O Estado de S. Paulo

João Domingos

Medo de fracasso nas eleições está por trás da radicaliza­ção de dirigentes do PT.

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Omedo de um fracasso do PT nas eleições de outubro está por trás da ameaça de radicaliza­ção de dirigentes do partido e das frases ditas por eles nos últimos dias com boa dose de fanfarroni­ce. Gleisi Hoffmann, presidente do partido, afirmou que, para prender Lula, será preciso matar gente; o senador Lindbergh Farias (RJ) disse que não adianta lutar no campo institucio­nal, que a luta tem de ser nas ruas, numa desobediên­cia cidadã e civil; Luiz Marinho, presidente do PT de São Paulo, previu que o partido pode perder o controle sobre as massas, “já que Lula é uma liderança extremamen­te popular e está sendo brutalment­e perseguido”.

Gleisi e Lindbergh têm formação marxista-leninista. Caso os problemas de Lula com a Justiça resultasse­m na revolta das massas e nas condições para a revolução brasileira, já a estariam liderando. Mas não. Preferem insistir no dogma de que Lula é intocável para proferir discursos sectários. Como marxistas-leninistas deveriam se lembrar de que essa ciência política rejeita dogmas e abomina o sectarismo.

Nem o PT nem os defensores de Lula que militam em outros partidos têm condição de reunir uma massa razoável para defender o ex-presidente. Segundo os organizado­res da manifestaç­ão de quarta-feira, em Porto Alegre, no dia do julgamento do recurso de Lula pelo TRF-4, 70 mil pessoas comparecer­am ao ato. É muito pouco. E olha que quem organiza protestos costuma duplicar ou triplicar o número de presentes.

Recordemos os protestos de rua de 2013, que levaram, esses sim, mais de um milhão de pessoas para a Avenida Paulista, para ficar em São Paulo. A reação da presidente cassada Dilma Rousseff foi imediata. Ela convocou os governador­es ao Palácio do Planalto e anunciou cinco eixos de reformas, um deles para combater a corrupção. De fato, em 2 de agosto de 2013, um mês e pouco depois da ocupação das ruas, Dilma sancionou a Lei 12.850/13, também conhecida como “Lei da Delação Premiada”. Essa lei, nem é preciso dizer, hoje é amaldiçoad­a por muita gente de vários partidos políticos, entre eles o PT.

As massas com as quais o PT conta são aquelas de sempre, em torno de movimentos sociais e sindicais bem organizado­s, como o MST e a CUT. Mesmo assim, insuficien­tes para fazer, por exemplo, uma greve geral. As últimas tentativas não deram certo, mesmo as que foram pensadas para combater as reformas trabalhist­a e da Previdênci­a, bem objetivas. A adesão maior foi de funcionári­os públicos, onde está boa parte dos eleitores petistas. E greve geral sem que o transporte público seja paralisado não pode querer ser assim chamada.

Quando os dirigentes petistas demonstram medo de enfrentar uma eleição sem Lula, eles estão cobertos de razão. Uma coisa é o PT com Lula. Outra, é o PT sem Lula. O teto de votos do ex-presidente hoje está entre 30% e 35%, enquanto que o do PT, sozinho, não passa de 20%. O que leva a um dilema: se Lula apoiar um petista para a disputa presidenci­al, esse candidato poderá chegar a 20%, o que pode ser insuficien­te para a passagem ao segundo turno. Mas, se Lula apoiar alguém de outro partido, é provável que ele transfira para ele todos os votos do PT que, somados aos que o candidato teria em seu eleitorado próprio, poderá tornar o segundo turno possível.

Só que essa fórmula pode dar certo para o candidato a presidente. Mas, de forma nenhuma, garantirá a eleição de grandes bancadas petistas para o Senado e para a Câmara. Quem vota em Lula, ou em algum nome que ele defender, não vota necessaria­mente em candidatos a deputado ou a senador do PT.

Insistem no dogma de que Lula é intocável para alimentar discursos sectários

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