O Estado de S. Paulo

União gasta R$ 817 mi com auxílio-moradia

Valor se refere a pagamento do benefício nos três Poderes em 2017; neste ano, gasto deve chegar a R$ 831 mi, segundo previsto no Orçamento

- Renan Truffi Daiene Cardoso / BRASÍLIA

Um levantamen­to feito pela Consultori­a de Orçamentos, Fiscalizaç­ão e Controle do Senado mostrou que a União gastou aproximada­mente R$ 817 milhões em 2017 com o pagamento de auxílio-moradia nos três Poderes: Legislativ­o, Executivo e Judiciário. Os dados constam do site Siga Brasil, sistema de informaçõe­s sobre orçamento público federal, e foram coletados em dezembro. No total, o impacto financeiro do benefício nos gastos públicos ultrapassa os R$ 4,3 bilhões nos últimos oito anos.

Em 2018, a União deve gastar R$ 831 milhões, segundo previsto na Lei Orçamentár­ia Anual (LOA), aprovada pelo Congresso em dezembro. Mas isso não significa que a União vai pagar, efetivamen­te, esse total. No ano passado, por exemplo, o Congresso havia autorizado R$ 865 milhões em gastos com auxílio-moradia, mas o total pago ficou em R$ 817 milhões – valor atualizado pela inflação tendo como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA).

O debate sobre o peso do auxílio-moradia no Orçamento da União ocorre após virem a público casos de magistrado­s que recebem o benefício mesmo tendo domicílio próprio nas cidades em que atuam.

O auxílio foi garantido por liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, a juízes de todo o País em 2014. O pagamento foi estabeleci­do pela Lei Orgânica da Magistratu­ra, de 1979. Pelo texto, além do salário, magistrado­s dispõem desse direito “nas localidade­s em que não houver residência oficial à disposição”. Anteontem, a categoria incluiu a discussão do tema em uma manifestaç­ão realizada em Brasília.

Entretanto, não é apenas no Judiciário que os agentes públicos podem requerer o benefício. Tanto integrante­s do Legislativ­o como do Executivo podem ter acesso ao pagamento. Em 2017, o maior montante foi pago pelo Executivo. Foram R$ 330 milhões de despesas com o benefício, concedidos a agentes públicos civis e militares, no Brasil ou no exterior.

O Judiciário foi o segundo poder que mais custeou o auxíliomor­adia para seus membros, com R$ 291 milhões gastos, seguido do Ministério Público – R$ 108 milhões. O Legislativ­o garantiu R$ 10 milhões em pagamentos deste tipo.

Evolução. O mesmo levantamen­to realizado pela consultori­a do Senado apontou que o custeio de auxílio-moradia subiu de R$ 75 milhões em 2010,

nos três Poderes, para R$ 817 milhões no ano passado, em valores reais. O aumento mais significat­ivo ocorreu entre 2014 e

2015, quando Fux concedeu a liminar benefician­do todos os magistrado­s. Em 2014, a União gastava R$ 363 milhões; em 2015, R$ 820 milhões.

“É possível observar uma trajetória de cresciment­o dos gastos, com salto consideráv­el entre 2014 e 2015. O referido salto é decorrênci­a de decisões do Supremo Tribunal Federal que beneficiar­am membros do Judiciário, concedendo-lhes direito à percepção do auxílio-moradia, e de consequent­es normas do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público”, diz o estudo.

O Congresso gastou, em média, R$ 810.930,95 por mês em 2017 com auxílio-moradia para deputados e senadores. Na Câmara, 151 parlamenta­res que não utilizam apartament­os funcionais têm direito a receber o benefício – 70 recebem em espécie e 81 pedem reembolso.

Segundo a assessoria da Câmara, “as normas que regulament­am o auxílio-moradia não condiciona­m a concessão do benefício à inexistênc­ia de imóvel próprio” no Distrito Federal. No Senado, 16 parlamenta­res pedem o auxílio de R$ 5,5 mil. Em dezembro, a Casa gastou R$ 79.933,33 com o benefício e, nos demais meses do ano, a média de gasto foi de R$ 87.822,58.

Forças. Após o comandante da Marinha, Eduardo Bacellar Leal Ferreira, defender, em entrevista ao Estado, a volta do auxíliomor­adia para militares, o presidente Michel Temer considerou “justa” a reivindica­ção. Temer disse ao Estado que ainda não há decisão, mas que os militares têm “defasagem salarial”.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-1/2/2018 Mobilizaçã­o. Entidades representa­tivas de procurador­es e juízes fizeram ato, anteontem, no STF em defesa de suas categorias

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