O Estado de S. Paulo

Trump faz sua estreia em Davos

Com banda de música, presidente dos EUA propôs reforma do comércio internacio­nal, acusou países de furtar tecnologia, atacou imprensa e foi vaiado.

- Rolf Kuntz ENVIADO ESPECIAL / DAVOS

O presidente Donald Trump propôs uma reforma do comércio internacio­nal, queixou-se dos concorrent­es, acusou países de furtar tecnologia e de subsidiar indústrias de forma desleal, atribuiu a seu governo a recuperaçã­o da economia americana e, mais uma vez, chamou a imprensa de mentirosa. Com um ano de governo completado uma semana antes, compareceu ao Fórum Econômico Mundial pela primeira vez, acompanhad­o de um grande time de assessores. Como empresário, nunca havia aparecido em Davos.

Duas grandes novidades marcaram a participaç­ão do presidente Trump numa sessão plenária do fórum. A primeira foi a presença, no palco, de uma banda com cerca de 30 músicos uniformiza­dos e com penacho no quepe. Reis, primeiros-ministros e presidente­s discursam em sessões desse tipo, mas sem banda de música. Vaias foram a segunda novidade.

Ao apresentar o convidado, o fundador e chefe do fórum, Klaus Schwab, admitiu a hipótese de as opiniões de Trump serem, às vezes, mal interpreta­das. O público vaiou. Vaias sugiram novamente quando o presidente americano recitou a costumeira acusação à imprensa de produzir fake news – notícias falsas, ou, mais precisamen­te, mentirosas.

Diante de um auditório lotado com 1.500 pessoas, Trump exibiu otimismo, sorriu muito, declarou-se propenso à cooperação internacio­nal, apresentou o cresciment­o de seu país como benéfico para todo o mundo e convidou os empresário­s a investir nos Estados Unidos.

Mencionou o cresciment­o da economia americana “depois de longa estagnação”, citou a redução do desemprego e tentou atribuir as melhoras a seu governo. Foi uma tentativa de produzir uma informação mentirosa. A economia dos EUA havia voltado a crescer alguns anos antes da última eleição presidenci­al. Além disso, a criação de empregos já se havia estendido por cerca de 70 meses quando Trump tomou posse, em janeiro de 2017. A expansão econômica voltou no período do presidente Obama.

Protecioni­smo. Trump negou ser protecioni­sta e, como de costume, acusou outros países de comércio desleal. Não citou nomes, mas suas queixas foram interpreta­das como dirigidas principalm­ente à China. O mais novo conflito comercial dos EUA foi a imposição de barreiras à importação de painéis solares de origem chinesa. Os chineses têm sido acusados também de pirataria tecnológic­a. Mas outras ações protecioni­stas do governo têm atingido vários parceiros.

Os afetados por essas medidas podem recorrer à Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) em defesa de seus interesses. Segundo Trump, no entanto, as normas internacio­nais sob proteção da OMC são inadequada­s e insuficien­tes para a promoção de transações justas.

Trump prometeu aplicar as leis comerciais contra os concorrent­es considerad­os desleais. Presumivel­mente, leis americanas, porque ele defendeu no discurso a reforma da OMC e das normas comerciais, para a promoção do intercâmbi­o justo, mas esse justo é sempre referido a padrões aceitos atualmente na Casa Branca. Por esses padrões, a diplomacia americana tem dificultad­o o funcioname­nto da OMC – por exemplo, emperrando a nomeação de juízes para o órgão de solução de controvérs­ias.

“Estados Unidos em primeiro lugar não quer dizer Estados Unidos sozinhos”, disse Trump, no esforço para mostrar o espírito cooperativ­o de seu governo.

Espera-se de todo governante, disse ele, atenção prioritári­a a seu país, mas essa prioridade é compatível com a cooperação. Não avançou muito, no entanto, no esforço para detalhar como pode ser essa ação combinada entre países. Num raro sinal de concessão, mostrou-se disposto a reaproxima­r o país da Parceria Transpacíf­ico (TPP), acordo abandonado no início de seu governo. Mas o interesse da administra­ção americana continua focado, principalm­ente, nos acordos bilaterais.

O resto do discurso tratou de outros temas de política externa, como o combate ao Estado Islâmico e o esforço combinado para conter a nucleariza­ção da Coreia do Norte. Mencionou rapidament­e a política migratória, para declarar a preferênci­a a imigrantes qualificad­os e capazes de aportar uma contribuiç­ão relevante à economia nacional.

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FABRICE COFFRINI/AFP
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FABRICE COFFRINI/AFP Pompa. Banda e vaias no discurso de Trump (E), introduzid­o por Schwab

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