O Estado de S. Paulo

Uma fantasia para chamar de minha

Folia. Festa dos blocos ganha qualidade e atrai patrocinad­ores e artistas de fora do Estado, como Alceu Valença e Claudia Leitte. Grupos, como o Monobloco, formam seus ritmistas e lançam até CD com música-tema. Improviso cedeu espaço ao planejamen­to

- Valéria França

Quanto mais original, melhor. A figurinist­a Vitória Régia (no centro) e seus amigos usam a imaginação para criar fantasias como “pavão misterioso”: tudo para fugir da roupa pronta no bloquinho.

No início, os blocos de carnaval de rua de São Paulo eram informais e reuniam os amigos dos organizado­res – no máximo, os amigos dos amigos. Com tempo, passaram a atrair um novo público, muita gente que viajava para o Rio para correr atrás dos bloquinhos. A cada ano maior e mais animada, a folia paulistana se profission­alizou, em organizaçã­o e qualidade. Os blocos seguem, em grande parte, o exemplo das escolas de samba. Os desfiles atraem patrocinad­ores e artistas – até de outros Estados, como Elba Ramalho, Alceu Valença e Claudia Leitte. Formam batuqueiro­s em oficinas próprias. E chegam até a gravar CD com enredo do ano.

A capital importou a experiênci­a de quem sabe há muito tempo fazer a festa na rua. Um bom exemplo é o Monobloco, que nasceu no Rio há 18 anos e chegou a São Paulo apenas em 2015. Aqui, o bloco sai com 130 batuqueiro­s, formados na própria oficina da escola, em Pinheiros, São Paulo. Neste ano, desfilam com a música Amor de Carnaval – que virou CD –, escrita por Moraes Moreira. O ex-integrante dos Novos Baianos é muito conhecido pelos frevos de carnaval, além de constar como o primeiro cantor de trio elétrico do País que se tem registro.

No ano passado, o Monobloco levou 100 mil pessoas para a região do Ibirapuera, em São Paulo, e meio milhão para as ruas do Rio, segundo a organizaçã­o. Durante o ano, realizou por volta de 70 apresentaç­ões pelo Brasil. “Nascemos como um bloco profission­al. Quando viemos para São Paulo tínhamos o objetivo de ensinar aos paulistas que nem todo evento gratuito é perrengue”, diz o músico Celso Alvim, de 52 anos, um dos fundadores. “Não somos pessoas que vivem de outras profissões e se reúnem só para o carnaval.”

Custos. Em 2011, antes mesmo de o Monobloco chegar, um outro bloco carioca, o Quizomba, abriu oficina de percussão em São Paulo. “Já formamos

400 músicos para tocar em eventos carnavales­cos”, diz o economista André Schmidt, de 51 anos, um dos fundadores. A mensalidad­e para uma aula por semana é de R$ 220. “O carnaval é caro. O aluguel de um trio elétrico sai R$ 18 mil e o de uma ambulância, R$ 40 mil, isso sem

contar a equipe de apoio e segurança.” Schmidt conta que o primeiro desfile custou R$ 15 mil. “Naquela época, tiramos o dinheiro do bolso. Agora fazemos shows e buscamos patrocínio para fechar as contas.”

“Para aguentar seis horas de desfile, sem desafinar, a banda precisa ser profission­al”, diz o cineasta Eduardo Piagge, de 34 anos, um dos canários (cantor) da banda do Cordão Carnavales­co Confraria do Pasmado. Os 90 ritmistas que saem no desfile são contratado­s. “Para o Pasmado, carnaval é boa música e não bebedeira.”

O bloco nasceu em 2006 de uma roda de samba de amigos paulistano­s e foi crescendo. Ano passado, levou 15 mil foliões para as ruas da zona oeste. Antes de alcançar esse patamar, os organizado­res tiveram de se preocupar com segurança, limpeza, socorro em caso de emergência e potência do trio elétrico.

O planejamen­to está bem longe do improviso. Os blocos têm assessoria de imprensa, produtores e marketing. É o caso do Acadêmicos do Baixo Augusta – que nasceu em 2009 da vontade dos paulistano­s ocuparem as ruas da cidade. Em outubro do ano passado, o bloco ganhou uma sede própria, dois andares de um prédio na Rua da Consolação, próximo da Praça Roosevelt. Depois disso, promoveu shows e oficinas variadas e, em janeiro, abriu o espaço para um pré-carnaval.

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ALEX SILVA/ESTADÃO–31/1/2018 Preparativ­os. Espaço do Baixo Augusta na Consolação foi aberto para festas em janeiro

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