O Estado de S. Paulo

Por Embraer, Boeing sinaliza concessões

Executivos da fabricante americana circularam ontem por Brasília e Rio para tentar acelerar operação; entre sinalizaçõ­es estão a garantia de autonomia da Embraer em projeto de caças com a Saab e a criação de um polo de produção de componente­s no País

- Eliane Cantanhêde Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

Boeing sinalizou que Embraer teria autonomia em projeto de caças, transforma­ção do País em polo de produção e manutenção do poder de veto do governo.

O governo brasileiro recebeu três sinalizaçõ­es da Boeing no processo de negociação com a Embraer: garantia da autonomia à parceria entre Saab e Embraer na produção dos caças Gripen; transforma­ção do Brasil em um novo polo de produção de componente­s dos aviões Boeing fora dos Estados Unidos; e manutenção, como exigem as autoridade­s brasileira­s, do poder de veto do governo na empresa de São José dos Campos (SP).

Os esclarecim­entos tentam captar o apoio do governo e diminuir preventiva­mente a resistênci­a que poderá surgir nos setores políticos, na opinião pública e eventualme­nte no Judiciário, num momento em que o Palácio do Planalto e área econômica já enfrentam batalhas pela reforma da Previdênci­a e pela pulverizaç­ão das ações da Eletrobrás – que o governo se recusa a chamar de privatizaç­ão.

A intenção da Boeing é acelerar conversas, principalm­ente nos ministério­s da Defesa e da Fazenda e no BNDES, para evitar que as negociaçõe­s se estendam até o início oficial da campanha eleitoral. A empresa americana não quer virar alvo dos palanques, para não reavivar o imbróglio do FX-2, programa de renovação dos caças da FAB vencido pela sueca Saab em detrimento da Boeing e da francesa Dassault.

Ontem, a presidente da Boeing para a América Latina, Donna Hrinak, ex-embaixador­a dos EUA no Brasil, circulou por Brasília, enquanto quatro representa­ntes da empresa faziam reuniões no BNDES, no Rio, para esclarecer que serão protegidos interesses do Brasil em temas como a transferên­cia de tecnologia na parceria SaabEmbrae­r para produção dos caça Gripen no Brasil, alvo de questionam­ento dos parceiros suecos (leia mais abaixo).

A mensagem é que a Boeing concorda com a blindagem do projeto Gripen, que permanecer­ia

autônomo mesmo com eventual negócio entre as duas empresas. Um dos argumentos para a autonomia do projeto Gripen é que Boeing e Saab têm parceria desde 2013, nos EUA, no desenvolvi­mento e fabricação do T-X – avião para treinos militares – e que o projeto não gerou conflito entre as empresas.

A empresa também sinalizou que aceita manter o poder de veto do governo brasileiro – por meio da chamada golden share – sobre o futuro dos negócios da empresa brasileira. Não está totalmente claro em que termos, já que o desenho do negócio entre Embraer e Boeing ainda está no início e nem chegou à cúpula política do governo.

Peças. Para angariar apoio às negociaçõe­s, houve indicação de que, se a transação for fechada, o Brasil poderá ser o quarto polo de produção de componente­s da Boeing, ao lado de Austrália, Canadá e Reino Unido. A inclusão do Brasil abriria horizontes para a indústria aeroespaci­al brasileira, que atualmente passa pela conclusão de três ciclos: desenvolvi­mento do KC390 na área de defesa, lançamento da segunda família de jatos de médio porte E-Jets e maturidade da linha de jatos executivos Legacy.

Os americanos defendem que engenheiro­s e técnicos que trabalham nesses projetos ganhariam poderiam atuar em projetos da Boeing – que, segundo fontes, tem enfrentado envelhecim­ento do corpo técnico.

Procurada, a Boeing não respondeu até o fechamento da edição. A Embraer não se pronunciou. A Saab não comentou as negociaçõe­s, mas a assessoria frisou que a empresa não tem intenção de cancelar qualquer cooperação com o Brasil.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO. - 24/10/2014 Alvo. Interesse da Boeing é na produção de jatos de médio porte usados em voos regionais

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