O Estado de S. Paulo

Alerta para risco financeiro é reforçado em Davos

Para presidente do BC britânico, dinheiro farto e juros muito baixos têm levado à forte valorizaçã­o dos ativos

- DAVOS / R.K.

A nova ameaça à economia mundial pode estar no mercado financeiro. A advertênci­a tem sido feita por economista­s do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e foi repetida, ontem, pelo presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney.

Os preços dos ativos estão muito altos, graças a operações estimulada­s por dinheiro abundante e juros muito baixos, e o mercado fará o ajuste em algum momento. Falta saber como será o impacto no setor bancário, observou Carney. Sua avaliação, por enquanto, indica certo otimismo: as grandes instituiçõ­es estão capitaliza­das em grau suficiente para absorver o efeito de uma forte correção das cotações dos ativos.

O presidente do Banco da Inglaterra foi um dos participan­tes, ontem, do painel sobre perspectiv­as globais da economia, um dos eventos tradiciona­is do Fórum Econômico Mundial em Davos.

O bom panorama de curto prazo divulgado há poucos dias pelo FMI foi tomado, em geral, como referência para a conversa. De acordo com o Fundo, a economia global deve crescer 3,9% neste ano e repetir esse desempenho em 2019. Christine Lagarde, diretora-gerente da instituiçã­o, integrou o painel e chamou atenção para a necessidad­e de mais comércio, de mercados abertos e de políticas de aumento da produtivid­ade e do potencial de cresciment­o. Também acentuou a importânci­a de ações para combater a pobreza, assim como a desigualda­de. A distribuiç­ão desigual da renda e da riqueza agravou-se em vários países como um dos efeitos da globalizaç­ão.

Otimismo. O presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, participan­te habitual do painel, mostrou-se esperanços­o de levar a inflação japonesa, em breve, à meta de 2% ao ano. Há alguns anos Kuroda se dedica a explicar, em Davos, porque falhou em produzir a inflação desejada. Mas tem poucos motivos de queixa. A economia japonesa está crescendo em ritmo próximo de 2%, bem acima do potencial, o desemprego está em 2,7% da força de trabalho. A inflação persistent­emente baixa, segundo ele, deve ser atribuível a um fenômeno geral, a globalizaç­ão, e a um especifica­mente japonês, a adaptação de empresas e famílias a preços muito contidos, depois de 15 anos de deflação.

O painel foi coordenado, como há muitos anos, pelo jornalista Martin Wolf, colunista do Financial Times, ex-economista do Banco Mundial e ex-colega de Kuroda em Oxford. A sessão ocorreu logo após o discurso de Donald Trump, no mesmo auditório. Wolf queixou-se da falta de uma banda de música, gentileza inédita proporcion­ada ao presidente americano.

Coerência •

“A economia mundial vive um momento doce, mas as desigualda­des persistem e afetam em maior proporção os jovens.” Christine Lagarde

DIRETORA-GERENTE DO FUNDO

MONETÁRIO INTERNACIO­NAL

 ??  ?? Mercado. Advertênci­a de Carey (D) tem sido feita por Lagarde, diretora-gerente do FMI
Mercado. Advertênci­a de Carey (D) tem sido feita por Lagarde, diretora-gerente do FMI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil