Após exclusão de coalizão opositora, cresce pressão para isolar Venezuela
Contra-ataque. Governos de EUA, Colômbia, Argentina e França ameaçam não reconhecer os resultados da eleição antecipada para abril e criticam a decisão de tribunal venezuelano de impedir a candidatura presidencial da Mesa de Unidade Democrática
A exclusão da Mesa da Unidade Democrática (MUD) da eleição presidencial de abril, determinada na noite de quinta-feira pelo Tribunal Superior de Justiça (TSJ) da Venezuela, dominado pelo chavismo, aumentou ontem a pressão internacional sobre o regime do presidente Nicolás Maduro. A comunidade internacional ameaça não reconhecer os resultados da votação.
Ontem, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pediu em Viena que os resultados não sejam reconhecidos caso algumas garantias democráticas não sejam atendidas pelo governo venezuelano. “A decisão de convocar eleições sem dar garantias para que sejam consideradas transparentes, sem que a oposição possa participar com as regras do jogo aceitáveis, é uma decisão que tem de ser repudiada pela comunidade internacional”, disse o presidente colombiano.
O Grupo de Lima – que reúne 14 países da região, entre eles, o Brasil – rejeitou na terça-feira a antecipação da eleição venezuelana, alegando que a medida impossibilita a realização de um processo democrático, transparente e confiável.
“Infelizmente, a Venezuela se converteu em uma ditadura. A Venezuela está sofrendo uma crise que ninguém imaginava que um país tão rico pudesse sofrer. Se não houver eleições transparentes, se não houver garantias, o Grupo de Lima continuará com a posição de não reconhecer nenhum procedimento que não tenha suficiente legitimidade”, afirmou Santos.
Os Estados Unidos também criticaram a antecipação das eleições presidenciais venezuelanas. Diplomatas próximos do secretário de Estado, Rex Tillerson, disseram ontem à agência Reuters que Washington não reconhecerá o resultado e novas sanções contra o país estão sendo analisadas.
“O que está acontecendo na Venezuela é uma completa quebra da ordem democrática e constitucional”, afirmou um diplomata, que pediu para não ser identificado. “Essas eleições serão ilegítimas e os resultados não serão reconhecidos.”
Viagem. Ontem, o Departamento de Estado confirmou que Tillerson fará uma viagem de seis dias à América Latina na semana que vem. A crise venezuelana estará no topo da agenda do secretário de Estado, que vai passar por México, Argentina, Peru e Colômbia.
Quem também se juntou ao coro contra Maduro foi o presidente da França, Emmanuel Macron, que pediu mais sanções da União Europeia (UE) à Venezuela. “Assistimos a uma nova guinada do autoritarismo. As coisas vão numa direção ruim e as últimas decisões pioram a situação. Sou favorável a aumentar as sanções em coordenação com nossos sócios na UE”, disse Macron, em Paris, após encontro com o presidente argentino, Mauricio Macri. “Há muito tempo a Venezuela deixou de ser uma democracia”, disse Macri.
Na segunda-feira, a UE sancionou sete funcionários de alto escalão do governo venezuelano considerados responsáveis pela repressão no país, entre eles o número 2 do chavismo, Diosdado Cabello. Em agosto, os EUA também adotaram sanções contra a Venezuela, dificultando a negociação de créditos e de títulos do governo venezuelano e da estatal petrolífera PDVSA.
Reações. A oposição venezuelana pediu ontem a seus partidários que compareçam neste fim de semana para reinscrição de dois dos maiores partidos da MUD – que foi proibida de lançar candidatos por ser uma coalizão, não uma legenda autônoma.
Diante da proibição, os partidos Primeiro Justiça e Ação Democrática, que tinham sido inabilitados por boicotar as eleições municipais de dezembro, chamaram seus correligionários para registrar as legendas para as eleições presidenciais antecipadas – e têm entre hoje e amanhã para recolher as assinaturas necessárias.
O opositor Antonio Ledezma – ex-prefeito de Caracas que fugiu para a Espanha – pediu ontem que Maduro seja excluído da Cúpula das Américas, que será realizada em abril no Peru. Ledezma também pediu que os países da América Latina adotem sanções contra a Venezuela. “Não se trata de mensagens de compaixão. Trata-se de solidariedade efetiva. Vou pedir ao presidente (do Peru, Pedro Pablo) Kuczynski que a América Latina aplique sanções”, afirmou o opositor em entrevista a uma rádio peruana.