O Estado de S. Paulo

Plebiscito define reformas no Equador

Votação se tornou disputa política entre Lenín Moreno e Rafael Correa; vitória do sim pode impedir ex-presidente de se candidatar de novo

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Os equatorian­os vão às urnas hoje para responder a sete perguntas em um plebiscito sobre reformas na Constituiç­ão que podem impedir o expresiden­te do país, Rafael Correa, de ser candidato novamente. Serão cinco perguntas que implicam em mudanças constituci­onais imediatas e duas via consulta popular, para anular ou reformar leis ordinárias.

Na prática, o plebiscito se tornou uma disputa entre Rafael Correa e Lenín Moreno, atual presidente e ex-aliado de Correa. Moreno descolou sua imagem da de seu padrinho político após assumir o cargo. Correa tentou expulsar Moreno do Aliança País (AP), o partido fundado pelo ex-presidente, mas perdeu a disputa e teve de deixar a legenda. Recentemen­te, ele anunciou a intenção de criar novo partido.

Moreno convocou o plebiscito no fim do ano passado. As três principais perguntas podem tirar Correa de futuras disputas presidenci­ais. A primeira propõe impedir alguém que já ocupou cargos executivos de se reeleger mais de uma vez, anulando a reeleição indefinida aprovada por emenda pela Assembleia Nacional, em 2015. Em caso de vitória do sim, a candidatur­a de Correa para as eleições de 2021 seria bloqueada.

A segunda pergunta propõe cassar os direitos políticos de condenados por corrupção. Um dos homens mais próximos de Correa durante seu governo, o vice-presidente Jorge Glas foi detido acusado de estar associado à corrupção em licitações envolvendo a empreiteir­a brasileira Odebrecht. Morenistas acreditam que o escândalo possa respingar em Correa.

A terceira questão é a mais sensível para os apoiadores de Correa, que a consideram inconstitu­cional. Ela propõe reestrutur­ar o Conselho de Participaç­ão Cidadã e Controle Social, órgão criado por Correa para nomear autoridade­s eleitorais, além de procurador­es, controlado­res, superinten­dentes e promotores.

Correa e seus apoiadores afirmam que é uma estratégia de Moreno para nomear “a dedo” autoridade­s que podem condenar o ex-presidente. Moreno e seu partido dizem que se trata de uma chancela popular e democrátic­a para uma medida polêmica.

Mudança. Com o Aliança País rachado, Moreno juntou-se a antigos rivais. Ao perder a maioria na Assembleia Nacional, forjou uma aliança informal com o partido conservado­r de Guillermo Lasso, o segundo colocado na eleição presidenci­al do ano passado. A pergunta número seis

do plebiscito que põe fim ao limite de lucro imobiliári­o estabeleci­do em 2009, é considerad­a uma concessão aos interesses conservado­res.

“Moreno atacou essa questão quando era vice e, para garantir apoio, deu esse presente aos conservado­res”, afirma o cientista político Santiago Basabe, professor da Faculdade Latino-Americana

de Ciências Sociais (Flacso).

Apesar de as pesquisas mostrarem uma clara vitória do “sim” nas quatro principais questões e indicarem uma queda de popularida­de de Correa – em oposição a quase 80% de aprovação de Moreno –, analistas avaliam que a solidez das novas alianças de Moreno põe em

risco a governabil­idade do país. “Ainda que consiga tirar Correa do páreo, todos os setores conservado­res do Equador vão querer se aproveitar da vitória do ‘sim’”, afirma Basabe. “No fim, Moreno pode não conseguir governar, porque ele mesmo implodiu sua base de apoio pensando em sua reeleição.” /

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DOLORES OCHOA/AP Mudança. Presidente Lenín Moreno durante encerramen­to da campanha em Quito

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