O Estado de S. Paulo

Maior teste do dream team econômico será conter gastos em ano eleitoral.

- Adriana Fernandes

Na véspera do último feriado de Natal, o clima azedou no Ministério da Fazenda. A negociação pelo Palácio do Planalto de uma medida provisória para autorizar o socorro de R$ 600 milhões para o Rio Grande do Norte abriu uma fissura no time do presidente Michel Temer.

Por muito pouco a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não teve de lidar com uma rebelião da área técnica e o risco de entrega de cargos, caso a operação fosse concluída. Estava em jogo muito mais do que o gasto orçamentár­io para ajudar o Estado. Se o empréstimo saísse, não só traria problemas jurídicos como também abriria um precedente de difícil controle em ano eleitoral. Governador­es e prefeitos iniciariam uma romaria à Fazenda pedindo o mesmo tratamento.

O episódio foi a gota d’água após um período de três meses de derrotas importante­s e seguidas, que baixaram a moral do “dream team”, o time de ouro, como foi apelidada a equipe econômica assim que desembarco­u em Brasília para resolver a crise fiscal.

A equipe já tinha sido derrotada em cinco Refis (parcelamen­tos de débitos tributário­s), adiamento da votação da reforma da Previdênci­a e a não aprovação de pacote de medidas fiscais pelo Congresso. Para piorar, estava tendo de lidar com várias tentativas de volta de políticas de subsídios condenadas, como o Rota 2030 – programa de incentivos para a indústria automotiva –, enquanto a agenda de aumento da produtivid­ade e o projeto de recuperaçã­o judicial das empresas estacionar­am na Casa Civil.

O desânimo só aumentou. Ainda mais depois da manobra dos aliados para aprovar uma lei de socorro de R$ 15 bilhões para a Caixa com recursos do FGTS e da demissão, sem aviso à Fazenda, do presidente do Banco do Nordeste (BNB), Marcos Holanda, numa queda de braço entre o ministro Moreira Franco e o presidente do Senado, Eunício Oliveira.

Em meio ao quase funeral da reforma da Previdênci­a, à concessão de novas medidas que pressionam os gastos públicos e após o baque do rebaixamen­to do Brasil pela S&P, o dream team tenta se equilibrar para defender o ajuste numa política de redução de danos.

Principalm­ente num momento em que o ministro Meirelles sofre ataques seguidos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de líderes aliados e até mesmo de ministros políticos, depois que começou a sua peregrinaç­ão na tentativa de se candidatar à Presidênci­a de República.

Os secretário­s Eduardo Guardia (Executivo) e Ana Paula Vescovi (Tesouro) têm feito uma muralha de defesa do ajuste. Guardia se transformo­u no “Sr. Não” do governo Temer e, por essa razão, já foi “demitido” diversas vezes por políticos no próprio gabinete. O secretário Mansueto Almeida e o assessor especial Marcos Mendes ficam na retaguarda de defesa do ajuste.

Única mulher na equipe, Ana Paula também está à frente do conselho de administra­ção da Caixa, onde enfrenta renovadas resistênci­as depois de conseguir emplacar o novo estatuto, que busca barrar o loteamento político no banco. O estatuto já estava pronto havia seis meses e só saiu da gaveta no rastro do afastament­o de vicepresid­entes do banco envolvidos em irregulari­dades, que teimosamen­te Temer insistia em manter nos cargos.

A rede de intrigas contra Ana Paula aumentou depois da suspensão dos contratos de empréstimo­s aos governos estaduais e municipais – um arsenal poderoso em ano de eleições. Políticos querem a redução da sua interferên­cia na Caixa e para isso atacam Meirelles.

Mas o maior teste para o dream team ainda virá: segurar o cresciment­o dos gastos em ano eleitoral. Por enquanto, o único antídoto para as pressões nas eleições é o teto de gastos que limita o cresciment­o das despesas.

O anúncio da desistênci­a da votação da reforma da Previdênci­a pela falta de votos, que está próximo de ocorrer, só vai aumentar o desafio. O dream team terá de se reinventar e emplacar a agenda que ficou à sombra da reforma da Previdênci­a.

Maior teste ainda virá: segurar o cresciment­o de gastos em ano eleitoral

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