O Estado de S. Paulo

Para foliões, ‘se não for para ir montado, não vá’

Com muita criativida­de, eles não se satisfazem em usar roupas leves ou comprar fantasia pronta

- Juliana Diógenes Marcela Paes

Para um folião que leva a sério a brincadeir­a nas ruas paulistana­s, quanto mais original, customizad­o e personaliz­ado o figurino, melhor. Inspirados na criativida­de de carnavais tradiciona­is, como os do Recife e do Rio, eles não se satisfazem em usar roupas leves ou comprar fantasia pronta.

“Se não for para ir montado, não vá.” É com esse espírito que os amigos Vitoria Regia Nunes, de 35 anos, Debora Brandt, de 34, Guilherme Carnaúba, de 25, Barbara Chiré, de 35, e Pâmela Franco, de 24, saem para a maratona de blocos a que costumam ir durante o carnaval paulistano.

“O conceito da última fantasia que eu usei foi ‘amor breve’. Nunca é nada literal nem algo muito certinho como ‘Vou de Chapolim Colorado’”, diz Vitória. Os looks costumam ser feitos por eles, mas broches antigos, peças vintage e até coisas alugadas em brechós entram nas produções. Só não vale repetir fantasia. E vale tudo? Quase tudo. As plumas, por exemplo, já começaram a perder adeptos, pelo menos entre os mais ecológicos. “Dá para usar uma folha de samambaia artificial, por exemplo, e ter o mesmo efeito chamativo”, explica.

Depois de ir ao carnaval no Recife e no Rio e voltar encantada com as produções, a arquiteta Gabriela Amaral, de 28 anos, decidiu no ano passado que começaria a produzir as próprias fantasias. Até aprendeu a bordar. “Estou buscando minha identidade. Pesquisei referência­s de moda de alta costura, do exterior”, conta.

Em um dos dias de folia, Gabriela colocará na rua a roupa de um polvo batizado de Octopussy, em referência à presença feminina em uma banda de bloco de carnaval, onde tocará trompete. No feriado, cada dia terá uma fantasia diferente. Mas já no pré-carnaval a arquiteta exibiu a criativida­de: se vestiu de rainha do mar, boi-bumbá e pavão misterioso.

“Não tem mais graça pegar um personagem e reproduzir exatamente como é. Gosto de ir reinventan­do”, explica ela. “Quanto mais desconstru­ído, mais legal.” Ela própria monta os looks: faz um desenho rápido, elabora uma lista e vai às compras na Rua 25 de março.

Para Gabriela, uma das dicas mais importante­s na hora de pensar um figurino autoral de carnaval é a escolha da cor das adereços. “Precisa buscar cores contrastan­tes para chamar a atenção”, diz.

Tutu e body. Quem tem pouco tempo para planejar e comprar os itens, mas quer usar figurinos personaliz­ados, pode seguir a ideia do aeroviário Fernando Magrin, de 52 anos. Para cada dia do carnaval, comprou tutus de quatro cores: rosa, azul, verde e arco-íris. Depois que usou uma saia emprestada da amiga pela primeira vez, Magrin nunca mais pensa em usar bermuda na folia. “Amei pular carnaval de saia. E tutu é o que mais gosto porque vira uma fantasia. É fácil de achar, simples de usar e funciona”, afirma ele, um dos fundadores do bloco Minhoqueen­s, onde desfila de drag queen.

Na parte de cima do look, vai de camisetas com frases divertidas compradas em lojas simples, que depois são customizad­as. “Vou amarrar alguma fita ou deixar algo caindo. Geralmente no dia mesmo eu invento.”

Já para o produtor cultural Raphael Malachias, de 29 anos, a peça curinga do look de carnaval é o body. “A partir do maiô que escolho, vou trabalhand­o em cima”, conta ele, um dos fundadores do bloco Meu Santo é Pop. A variedade está na cor dos maiôs – que comprou em preto, branco e prata – e na personaliz­ação. “Vou comprando pingente e badulaques na Rua 25 de Março e customizan­do com cola quente e alfinete.”

Uma das principais fantasias que Malachias está produzindo reproduz o figurino da atriz e cantora mexicana Thalía. “Acho divertido quando alguém reconhece de onde tirei a referência. Sempre tem uma pessoa que sabe o que é.”

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FOTOS: GABRIELA BILÓ / ESTADÃO Pavão paraaquece­r. Para Vitória, segredo é não repetir a fantasia
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Solo. Magrin aderiu à saia no carnaval após pegar peça emprestada de amiga (à esq.)

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