O pai e o monstro
‘Só quero cinco minutos em um quarto com esse demônio’, pediu Randall Margraves, antes de ir para cima de Larry Nassar
Randall Margraves (à esq.) é contido ao tentar agredir Larry Nassar (embaixo, à dir.), ex-médico da seleção de ginástica dos EUA acusado de ter abusado sexualmente de pelo menos 256 jovens em quase 30 anos. Duas das três filhas de Margraves depuseram ontem. “Me conceda cinco minutos em uma sala trancada com este demônio”, pediu o pai à juíza, que negou.
A dor de ouvir os depoimentos de duas das suas três filhas abusadas sexualmente por Larry Nassar, ex-médico da seleção de ginástica dos Estados Unidos, foi demais para Randall Margraves – ele tentou atacar e agredir o réu durante a terceira audiência, ontem, em um tribunal no estado de Michigan, nos Estados Unidos, mas acabou contido por policiais que faziam a segurança do local.
Nassar cometeu abusos sexuais em mais de 256 jovens e adolescentes durante quase 30 anos. Nos últimos dias, algumas dessas mulheres prestaram depoimento e relataram como esses abusos ocorreram. O médico já foi condenado em processo anterior a 175 anos de prisão, com um mínimo de 40, mas já cumpria 60 anos de sentença por posse de pornografia infantil em seu computador.
Ontem foi a vez de duas filhas de Randall Margraves contarem suas versões dos abusos. O pai das atletas esperou os depoimentos para então pedir a palavra à juíza Janice Cunningham. “Gostaria de pedir-lhe, como parte da sentença, que me conceda cinco minutos em uma sala trancada, apenas eu e este demônio.” A magistrada sacudiu a cabeça negativamente, mas ele insistiu. “Então apenas um minuto, só eu e ele.” Com a nova negativa, o pai pulou das tribunas e partiu para cima do médico. Foi contido por três policiais.
Ao ser jogado no chão, Margraves repetia, aos gritos, “apenas um minuto”, e questionava os agentes de segurança – “e se isso acontecesse com as filhas de vocês, o que fariam?”
O pai das três ginastas foi levado para uma sala ao lado do tribunal, onde chorou muito e desculpou-se com os policiais. Depois, voltou ao local, pediu a palavra mais uma vez e desculpou-se por seu comportamento. A juíza Cunningham aceitou o pedido de desculpas, reiterou que “de nenhuma maneira” iria puni-lo pelo ocorrido e acrescentou que entendia a frustração de Margraves, mas que ele “não poderia resolver as coisas daquela maneira”.
A juíza ainda afirmou que não conseguia “imaginar o tamanho da dor” do pai das ginastas, mas repetiu o pedido para mais ninguém tentar usar de “violência física” como meio de punir o médico condenado. “A senhora está certa. Perdi o controle. Peço cem vezes desculpas a todos”, finalizou Margraves.
A principal promotora de acusação, Angela Povilaitis, também pediu a palavra após a confusão. “Peço às famílias que usem suas palavras. Não podemos nos comportar assim. Eu entendo que essa situação é particularmente traumática e especial, mas não podemos fazer isso. Não vai ajudar suas filhas agindo assim, senhor Margraves. Ninguém conseguirá ajudar os filhos agindo assim, não conseguiremos ajudar nossa comunidade”, pediu Povilaitis.
O caso. A audiência desta semana se concentra na conduta de Nassar durante sua passagem pelo clube de ginástica Twistairs, em Michigan. Mais de 30 vítimas deram declarações até ontem – na audiência que terminou semana passada, mais de 150 meninas e mulheres afirmaram que foram abusadas pelo réu sob o pretexto de tratamento médico.
Larry Nassar, 54 anos, só poderá pedir liberdade condicional em 99 anos – descontando o período que já está preso. Simone Biles, medalhista de ouro na Rio-2016 e maior nome da ginástica na atualidade dos EUA, revelou recentemente que foi uma das abusadas por Nassar.