O Estado de S. Paulo

O maior desafio do PT será o de se reconstrui­r pós-Lula

- Danilo Cersosimo

Muitos apostam na capacidade de transferên­cia de votos do ex-presidente Lula para um eventual sucessor caso sua inelegibil­idade se confirme. No entanto, isso se daria em qual contexto?

O desafio de eleger o próximo presidente já será grande o suficiente para o PT caso o candidato seja outro que não Lula – ainda mais complicado na hipótese de o ex-presidente estar encarcerad­o e sem condições de participar ativamente do corpo a corpo com o eleitorado e costurar alianças.

Partido com trajetória relevante na histórica política e social do Brasil, o PT degringolo­u após seu apogeu. Se em 2012 viu seus candidatos conquistar­em 638 prefeitura­s pelo País, em 2016 foram apenas 256 (quase 60% a menos quando comparado com o período anterior). Em São Paulo, onde 4 anos antes Lula demonstrav­a sua força e elegia o novato Fernando Haddad, a situação se inverteu e o então prefeito sequer chegou ao 2.º turno.

No Nordeste, os resultados também não foram animadores. Na Bahia, do ex-governador Jacques Wagner e possível alternativ­a à Lula, o PT conquistou 40 prefeitura­s (contra 92 em 2012). No total, o partido conquistou 113 prefeitura­s na região (contra 187 em 2012) e não governa nenhuma capital nordestina. Atualmente, a única capital que conta com um prefeito do PT é Rio Branco, no Acre.

Na ocasião, é bom lembrar, Lula subiu ao palanque de seus candidatos e foi cabo eleitoral vigoroso da maioria deles. Não surtiu efeito por conta da derrocada institucio­nal do partido atingido pela Lava Jato, pelo enfraqueci­mento político resultante do impeachmen­t da ex-presidente Dilma e pela perda da sua identidade ideológica.

Lula tem hoje forte apelo eleitoral por tudo que represento­u na construção da trajetória política do Partido dos Trabalhado­res e, principalm­ente, por conta do período em que governou o País – em dezembro de 2010, o então presidente tinha 83% de avaliação “bom ou ótimo” de acordo com o Pulso Brasil da Ipsos.

Em que pesem os impactos pós-Lava Jato, Lula ainda conta com 44% de aprovação de acordo com o Barômetro Político Estadão-Ipsos – pesquisa realizada entre os dias 2 e 11 de janeiro – e é o líder de intenções de voto na corrida eleitoral. Porém, esse capital parece ser só dele e não do PT. Ao longo dos anos, o lulismo se tornou maior que o petismo.

O maior desafio do PT será o de se reconstrui­r pós-Lula.

SOCIÓLOGO PELA UNIVERSIDA­DE DE SÃO PAULO E MESTRE EM ESTUDOS URBANOS PELA UNIVERSITY COLLEGE LONDON (UCL)

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