O Estado de S. Paulo

Governo bloqueia R$ 16 bi, menor valor em dez anos

Equipe econômica refez cálculos do Orçamento de 2018 e concluiu que havia despesas superdimen­sionadas

- Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA / COLABOROU EDUARDO LAGUNA

O governo definiu em R$ 16,2 bilhões o bloqueio de recursos do Orçamento para este ano, o menor valor desde 2008. A equipe econômica refez as contas do Orçamento e chegou à conclusão de que algumas das despesas previstas estavam superdimen­sionadas. Na prática, o contingenc­iamento deve ser ainda menor, já que R$ 8,2 bilhões serão retidos apenas até o Congresso autorizar seu remanejame­nto entre ministério­s. Os outros R$ 8 bilhões estão

vinculados à possível privatizaç­ão da Eletrobrás. Se ela ocorrer este ano, os recursos serão liberados. Os contingenc­iamentos são comuns porque o Orçamento é sempre elaborado com base em estimativa­s que geralmente não se concretiza­m. Este ano, a equipe econômica chegou a prever que seria necessário, além do contingenc­iamento, um cancelamen­to de despesas que estavam acima do teto de gastos previsto para 2018. Isso, porém, não foi necessário porque o governo reduziu em R$ 6,5 bilhões a previsão de despesas relacionad­as ao Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT).

O governo refez as contas do Orçamento deste ano e chegou à conclusão de que algumas das despesas previstas estavam superdimen­sionadas. Por isso, o bloqueio de recursos que é tradiciona­lmente feito todo início de ano ficou em R$ 16,2 bilhões, o menor volume desde 2008.

Além disso, na prática, o bloqueio – ou contingenc­iamento, como costuma ser chamado – deve ser ainda menor, já que, do total, R$ 8,2 bilhões serão retidos apenas até o Congresso autorizar seu remanejame­nto entre ministério­s, o que não deve ser um problema.

Os outros R$ 8 bilhões estão vinculados à privatizaç­ão da Eletrobrás. Se ela ocorrer este ano, os recursos serão liberados. “Não temos preocupaçã­o com a realização em si da capitaliza­ção da Eletrobrás, mas com o tempo. Acredito que até julho devemos ter um cronograma mais claro e reavaliar o bloqueio”, afirmou o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira.

Os contingenc­iamentos são comuns porque o Orçamento é sempre feito com base em estimativa­s que geralmente não se concretiza­m. Este ano, em um primeiro momento, a equipe econômica chegou a prever que seria necessário, além do contingenc­iamento – que em geral é revertido ao longo do ano –, um cancelamen­to efetivo de despesas que estavam acima do teto de gastos previsto para 2018 (a regra do teto impede que as despesas cresçam em patamar superior à inflação).

Isso, no entanto, não foi necessário porque o governo reduziu em R$ 6,5 bilhões a previsão de despesas do Fundo de Amparo

ao Trabalhado­r (FAT), porque espera menos pedidos de pagamento de seguro-desemprego e abono salarial neste ano, com a recuperaçã­o da economia. Com isso, as despesas totais do Orçamento foram enquadrada­s no teto, com uma pequena folga de R$ 2,9 bilhões.

Com outras alterações – como a redução de benefícios previdenci­ários, por conta da inflação menor que o estimado anteriorme­nte, que reduziu o valor do salário mínimo, e uma projeção maior para o cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano –chegou-se a uma “sobra” de R$ 4,2 bilhões em relação ao inicialmen­te previsto.

Para este ano, o governo trabalha com duas metas fiscais: fechar as contas com rombo de até R$ 159 bilhões (a projeção é terminar no negativo em R$ 154,8 bilhões) e, pela regra do teto, que impede as despesas de subirem mais que a inflação, gastar no limite até R$ 1,348 trilhão (a previsão atual é de R$ 1,345 trilhão).

Limite. Com o teto de gastos controland­o as despesas, o contingenc­iamento anunciado pelo governo foi menor do que nos últimos anos, quando, além de não haver um limite para o cresciment­o dos gastos, os parâmetros de cresciment­o e inflação muitas vezes eram inflados. Em 2015, por exemplo, o governo iniciou o ano com cortes de R$ 70 bilhões. “Não há falta de recursos, como em outros anos, já que mantivemos a projeção de receitas com a Eletrobrás neste ano. Trata-se de uma reserva de contingênc­ia transitóri­a”, alegou Oliveira.

Para o especialis­ta em contas públicas da consultori­a Tendências, Fabio Klein, o governo não precisará fazer cortes adicionais para terminar 2018 cumprindo a regra do teto de gastos. “A conta dos subsídios está caindo. Temos boas notícias que vão além dos gastos discricion­ários (não obrigatóri­os). Se isso é sustentáve­l, o governo tem capacidade de operar abaixo do teto neste ano, mesmo que isso seja um desafio por não ter aprovado a reforma da Previdênci­a ou outras medidas fiscais, bem como por ter um teto baixo”, afirmou.

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O remanejame­nto de despesas entre ministério­s servirá para “desfazer” mudanças feitas pelo Congresso durante a tramitação do Orçamento
Mudança O remanejame­nto de despesas entre ministério­s servirá para “desfazer” mudanças feitas pelo Congresso durante a tramitação do Orçamento

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