O Estado de S. Paulo

Caixa corta crédito sem aval da União

Empréstimo­s para Estados e municípios sem garantia do Tesouro Nacional são mais arriscados para o banco e entraram na mira do TCU

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Depois que os financiame­ntos a Estados e municípios entraram na mira do Tribunal de Contas da União (TCU), a Caixa Econômica decidiu suspender temporaria­mente a concessão de créditos destinada a governador­es e prefeitos sem garantia da União, operação que é mais arriscada para o banco estatal.

Precisando de reforço de capital para continuar emprestand­o neste ano sem descumprir regras bancárias internacio­nais, o banco não informou por quanto tempo as operações estarão suspensas. Em comunicado sucinto, divulgado ontem, a Caixa informou que a concessão de crédito com garantias da União e para companhias de saneamento permanece inalterada. Essa concessão está restrita aos limites impostos pelo Conselho Monetário Nacional, órgão que reúne os Ministério­s da Fazenda, do Planejamen­to e o Banco Central.

O Estado apurou que, além de interrompe­r novos financiame­ntos, o banco foi obrigado a repassar os dados de todas as operações feitas a Estados e municípios, incluindo as que estão em análise, ao conselho de administra­ção presidido pela secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi. Levantamen­to feito pelo Estadão/Broadcast há duas semanas mostrou que, desde outubro, os bancos oficiais tiveram sinal verde para financiar ao todo R$ 5 bilhões a governador­es e prefeitos em contrataçõ­es com e sem aval da União.

Depois da publicação da reportagem, a Caixa informou que, em 2017, emprestou R$ 3,4 bilhões para prefeitos e governador­es, a maior parte sem

aval da União. Segundo o banco, todo o crédito de R$ 1,3 bilhão a municípios não tinha garantia da União. Aos Estados, a Caixa informou que concedeu R$ 2,12 bilhões para Piauí, Pernambuco, Pará e Goiás e que duas dessas operações (não informou quais) não tinha aval do Tesouro.

Auditoria. O TCU vai abrir auditoria para avaliar as condições das operações de empréstimo­s dos bancos oficiais aos governos regionais.

Quando há garantia, a União fica responsáve­l por honrar o pagamento com o banco em caso de inadimplên­cia do Estado ou município. Depois, o Tesouro busca recuperar os valores para cobrir o prejuízo. Já no caso das operações sem garantia, o banco e o Estado ou município negociam diretament­e as garantias envolvidas. Essa operação é mais arriscada porque geralmente são dadas como garantias receitas futuras de impostos – que podem não se concretiza­r.

O tema tem sido discutido por diferentes áreas na Corte de contas. Com o diagnóstic­o em mãos, os técnicos podem fazer recomendaç­ões para resguardar os bancos e minimizar os riscos para a União.

A concessão desses empréstimo­s se transformo­u em arma política depois que o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, admitiu que o dinheiro seria usado como moeda de troca pelo apoio de governador­es e prefeitos à reforma da Previdênci­a. A pasta é a principal responsáve­l pela articulaçã­o dos interesses do Planalto e de parlamenta­res.

A Caixa vinha ganhando espaço na concessão dos empréstimo­s, ocupando o papel que no passado foi do Banco Nacional do Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES). O banco de fomento chegou a lançar, no governo Dilma, linha de crédito com taxas mais baixas para bombar o crédito para os Estados. Foram R$ 20 bilhões para irrigar os cofres dos governador­es, sendo que parte do dinheiro acabou bancando o aumento nas despesas com pessoal, em vez de ir para investimen­tos.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 22/7/2015 Investigaç­ão. Tribunal de Contas vai abrir auditoria para analisar financiame­nto de bancos públicos a governos regionais

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