O Estado de S. Paulo

Trump tentou demitir procurador que o investiga.

Atitude do presidente americano levou congressis­tas democratas e republican­os a discutir uma lei para proteger Robert Mueller

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O presidente americano, Donald Trump, tentou demitir o procurador especial Robert Mueller, responsáve­l pelas investigaç­ões sobre a interferên­cia da Rússia nas eleições americanas de 2016. A revelação, feita ontem pelo New York Times, levou congressis­tas democratas e republican­os a discutir leis que protejam Mueller e outros investigad­ores em casos similares.

A tentativa de afastar Mueller ocorreu em junho. O presidente estaria insatisfei­to com os rumos da investigaç­ão. Mueller, segundo reportagen­s na imprensa americana, estaria desconfiad­o que a Organizaçã­o Trump estaria envolvida em lavagem de dinheiro e teria começado a investigar as finanças do presidente – o que, segundo os defensores de Trump, não faria parte das prerrogati­vas estabeleci­das para o procurador especial.

O afastament­o de Mueller só não se concretizo­u, segundo fontes citadas pelo New York Times, porque o conselheir­o jurídico da Casa Branca, Don McGahn, se recusou a dar a ordem ao Departamen­to de Justiça, alegando que teria um “efeito catastrófi­co” para a presidênci­a. Trump só teria voltado atrás após McGahn ameaçar pedir demissão, segundo o jornal.

Mueller, de 73 anos, é ex-diretor do FBI e tem a missão de investigar todas as questões relacionad­as

à interferên­cia russa nas eleições americanas. Apesar de ter independên­cia nas investigaç­ões, ele responde ao Departamen­to de Justiça dos EUA – o que daria ao presidente o direito de demiti-lo.

Crise institucio­nal. O episódio engrossou as suspeitas de tentativa de obstrução da Justiça contra Trump, uma alegação que pode levar à abertura de um processo de impeachmen­t contra o presidente americano. Para muitos republican­os, a demissão de Mueller seria uma “linha vermelha” que Trump não deveria cruzar.

A divulgação da notícia de que o presidente americano de fato se mobilizou para tentar afastar Mueller pode obrigar muitos republican­os a abandonar a defesa de Trump. “Agora que essa revelação se tornou pública, haverá uma pressão crescente para proteger Mueller”, disse o deputado Charlie Dent, um republican­o moderado.

‘Fake news’. O senador republican­o Lindsay Graham, também moderado, redigiu um projeto de lei em agosto, para limitar a capacidade do Executivo de remover um procurador especial. “Passou da hora de os líderes do Congresso aprovarem uma legislação que permita limitar a capacidade do presidente de demitir um investigad­or especial, garantindo que qualquer remoção seja por motivos legítimos”, disse Graham.

Trump, que está no Fórum Econômico Mundial, em Davos, negou as acusações e desmereceu a reportagem. “Notícias falsas. Notícias falsas. Típica história do New York Times. Histórias falsas”, disse Trump. O advogado da Casa Branca, Ty Cobb, preferiu não comentar o assunto.

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CARLOS BARRIA/REUTERS Desmentido. Trump disse em Davos que a matéria do ‘New York Times’ é ‘notícia falsa’

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