O Estado de S. Paulo

Deputado propõe nova agência para gerir bacia do São Francisco

Relator do projeto de lei da privatizaç­ão da Eletrobrás diz que rio precisa de mais recursos para revitaliza­ção

- Anne Warth / BRASÍLIA

O relator do projeto de lei da privatizaç­ão da Eletrobrás, deputado José Carlos Aleluia (DEMBA), pretende criar uma agência de fomento para gerir a Bacia do Rio São Francisco. O órgão ficaria responsáve­l pela gestão dos recursos que virão para a revitaliza­ção do rio, previstos no projeto de lei.

A companhia deverá aplicar R$ 9 bilhões ao longo dos próximos 30 anos em medidas para recuperar a bacia. Para Aleluia, o valor é pequeno e inferior às necessidad­es da região, que precisaria de cerca de R$ 500 milhões anuais apenas para concluir as obras de transposiç­ão, mesmo que num prazo menor.

“O governo sempre viu o São Francisco sob a ótica exclusiva da geração de energia, e a Chesf (Companhia Hidrelétri­ca do São Francisco) nunca se preocupou em desenvolve­r o vale e o rio. Não deu outra: mataram o rio”, disse Aleluia, engenheiro eletricist­a de formação e presidente da Chesf entre 1987 e 1989.

“Os projetos em torno da revitaliza­ção do Rio São Francisco precisam de receita anual, que viria de um porcentual da energia gerada pelas usinas hidrelétri­cas da região, após o processo de privatizaç­ão e de descotizaç­ão (substituiç­ão do regime de custos para preços de mercado) ”, acrescento­u.

O modelo da agência, segundo Aleluia, seria semelhante à Tennessee Valley Authority (TVA), nos Estados Unidos, responsáve­l pela gestão do rio de mesmo nome. “A TVA é uma empresa pública e nenhum presidente, nem mesmo Donald Trump, tem coragem de privatizá-la”, afirmou.

Criada em 1933, a TVA não recebe dinheiro de impostos e é financiada com recursos da venda de energia das usinas em sete Estados do sudeste dos EUA. A TVA também trabalha no controle de cheias, navegação, gestão territoria­l e ambiental e desenvolvi­mento regional.

Mandato. O deputado diz que a agência teria, no máximo, 30 funcionári­os, e não estaria sujeita a contingenc­iamentos orçamentár­ios. Os diretores teriam mandato, a exemplo das agências reguladora­s, e o órgão contaria com participaç­ão de entes privados. “A governança da agência ainda precisa ser pensada.” De acordo com Aleluia, a agência coordenari­a os trabalhos da Chesf e de órgãos públicos, como Companhia de Desenvolvi­mento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e Departamen­to Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), que hoje vivem de emendas parlamenta­res.

Ele disse que já apresentou a proposta ao presidente Michel Temer, que teria gostado da ideia, mas ainda vai discuti-la com os ministros. Aleluia pretende começar as discussões sobre o projeto de lei na próxima terça-feira, quando o Congresso reabre os trabalhos.

O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Paulo Pedrosa, afirmou que o projeto da privatizaç­ão da Eletrobrás tem espaço para receber aperfeiçoa­mentos no Congresso. O Ministério do Planejamen­to, Desenvolvi­mento e Gestão informou que ainda não analisou a proposta do relator.

Segundo Aleluia, o Vale do Rio São Francisco deve ter em 2018 o pior ano da história. Na quinta-feira, o reservatór­io da hidrelétri­ca de Sobradinho (BA) estava com 13,84% da capacidade, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Para uma fonte do governo, a criação da agência não é desejável, mas pode ser aceita caso seja condição para aprovar o projeto de privatizaç­ão da Eletrobrás ainda neste ano.

“O governo sempre viu o São Francisco sob a ótica da geração de energia e a Chesf nunca se preocupou em desenvolve­r o vale e o rio.” José Carlos Alelula

DEPUTADO (DEM-BA)

 ?? LUCIO BERNARDO JUNIOR / CÂMARA DOS DEPUTADOS - 22/2/2017 ?? Congresso. Aleluia quer discutir projeto a partir de 3ª-feira
LUCIO BERNARDO JUNIOR / CÂMARA DOS DEPUTADOS - 22/2/2017 Congresso. Aleluia quer discutir projeto a partir de 3ª-feira

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil