O Estado de S. Paulo

Fábrica de fertilizan­tes

MP veta desmonte de unidade da Petrobrás em MG

- Fernanda Nunes / RIO

A Petrobrás leiloaria nesta semana os equipament­os que restaram da fábrica de amônia parcialmen­te construída em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Mas, diante da pressão local, foi obrigada a suspender o desmonte da usina. Para o Ministério Público Federal (MPF), o abandono do projeto com a venda isolada dos equipament­os é um “dano ao erário”. Por isso recomendou a suspensão do leilão.

Os equipament­os que vão ser licitados estão avaliados em R$ 19 milhões, valor muito aquém dos R$ 650 milhões gastos pela companhia para levantar 35% da fábrica e também da perda contábil de R$ 585 milhões admitida pela estatal em demonstraç­ão contábil.

A fábrica de amônia fazia parte do Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC), junto de outras unidades de fertilizan­tes que estavam sendo construída­s pela estatal para atender à crescente demanda do setor agropecuár­io e reduzir a dependênci­a externa do País. O projeto, no entanto, foi abandonado após a crise financeira da Petrobrás, que passou a concentrar o investimen­to em seu negócio principal – petróleo e derivados.

Esse não foi o único projeto suspenso pela empresa. Outros, citados na Operação Lava Jato, consumiram bilhões, mas nunca avançaram muito além da terraplena­gem e, em seguida, foram retirados do radar de investimen­to.

O caso mais famoso é o do Complexo Petroquími­co do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), que seria instalado em Itaboraí (RJ) para transforma­r em derivados nobres o petróleo do pré-sal. Hoje, o terreno está inutilizad­o e a Petrobrás ainda busca sócios para dar continuida­de ao projeto. A perda contabiliz­ada no resultado financeiro de 2014 é de R$ 21,8 bilhões.

Em Pernambuco, outro episódio de superfatur­amento e obra suspensa envolveu a segunda fase da Refinaria Abreu e Lima. A perda foi de R$ 9,1 bilhões. Duas outras refinarias do tipo premium estavam planejadas para o Nordeste, mas tiveram o projeto suspenso por falta de caixa.

Consórcio. A obra da fábrica de amônia de Uberaba chegou a ser contratada ao consórcio Toyo Setal Fertilizan­tes por R$ 2,1 bilhões, mas, concluído um terço do trabalho, foi suspensa. Desde então, o terreno e os equipament­os estão abandonado­s.

Na tentativa de reduzir as perdas, a Petrobrás aproveitou parte das máquinas em suas próprias unidades. A outra parte – tanques de armazename­nto, tubos e estruturas metálicas prediais – quer leiloar separadame­nte, no site que mantém para vender equipament­os. Isso, porém, seria contrário aos interesses locais.

“O MPF realizou reunião com representa­ntes da Petrobrás no dia 18 de janeiro, na qual a empresa informou as medidas que vem adotando para minorar os prejuízos gerados pelo cancelamen­to do projeto”, informou a assessoria de imprensa do Ministério Público. Disse ainda que decidirá até a próxima semana se mantém ou não a recomendaç­ão de suspensão do leilão.

Autor da recomendaç­ão, o procurador da República Thales Messias Pires Cardoso sustentou, no documento enviado à empresa, que a desistênci­a do projeto é um dano ao erário. Segundo ele, sem um substituto para a estatal, que poderia ficar com todas as máquinas e o terreno, a perspectiv­a é de que a área fique abandonada.

“Além do investimen­to feito pela Petrobrás, o município de Uberaba e o Estado de Minas Gerais também tiveram dispêndios, pois doaram uma extensa área para a construção da fábrica, concederam incentivos fiscais, forneceram serviços de terraplena­gem e fizeram o licenciame­nto ambiental do projeto”, informou o MPF.

O prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB), disse que a usina é essencial para viabilizar a chegada do gás natural, como insumo, à região. Com isso, espera atrair outras empresas investidor­as, que gerariam emprego no Triângulo Mineiro.

Procurada, a Petrobrás informou que o leilão dos equipament­os foi adiado para o período de 20 a 22 de fevereiro para que implemente melhorias no seu portal de leilões. A empresa disse também que o preço mínimo de cada equipament­o é uma informação confidenci­al.

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PREFEITURA DE UBERABA Fase inicial. MP quer encontrar novo parceiro disposto a assumir o projeto em Uberaba

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