João Domingos
Medo de fracasso nas eleições está por trás da radicalização de dirigentes do PT.
Omedo de um fracasso do PT nas eleições de outubro está por trás da ameaça de radicalização de dirigentes do partido e das frases ditas por eles nos últimos dias com boa dose de fanfarronice. Gleisi Hoffmann, presidente do partido, afirmou que, para prender Lula, será preciso matar gente; o senador Lindbergh Farias (RJ) disse que não adianta lutar no campo institucional, que a luta tem de ser nas ruas, numa desobediência cidadã e civil; Luiz Marinho, presidente do PT de São Paulo, previu que o partido pode perder o controle sobre as massas, “já que Lula é uma liderança extremamente popular e está sendo brutalmente perseguido”.
Gleisi e Lindbergh têm formação marxista-leninista. Caso os problemas de Lula com a Justiça resultassem na revolta das massas e nas condições para a revolução brasileira, já a estariam liderando. Mas não. Preferem insistir no dogma de que Lula é intocável para proferir discursos sectários. Como marxistas-leninistas deveriam se lembrar de que essa ciência política rejeita dogmas e abomina o sectarismo.
Nem o PT nem os defensores de Lula que militam em outros partidos têm condição de reunir uma massa razoável para defender o ex-presidente. Segundo os organizadores da manifestação de quarta-feira, em Porto Alegre, no dia do julgamento do recurso de Lula pelo TRF-4, 70 mil pessoas compareceram ao ato. É muito pouco. E olha que quem organiza protestos costuma duplicar ou triplicar o número de presentes.
Recordemos os protestos de rua de 2013, que levaram, esses sim, mais de um milhão de pessoas para a Avenida Paulista, para ficar em São Paulo. A reação da presidente cassada Dilma Rousseff foi imediata. Ela convocou os governadores ao Palácio do Planalto e anunciou cinco eixos de reformas, um deles para combater a corrupção. De fato, em 2 de agosto de 2013, um mês e pouco depois da ocupação das ruas, Dilma sancionou a Lei 12.850/13, também conhecida como “Lei da Delação Premiada”. Essa lei, nem é preciso dizer, hoje é amaldiçoada por muita gente de vários partidos políticos, entre eles o PT.
As massas com as quais o PT conta são aquelas de sempre, em torno de movimentos sociais e sindicais bem organizados, como o MST e a CUT. Mesmo assim, insuficientes para fazer, por exemplo, uma greve geral. As últimas tentativas não deram certo, mesmo as que foram pensadas para combater as reformas trabalhista e da Previdência, bem objetivas. A adesão maior foi de funcionários públicos, onde está boa parte dos eleitores petistas. E greve geral sem que o transporte público seja paralisado não pode querer ser assim chamada.
Quando os dirigentes petistas demonstram medo de enfrentar uma eleição sem Lula, eles estão cobertos de razão. Uma coisa é o PT com Lula. Outra, é o PT sem Lula. O teto de votos do ex-presidente hoje está entre 30% e 35%, enquanto que o do PT, sozinho, não passa de 20%. O que leva a um dilema: se Lula apoiar um petista para a disputa presidencial, esse candidato poderá chegar a 20%, o que pode ser insuficiente para a passagem ao segundo turno. Mas, se Lula apoiar alguém de outro partido, é provável que ele transfira para ele todos os votos do PT que, somados aos que o candidato teria em seu eleitorado próprio, poderá tornar o segundo turno possível.
Só que essa fórmula pode dar certo para o candidato a presidente. Mas, de forma nenhuma, garantirá a eleição de grandes bancadas petistas para o Senado e para a Câmara. Quem vota em Lula, ou em algum nome que ele defender, não vota necessariamente em candidatos a deputado ou a senador do PT.
Insistem no dogma de que Lula é intocável para alimentar discursos sectários