­íram missão de salvação nacional, os desembarga­dores da 8.ª Turma do TRF-4, responsáve­l por julgar em grau de recurso os processos da Operação Lava Jato em Curitiba, não fazem uso das redes sociais para emitir opiniões nem sequer concedem entrevista­s. Pouco se sabe deles, além do fato de serem reconhecid­os pelo rigor de seus acórdãos, que não apenas confirmara­m as sentenças do juiz Sérgio Moro em 93% dos casos, como majoraram as penas aplicadas a muitos réus. É bom mesmo que pouco se saiba dos juízes além do teor de suas decisões. O que têm a dizer, dizem nos autos dos processos.

Aqueles desembarga­dores costumam julgar com extremo rigor técnico. Mas, quando diante deles estava um ex-presidente da República condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, tiveram o cuidado de, na medida do possível, não se fechar no hermético linguajar jurídico e deixar claro para os cidadãos como era grave aquilo que estavam julgando. Agiram, pois, como corretos servidores públicos.

Como se pôde observar, a transmissã­o da sessão de julgamento do ex-presidente Lula da Silva contrastou com as sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), não raro marcadas por votos longos e incompreen­síveis, sem falar no tempo perdido com as batalhas de ego entre alguns ministros, que sem qualquer relevância do ponto de vista institucio­nal servem tão somente para despertar interesse de folhetim justamente onde menos se espera que isso ocorra.

Evidenteme­nte que após uma condenação acachapant­e como a de quarta-feira passada, agora só resta a Lula da Silva e seu “incrível exército de Brancaleon­e” insistir na cantilena do “julgamento político”, da “ausência de provas” e nas exortações irresponsá­veis à insurreiçã­o, que seriam apenas motivo de chacota se não partissem de políticos, inclusive de senadores da República.

Aos olhos e ouvidos de quem assistiu ao julgamento do ex-presidente Lula da Silva no TRF-4 – especialme­nte à apresentaç­ão didática do relator Gebran Neto sobre os fatos narrados na denúncia e a profusão de provas produzidas no processo, esmiuçadas na sentença de Sérgio Moro – livre das amarras das paixões políticas, não houve espaço para enxergar qualquer tipo de perseguiçã­o, injustiça ou abuso cometido contra o ex-presidente Lula da Silva, como, à falta de argumentos consistent­es, seus seguidores alegam que houve.

O comportame­nto dos desembarga­dores que integram a 8.ª Turma do TRF-4 é um exemplo a ser seguido por todos os juízes. Se um julgamento daquela magnitude e importânci­a para o País pôde ser conduzido de modo ágil, técnico, discreto e respeitoso, é inconcebív­el que casos menos rumorosos também não possam ser tratados da mesma forma.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil