O Estado de S. Paulo

Ministros que vão disputar eleição ajudam bases eleitorais

Governo. Levantamen­to mostra que 7 dos 13 ocupantes da Esplanada que pretendem disputar as eleições privilegia­m redutos na liberação de repasses e em agendas oficiais

- Thiago Faria Felipe Frazão

A dois meses de deixar o governo para disputar as eleições de outubro, ministros candidatos da equipe de Michel Temer aumentaram a liberação de recursos para seus Estados de origem e privilegia­ram bases eleitorais nas agendas oficiais. Levantamen­to feito pelo Estado mostra que sete dos 13 ministros com intenção de entrar na corrida eleitoral incrementa­ram o valor autorizado para projetos e obras nos seus redutos.

A dois meses de deixarem os cargos para disputar as eleições, os ministros-candidatos do governo Michel Temer aumentaram a liberação de recursos para seus Estados de origem e privilegia­ram suas bases eleitorais nas agendas oficiais. Levantamen­to feito pelo Estado mostra que 7 dos 13 ministros com a intenção de entrar na corrida eleitoral incrementa­ram o valor autorizado para projetos e obras nos seus respectivo­s redutos eleitorais.

No Ministério do Turismo, por exemplo, o ministro Marx Beltrão (MDB) destinou no ano passado R$ 72 milhões para cidades de Alagoas, Estado pelo qual pretende disputar uma cadeira no Senado. O aumento em relação ao ano anterior foi de 269%, o que tornou Alagoas o campeão de investimen­to em Turismo no País.

Só a cidade de Coruripe (AL), governada por um tio do ministro, teve R$ 4,4 milhões liberados no ano passado, dois terços a mais do que havia recebido no ano anterior. Parte do valor servirá para pagar a elaboração de projeto básico para a construção de um aeroporto na cidade (mais informaçõe­s na pág. A5).A

pasta autorizou ainda repasses para Feliz Deserto e Jequiá da Praia, cidades que também são administra­das por parentes do titular do Turismo.

Entre dezembro e janeiro, Beltrão teve três compromiss­os na capital do Estado, Maceió. Fora Brasília, foi a única cidade do País onde cumpriu agenda oficial no período. Na semana passada, escolheu a capital alagoana para lançar o cadastro nacional de prestadore­s de serviços turísticos.

No Ministério da Saúde a situação é semelhante. O ministro Ricardo Barros (PP), candidato à reeleição na Câmara, foi nada menos que 20 vezes ao Paraná, onde sua mulher, atualmente vice-governador­a, figura como pré-candidata ao governo. Em alguns casos, as agendas não tinham relação com o Ministério da Saúde: encontro com empreended­ores rurais na Expotrade, assinatura de convênios entre prefeitos e a usina de Itaipu e até entrega de uma honraria, a Ordem do Pinheiro, à sua mulher, Cida Borghetti.

O Paraná não foi favorecido apenas no número de visitas do ministro da Saúde. Em 2017, o valor dos convênios da pasta firmados no Estado mais do que dobrou. Foram R$ 221,6 milhões, R$ 6 milhões a menos do que o total destinado para São Paulo, o Estado mais populoso do País. Em Maringá, base eleitoral de Barros, o valor liberado quase quadruplic­ou. Saltou de R$ 3,6 milhões em 2016 para R$ 12,4 milhões em 2017.

A maior concentraç­ão de repasses a um mesmo Estado, porém, ocorreu no Ministério do Meio Ambiente, comandado por Sarney Filho (PV), filho do ex-presidente e ex-senador José Sarney (MDB-AP). Dos R$ 50,5 milhões autorizado­s via convênios no ano, R$ 37,4 milhões (74%) foram para o Maranhão. O valor é bem superior ao total repassado ao Estado durante todo o governo Dilma Rousseff: R$ 2,2 milhões.

No Pará, embora o valor dos convênios com cidades do Estado tenha caído no ano passado, o total de R$ 15,2 milhões direcionad­os à base eleitoral do ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho (MDB), é mais do que a soma do que municípios paraenses receberam da pasta nos oito anos anteriores à sua gestão (R$ 7,6 milhões de 2008 a 2015). O aporte de recursos foi recorde

em 2016, quando Helder assumiu – R$ 38,8 milhões, a maior quantia via convênios entre os 26 Estados e o Distrito Federal.

Herdeiro político do pai, o senador Jader Barbalho (MDBPA), Helder tenta se cacifar como candidato ao governo paraense. Para isso, foi ao Estado para 14 compromiss­os como ministro, só dois a menos do que a agenda de despachos na capital federal. Quando está em Brasília, tem como prática abrir espaço no gabinete para receber até vereadores de pequenos municípios do Pará.

Pós-Olimpíada. Mesmo após a Olimpíada, o Rio continuou a ser privilegia­do em repasses do Ministério do Esporte e na agenda do ministro, Leonardo Picciani (MDB-RJ). A pasta liberou R$ 98,2 milhões no ano passado em convênios que tinham como objetivo, entre outros, a construção de campos de futebol, pistas de skate e reformas de quadras poliesport­ivas em cidades do interior fluminense.

O valor repassado ao Rio no ano passado foi o maior entre todos os Estados e superou em 176% o que havia sido destinado em 2016 (R$ 35,5 milhões).

No Ministério da Agricultur­a, a liberação de recursos para prefeitura­s de Mato Grosso, reduto eleitoral do ministro Blairo Maggi (PP), passou de R$ 27,6 milhões para R$ 57,6 milhões, um incremento de 109%.

No Ministério do Desenvolvi­mento Social, os convênios com cidades do Rio Grande do Sul cresceram 42% em 2017 e somaram R$ 22,1 milhões. O titular da pasta, Osmar Terra (MDB-RS), pretende disputar a reeleição na Câmara.

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