O Estado de S. Paulo

Um tour para estrangeir­os com colheita e aulas por US$ 250

A atividade é ilegal, pois a lei aprovada em 2013 restringe a venda de maconha a uruguaios e residentes legais no país

- / E.C.

Em uma casa de Montevidéu, um grupo de sete brasileiro­s divide histórias entre copos de cerveja. É uma noite de outubro e estão visitando o Uruguai apenas por um fim de semana. Poderia ser uma cena turística como qualquer outra, mas os visitantes estão na capital uruguaia para participar da Montevidéu Cannabis Cup, um concurso entre produtores de maconha que premia as melhores colheitas do país.

Além disso, eles participam de um tour pelo qual pagaram US$ 250 cada um, que inclui a colheita de folhas da Cannabis sativa, uma visita a um clube de consumidor­es e amplas explicaçõe­s sobre como plantar e colher a droga.

A atividade é ilegal e foi denunciada então pelo semanário local Búsqueda. Antes, o diário argentino La Nación havia informado sobre colheitas privadas para estrangeir­os por um valor similar. O governo buscou sancionar o estabeleci­mento que as oferecia.

Segundo a lei que o Parlamento do Uruguai aprovou em 2013, a aquisição da maconha, por qualquer de suas vias, está restrita a uruguaios maiores de 18 anos ou residentes legais. No ano passado e logo que começou a venda da droga nas farmácias do país, a ministra do Turismo do Uruguai, Liliam Kechichian, reiterou em várias ocasiões que o governo não incentivar­ia nem permitiria o “turismo canábico”.

Revisão. No entanto, alguns acadêmicos e movimentos sociais pedem que o tema seja debatido. Em uma pesquisa que o advogado uruguaio Pablo Galain realizou durante algumas semanas de janeiro de 2017 em um bairro turístico de Montevidéu, 63% dos turistas que se definiam como consumidor­es de maconha assegurara­m que tiveram acesso à droga durante sua visita ao país.

Consultado pelo Estado, o secretário da Junta de Drogas do Uruguai, Diego Olivera, lembrou que a lei uruguaia é “revolucion­ária” em relação à política de drogas, mas disse que há uma mensagem clara contra o turismo da maconha.

“É inevitável que a sociedade uruguaia e o sistema político em algum momento discutam a questão. É esperado que se discuta. Mas hoje não é uma prioridade. Nosso compromiss­o institucio­nal é aplicar a lei tal qual ela existe. Quando os legislador­es aprovaram esta lei por maioria havia o espírito de não afetar em nada os países vizinhos”, explicou.

Em julho, antes do começo da venda em farmácias, a equipe de investigaç­ão Monitor Cannabis da Faculdade de Ciências Sociais da Universida­de da República estimava que a lei tinha tirado 20% do mercado da droga do narcotráfi­co. Segundo o grupo, no país de 3 milhões de habitantes são consumidas 34,5 toneladas de maconha por ano.

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