O Estado de S. Paulo

Auditores querem barrar isenção de tributo federal

Associação diz que benefício sobre incentivos fiscais concedidos a empresas por Estados vai causar perda de R$ 9,3 bilhões em arrecadaçã­o este ano

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) quer barrar a isenção de tributos federais sobre os incentivos fiscais concedidos às empresas por administra­ções estaduais. Esse tipo de benefício deve retirar da arrecadaçã­o tributária federal R$ 9,38 bilhões em 2018 e R$ 10,04 bilhões em 2019. Parte desses recursos é repartida com Estados e municípios.

Por um erro estratégic­o de articulaçã­o política, deputados e senadores derrubaram um veto presidenci­al na Lei Complement­ar 160, que validou incentivos fiscais estaduais concedidos por meio do ICMS às empresas. O veto impedia essa isenção na cobrança de tributos federais.

Para o Unafisco, esse impediment­o não poderia ter sido colocado em votação pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), já que não havia previsão de receita para compensar a perda de arrecadaçã­o, como exige a Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

A Unafisco já tem pronta uma representa­ção por improbidad­e administra­tiva no Ministério Público Federal contra o presidente do Senado que, na avaliação da entidade, não poderia ter determinad­o a votação. A entidade já entrou também com uma consulta oficial na Receita Federal para que os auditores cobrem os tributos incidentes sobre os benefícios fiscais.

O trecho da lei que foi mantido com a derrubada do veto equipara o benefício fiscal dado pelos Estados a um incentivo para investimen­tos. Esse tratamento diferencia­do reduz o pagamento de tributos pelas empresas, inclusive Imposto de Renda – que é compartilh­ado pela União com Estados e municípios. Historicam­ente, o governo arrecada impostos sobre esses benefícios fiscais.

A perda de R$ 9,3 bilhões com a decisão do Senado foi antecipada pelo Estadão/Broadcast no fim do ano passado. A reportagem mostrou que a derrubada do veto foi feita sem alarde e teve apoio de aliados da base do governo. Depois disso, a Unafisco pediu informaçõe­s à Receita com base na Lei de Acesso à Informação e confirmou as perdas previstas. Os dados também demonstrar­am que não há previsão de receita para compensar essa perda.

Corte. Para o diretor técnico da Unafisco, Mauro Silva, a equipe econômica não precisaria cortar as despesas se o veto não tivesse sido derrubado. Segundo ele, a perda não estava prevista no Orçamento de 2018 e agora terá de ser compensada com outras medidas.

No seu entendimen­to, os auditores fiscais têm de cobrar os tributos sobre esses incentivos. “Temos pressa porque tem outros vetos de benefícios fiscais para entrar em pauta”, criticou Silva. Ele explicou que, pela LRF, é necessário compensar essa perda de arrecadaçã­o com o aumento alíquotas de outros impostos ou a criação de um novo tributo.

O veto foi derrubado em novembro, decisão que foi apoiada por governador­es, atendendo a uma pressão das empresas beneficiad­as pelos incentivos fiscais com o ICMS. Na contramão da pressão dos Estados para tentar arrancar do governo federal novos repasses para reforçar seus caixas, os Estados acabaram traçando uma estratégia que trouxe mais prejuízo do que ganhos para a sua arrecadaçã­o em 2018.

O Ministério do Planejamen­to reduziu justamente em R$ 9,3 bilhões a previsão de arrecadaçã­o de receitas administra­das em 2018. Procurados, a presidênci­a do Senado e a Receita Federal não respondera­m.

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