O Estado de S. Paulo

O fim da ficção econômica

- ADRIANO PIRES

No final de 2016 a Petrobrás acabou com a ficção econômica e inaugurou a política de preços dos combustíve­is baseada nas tendências do mercado internacio­nal. Era o fim de um longo ciclo em que essa política foi dedicada a atender aos interesses populistas do governo do PT. Do seu início até os dias atuais a nova política de preços passou por duas fases. Na primeira, iniciada em outubro de 2016, os ajustes acumularam reduções por causa do movimento de queda do preço do barril de petróleo. Esse cenário incentivou a Petrobrás a estabelece­r prêmios elevados e reajustes mensais tendo como um dos objetivos recompor seu caixa, que foi dilapidado no governo do PT com a política de subsídios à gasolina e ao diesel. Esse prêmio elevado criou, promoveu e incentivou um cresciment­o significat­ivo das importaçõe­s de gasolina e diesel por outros agentes do mercado. Finalmente o mercado de combustíve­is no Brasil passou a conviver com a liberdade de preços de fato, rompendo de forma clara com a gestão do governo do PT que deixou um buraco no caixa da empresa de US$ 40 bilhões de dólares, culminando na maior crise financeira da história da Petrobrás.

Em junho de 2017, a Petrobrás aprimorou a sua política de preços, aumentando a frequência dos ajustes dos preços da gasolina e do diesel, transforma­ndo-os em quase que diários. A explicação é que os reajustes mensais não haviam sido suficiente­s para acompanhar a volatilida­de crescente da taxa de câmbio e das cotações de petróleo e derivados no mercado internacio­nal. Com reajustes quase que diários, os preços nas refinarias da Petrobrás passaram a ficar mais próximos dos praticados no mercado internacio­nal. A redução do intervalo de reajustes mostrou maior alinhament­o da empresa com as políticas adotadas em países em que o mercado funciona, como é o caso dos Estados Unidos e Europa. Além disso, vai exigir por parte dos importador­es um grau de profission­alismo e competênci­a maior que na primeira fase da política de preços. Isso porque com os reajustes diários o risco de importação aumenta em função dos prêmios terem sido reduzidos. As importaçõe­s vão continuar até porque não vemos no horizonte investimen­tos grandes em refino no País. Haverá uma certa seleção natural em que só os bons conhecedor­es de trading de combustíve­is permanecer­ão no mercado.

Toda essa mudança baseada em regras de mercado só trouxe benefícios para a Petrobrás, importador­es, distribuid­oras, postos de revenda e consumidor­es. Entretanto, essa nova precificaç­ão dos combustíve­is nas refinarias da Petrobrás vem causando certo desconfort­o e insatisfaç­ão daqueles que estão com saudades e, portanto, querem de volta a velha Petrobrás, que era obrigada a pagar a conta dos aumentos do petróleo. O fato é que vícios antigos custam a passar. As estratégia­s do segmento downstream precisam se adaptar aos novos tempos, sendo necessário que todos os membros da cadeia tenham ciência e responsabi­lidade no gerenciame­nto dos seus negócios, seus preços e competitiv­idade, sem culpar os demais por eventualid­ades. A revenda, por

O fato é que a política de preços adotada pela Petrobrás vem cumprindo o seu papel

exemplo, que lida com o consumidor final, pode e deve adaptar seus negócios para garantir ganhos, pela adição de serviços nos postos e investimen­to em tecnologia destinada a ganho de produtivid­ade. Afinal de contas, a busca de competitiv­idade no mercado livre exige soluções próprias.

O fato é que a política de preços adotada pela Petrobrás vem cumprindo o seu papel. As práticas e regras de mercado contribuir­ão para reduzir os riscos de variações extemporân­eas nos preços futuros de combustíve­is e trazer estabilida­de ao setor. Não podemos permitir que o Brasil volte a viver um conto baseado numa ficção econômica. Precisamos sim avançar, por exemplo, discutindo uma nova política tributária para o setor de combustíve­is, talvez instituind­o um imposto único, ao invés dos atuais PIS/Cofins e os ICMS estaduais, que nos parece não estarem em sintonia com os novos tempos. DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRU­TURA (CBIE)

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