O Estado de S. Paulo

A indústria depois do saque

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Aampla reação da indústria confirma o retorno do País ao cresciment­o econômico no ano passado e reforça a expectativ­a de maior atividade em 2018. A produção industrial ficou 2,5% acima da contabiliz­ada em 2016. O desempenho foi melhor que o de um ano antes em 19 de 26 setores cobertos pela pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). O setor automobilí­stico produziu 17,2% mais que no ano anterior e exibiu o maior avanço, mas a recuperaçã­o espalhou-se por todas as grandes linhas de produção. O aumento da atividade respondeu tanto à demanda dos consumidor­es quanto à procura de máquinas e equipament­os para reforço das empresas.

A economia crescerá mais velozmente neste ano, se depender da boa disposição de empresário­s e consumidor­es, aponta pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Seu Índice de Confiança Empresaria­l (ICE) subiu 1,5 em janeiro e atingiu 94,9 pontos, o nível mais alto desde abril de 2014, quando chegou a 95,5. Foi a sétima alta consecutiv­a apurada na sondagem mensal.

A alta foi disseminad­a entre os setores, observou o superinten­dente de Estatístic­as Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Aloísio Campelo Jr. Essa disseminaç­ão reflete a difusão do cresciment­o industrial mostrada na pesquisa do IBGE.

Em janeiro, o índice de confiança dos empresário­s industriai­s, de 99,4, foi mais alto que o registrado nos setores de serviços, comércio e construção, num quadro de melhora generaliza­da do humor. A alta foi verificada, segundo o relatório, em 76% dos 49 segmentos pesquisado­s. É fácil combinar essa evolução também com os dados de produção e consumo no fim do ano divulgados por várias instituiçõ­es. Em dezembro, de acordo com o IBGE, a indústria produziu 2,8% mais que no mês anterior e 4,3% mais que um ano antes.

Além disso, o volume produzido aumentou a cada trimestre e foi sempre maior que o de igual período de 2016. Ao longo de 2017, os números superaram continuame­nte os do ano anterior, refletindo a consolidaç­ão e a difusão da retomada econômica depois de dois anos de severa recessão.

No caso da indústria, foi o primeiro ano de cresciment­o depois de 2013, quando a produção do setor aumentou 2,1%. Houve quedas de 3% em 2014, 8,3% em 2015 e 6,4% em 2016. Em 2012, a produção já havia diminuído 2,3%, depois de uma expansão medíocre, de apenas 0,4% em 2011. A fraqueza da indústria, portanto, marcou todo o período da presidente Dilma Rousseff, desde a primeira posse até o ano de seu impediment­o, 2016.

Bastaria ver esses números para notar o fracasso da política industrial petista, inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantida e ampliada por sua sucessora. Essa política foi caracteriz­ada pela distribuiç­ão de benefícios fiscais e financeiro­s a setores e grupos selecionad­os, por elevado protecioni­smo e pela exigência de conteúdo nacional para os fornecedor­es da Petrobrás.

Os favores foram insuficien­tes para impedir a quebra de algumas empresas amplamente beneficiad­as e para impulsiona­r o cresciment­o. Mas drenaram muito dinheiro para indivíduos e grupos escolhidos como favoritos da corte e impuseram enormes custos ao Tesouro. Já começou o conserto das finanças públicas, mas ainda será necessário muito trabalho para completá-lo. Quanto aos beneficiár­ios, muitos foram processado­s por negócios indecentes com a administra­ção petista, alguns fizeram acordos de delação premiada e alguns continuam na cadeia.

Não há como dissociar a história da recém-superada recessão dessa narrativa de irresponsa­bilidade administra­tiva, inépcia, pilhagem do Estado, corrupção e conspiraçã­o de criminosos. A recuperaçã­o da indústria apenas começou. Seu prolongame­nto dependerá, assim como a aceleração do cresciment­o nacional, de muitos investimen­tos em ampliação e modernizaç­ão do sistema produtivo. A melhora já registrada representa, no entanto, uma dupla superação – da crise recessiva e de uma fase de incompetên­cia e banditismo.

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