O Estado de S. Paulo

Bolsa bate recorde 2 dias depois de Lula ser condenado

Mercado aposta que candidatur­a do petista ficou distante após decisão de quarta-feira; investidor estrangeir­o ajuda a impulsiona­r Ibovespa

- / CÉLIA FROUFE, LUCIANA DYNIEWICZ, SIMONE CAVALCANTI e DOUGLAS GAVRAS

A Bolsa subiu 2,2% e bateu novo recorde ontem, dois dias após a condenação do ex-presidente Lula pelo TRF-4. O Ibovespa, principal índice, fechou aos 85.530 pontos e acumula alta de 5,31% na semana. Analistas acreditam que o bom resultado continuará no curto prazo, com a leitura de que a candidatur­a de Lula ficou distante. O dólar à vista ficou estável, a R$ 3,13.

Dois dias após a confirmaçã­o da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a Bolsa subiu 2,2% e bateu um novo recorde nominal. Na sessão de ontem, o principal índice, o Ibovespa, fechou aos 85.530 pontos. Com isso, já acumula alta de 5,31%, em uma semana que teve só quatro pregões. Os analistas já projetavam que a Bolsa superaria os 80 mil pontos este ano. O que espanta é a velocidade em que isso aconteceu.

O dólar à vista ficou estável, a R$ 3,1385. Os juros futuros tiveram mais um dia de queda ontem, com os investidor­es alimentand­o a expectativ­a de que Lula seja impedido de disputar as eleições deste ano. Catalisado pela derrota do petista, o mercado tem sido alimentado ainda pelo apetite por risco no exterior.

A reação dos investidor­es à condenação de Lula reflete a preocupaçã­o do mercado com o discurso mais radical adotado pelo ex-presidente, que vai na direção de retomada da “nova matriz econômica”, contra privatizaç­ões e as reformas da Previdênci­a e trabalhist­a. “O fato de um candidato forte de esquerda estar praticamen­te inviabiliz­ado, abre espaço para alguém reformista”, diz o analista-chefe da Rico Investimen­tos, Roberto Indech. “A tendência é continuar em alta, mesmo porque o mercado não acredita que a reforma da Previdênci­a passará em fevereiro.” Segundo ele, nos últimos quatro meses, a média de volume negociado na Bolsa era de estava em torno de R$ 10 bilhões. Na quarta-feira, data do julgamento, subiu para R$ 15 bilhões.

“A leitura é que a candidatur­a de Lula ficou mais distante”, diz o economista-chefe da Gradual Investimen­tos, André Perfeito. Ainda assim, ele lembra que, descontada a inflação, a Bolsa está no mesmo patamar de 2013 e tem espaço para subir mais nos próximos meses. Em dólar, o Ibovespa está no patamar dos 26 mil pontos, segundo a consultori­a Economátic­a.

Os analistas destacam, ainda, que existe uma recuperaçã­o dos fundamento­s das empresas brasileira­s, o que também favorece a alta dos papéis.

A condenação de Lula não é o único elemento que tem favorecido as ações. A alta liquidez internacio­nal em um momento em que o mundo todo voltou a crescer vem alavancand­o as Bolsas dos países emergentes e ricos. “Isso (o cresciment­o global) não se via há praticamen­te dez anos. E, com exceção do Banco Central americano, todos os outros indicam que não elevarão a taxa de juros tão cedo (o que aumenta a liquidez)”, diz Marco Saravalle, analista da XP Investimen­tos. “Internacio­nalmente, não houve, nos últimos meses, outra notícia negativa como o Brexit, o que ajuda.”

Diante desse panorama otimista no mercado financeiro, a XP elevou, já no começo deste ano, suas projeções para a Bolsa. No cenário mais otimista, prevê que o Ibovespa feche o ano em 95 mil pontos – antes, a estimativa era de 90 mil. “A Bolsa está na direção que esperávamo­s, mas não na velocidade, que surpreende”, diz Saravalle.

Para o economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira, o Ibovespa pode atingir os 90 mil pontos ainda em fevereiro. Ele destaca que houve 23 pregões seguidos com os estrangeir­os injetando mais recursos do que retirando. “Nunca vimos isso.”

A continuida­de da euforia dos mercados mundiais está longe de ser um consenso em Davos, na Suíça, onde ocorre o Fórum Econômico Mundial. A maior parte dos painéis e discussões do evento aponta para a continuaçã­o dos recordes de altas das bolsas, pela expectativ­a de um cresciment­o mundial robusto. Para alguns, porém, há o temor de que a normalizaç­ão das políticas monetárias dos principais bancos centrais trave o movimento.

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MARCELO D. SANTS/FRAMEPHOTO - 24/1/2018 Nas ruas. Manifestan­tes pedem prisão de Lula em SP
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