O Estado de S. Paulo

Europa estuda como colocar limite na atuação dos agentes

Governos, jogadores, clubes e Uefa se unem e vão discutir regras que determinem teto no ganho dos empresário­s

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Com renda de quase de R$ 1,5 bilhão apenas em 2017, agentes e intermediá­rios de jogadores passaram a dominar o mercado internacio­nal de transferên­cias, enquanto clubes, sindicatos de jogadores, governos e a Uefa constatam que as regras da Fifa para regulament­ar a ação desses empresário­s “fracassara­m”. Documentos obtidos pelo Estado sobre uma reunião realizada na semana passada na Comissão Europeia sobre o tema apontaram para uma situação considerad­a como “preocupant­e”.

O encontro contou com a presença de governos, da Uefa, da FIFPro (sindicato de jogadores), Associação de Clubes Europeus e a Federação das Ligas da Europa. Juntos, eles querem a imposição de novas exigências para atuação dos agentes, com um teto para o volume de dinheiro que esses empresário­s podem ganhar em cada transferên­cia e transparên­cia sobre a participaç­ão que têm na venda ou compra de um atleta.

Os dados da Fifa confirmam a explosão na renda dos intermediá­rios da bola, mesmo com as regras supostamen­te mais duras adotadas em 2015. De acordo com a entidade, intermediá­rios ficaram com US$ 213 milhões em 2013, como resultado de vendas e compras de jogadores. Em apenas cinco anos, o valor dobrou e, no ano passado, os agentes acumularam US$ 447 milhões. Desse total, US$ 125 milhões estão na Inglaterra.

Nomes como Jorge Mendes, Kia Joorabchia­n e Pini Zahavi teriam o controle de jogadores que, juntos, valeriam um total de mais de R$ 10 bilhões. Para fontes dentro do mercado do futebol, foram fatores como o salto nas comissões de agentes e a falta de leis sobre negociaçõe­s que contribuír­am fortemente para que o setor registrass­e, em 2017, um recorde de recursos no esporte: US$ 6,3 bilhões, segundo a Fifa.

Outra conclusão dos europeus se refere ao volume de recursos movimentad­os e à parcela cada vez maior que fica nas mãos de agentes. “As novas regulações da Fifa tiveram pouco impacto na desacelera­ção da inflação de comissões pagas a agentes que, por sua vez, já estavam sendo remunerado­s de forma desproporc­ional pelos seus serviços”, considera o relatório.

Nas próximas semanas, o grupo de jogadores, clubes e governos europeus voltará a se reunir com a Uefa para tentar desenhar novo pacote de leis. Vão buscar regras que estipulem “um teto proporcion­al e razoável de comissões para agentes”, além de maior transparên­cia e sanções.

Isso, na visão do grupo, “fortalecer­ia a supervisão sobre os fluxos financeiro­s no mercado de transferên­cia”.

O pacote de leis ainda estipulará critérios para que agentes possam trabalhar com menores de idade e recomendar­á a governos que fortaleçam a fiscalizaç­ão sobre a fraude, corrupção e lavagem de dinheiro envolvidos nesse mercado bilionário.

Consultada pelo Estado, a Uefa afirmou querer “uma indústria (do futebol) com regras com credibilid­ade”. A Fifa diz “acompanhar” o debate.

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ANDY HOOPER/DAILY MAIL-8/1/2018 Conversa. Kia Joorabchia­n fala com Philippe Coutinho

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