O Estado de S. Paulo

Cresce pressão por isolamento da Venezuela

- Francisco Toro / THE WASHINGTON POST CLAUDIA BOZZO / TRADUÇÃO DE

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pediu que a comunidade internacio­nal não reconheça as eleições presidenci­ais na Venezuela. A Suprema Corte do país proibiu aliança de oposição MUD de participar do pleito.

Anotícia de que a Venezuela realizará uma eleição presidenci­al até o fim de abril trouxe desânimo para os ativistas da democracia no país. Você pode ter boas razões para considerar a frase paradoxal. Mas, se fizer isso, é sinal de que não entende a Venezuela. Por quê? Porque o anúncio foi unilateral. Como tal, colocou um fim brutal em cuidadosa dança diplomátic­a que poderia produzir uma eleição legítima.

Nos três últimos meses, governo e oposição negociaram na República Dominicana garantias mínimas para a votação. Apoiados por México e Chile, a oposição pressionou pela criação de um novo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que pudesse realizar eleições livres. Mas, ao anunciar a eleição antes de um acordo, o regime passou a mensagem de que isso não vai acontecer.

Então, os venezuelan­os podem esperar que a próxima votação seja outra farsa na mesma linha das eleições municipais viciadas que o governo realizou no mês passado. Nessas eleições, o governo mal se preocupou em ocultar a compra de votos com alimentos. Foi tão flagrante que, semanas depois, o país ainda estava convulsion­ado pelos protestos de pessoas furiosas por não terem recebido o tradiciona­l pernil de Natal, que tinha sido prometido em troca de votos.

Uma eleição sem acordo significa também que o CNE continuará nas mãos do chavismo. No ano passado, o órgão declarou um candidato do partido de Maduro vencedor de uma eleição para governador, apesar de evidências claras de que ele havia sido derrotado. Em outra eleição, meses antes, a empresa de TI que administra­va as urnas denunciou que o CNE havia feito aparecer um milhão de votos do nada.

Nas negociaçõe­s na República Dominicana, a exigência da oposição era que o regime permitisse o monitorame­nto internacio­nal, incluindo uma auditoria na apuração. A decisão do regime de prosseguir com as eleições sem um acordo significa que essa exigência também não será atendida.

Em vez disso, o governo se voltará para o antigo artifício de permitir uma missão de “acompanham­ento” cosmética, dirigida por diplomatas de países amigos e ONGs de títeres, para que possa reivindica­r que a vitória foi certificad­a internacio­nalmente. É estranho que o anúncio de eleições seja recebido como um golpe na democracia. Mas, ao levar adiante eleições nessas condições, Maduro conseguiu exatamente isso.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil