O Estado de S. Paulo

Boeing e Embraer negociam empresa

Indústria. Ideia de formar uma terceira companhia, dedicada apenas à aviação comercial, atenderia ao desejo do governo de proteger estratégia nacional de defesa. Ao mesmo tempo, contemplar­ia principal interesse da americana na Embraer: os jatos para voos

- Tânia Monteiro / BRASÍLIA

A Boeing propôs ao governo a criação de uma terceira empresa para unir as operações de aviação comercial com a Embraer. O negócio de defesa da fabricante nacional, considerad­o estratégic­o, ficaria de fora do acordo.

A Boeing apresentou ontem ao governo brasileiro a proposta de criar uma terceira empresa para unir as operações de aviação comercial com a Embraer, segundo fontes de mercado. O negócio de defesa da Embraer, segmento que o Brasil considera estratégic­o, ficaria de fora dessa estrutura. A expectativ­a de que isso poderia facilitar o fechamento do negócio entre a fabricante nacional e a gigante americana fez os papéis da Embraer dispararem ontem na Bolsa paulista.

A intenção de criar uma terceira empresa foi apresentad­a a autoridade­s federais, mas ainda não houve decisão sobre a proposta, disseram fontes. A discussão foi antecipada jornal O Globo. Com a notícia, porém, a ação ordinária ON da fabricante brasileira registrou a maior alta de ontem da B3, de 4,41%, fechando a R$ 22,72. O resultado foi obtido mesmo em um dia negativo para o principal índice da Bolsa paulista, o Ibovespa, que fechou em baixa de 1,7%.

A criação de uma empresa voltada apenas à aviação comercial contemplar­ia o principal interesse da americana na Embraer – os jatos de médio porte para voos regionais. O movimento da americana seria uma resposta à franco-alemã Airbus, que anunciou a compra de uma fatia majoritári­a do projeto C-Series, da canadense Bombardier, que concorre diretament­e com os E-Jets, da Embraer.

Com a nova proposta, o comitê criado pelo governo para avaliar o negócio vai decidir se os interesses de defesa do Brasil estarão protegidos. A primeira avaliação, porém, parece positiva. Uma das pessoas que acompanham o tema disse que, para o governo, o mais importante é excluir a área militar do acordo.

Essa decisão é decorrente do receio que futuras decisões estratégic­as para a área de defesa da Embraer tenham de passar pelo crivo dos Estados Unidos. Esse é o risco de a Boeing eventualme­nte participar do controle de toda a Embraer.

Uma das fontes ouvidas pelo Estado aponta que o governo brasileiro avalia apenas questões protegidas pela chamada golden share – ação que dá ao Planalto poder de veto a decisões estratégic­as da empresa. A negociação comercial não é preocupaçã­o do governo brasileiro.

Em relação ao assunto, há a percepção em Brasília de que a Boeing “tem mais pressa para fechar o negócio que o governo”. Como o Estado antecipou na semana passada, executivos da Boeing gostariam de concluir as negociaçõe­s para evitar que o negócio seja tema das eleições presidenci­ais. Reação. A divulgação do eventual novo desenho do negócio levou a Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) a questionar a Embraer. Ontem, a fabricante de aeronaves divulgou um comunicado afirmando que “as partes envolvidas ainda estão analisando possibilid­ades de viabilizaç­ão de uma combinação de outros negócios, que poderão incluir a criação de outras sociedades”.

“Quando e se definida a estrutura para combinação de negócios, sua eventual implementa­ção estará sujeita à aprovação não somente do governo brasileiro, mas também de órgãos reguladore­s nacionais e internacio­nais e dos órgãos societário­s das duas companhias”, informou a gigante brasileira.

Procurada pela reportagem, a Boeing não quis comentar o assunto.

 ?? SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 ?? Acordo. União com Embraer em jatos regionais seria uma forma de responder a associação entre Airbus e Bombardier
SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 Acordo. União com Embraer em jatos regionais seria uma forma de responder a associação entre Airbus e Bombardier

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