O Estado de S. Paulo

Combinar fãs-clubes é bom para as vendas

Serviços de streaming vêm incentivan­do artistas populares a participar­em de gravações compartilh­adas

- / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Poucas pessoas que discursara­m na Harvard Business School têm um currículo como o de Khaled Mohamed Khaled, que deu uma palestra na universida­de em 2016. O produtor musical de 42 anos iniciou a carreira como vendedor em uma loja de discos e apresentad­or de rádio. Hoje o DJ Khaled, como é conhecido dos fãs, é um dos mais bem-sucedidos artistas do hip-hop. Embora os críticos discordem dos méritos da música de Khaled, sua estratégia de vendas, reunindo os pop stars mais famosos do momento, vale aula em uma escola de administra­ção. O setor de música dos EUA vem seguindo cada vez mais a sua fórmula.

Colaboraçõ­es como as criadas por Khaled não são novidade. Desde que o grupo de hip-hop Run-DMC se uniu à banda de rock Aerosmith para gravar Walk this Way, em 1986, as gravadoras entenderam que combinar o fã-clube de vários artistas poderia ser muito benéfico para a venda de discos. A prática se propagou.

Segundo dados do Hot 100 da Billboard, ranking semanal das músicas mais populares nos Estados Unidos, hoje as colaboraçõ­es constituem mais de um terço dos sucessos musicais. Das dez músicas no topo do ranking, metade é creditada a mais de um artista.

Muitos deles são compositor­es. As músicas pop hoje são feitas por uma linha de montagem de compositor­es e produtores, o que Larry Miller, diretor do programa Steinhardt de negócio de música, da Universida­de de Nova York, chama de “máquina de composição industrial”. Bastam em média quatro compositor­es para produzir uma música de sucesso, em comparação com dois na década de 1980. That’s What I Like, de Bruno Mars, considerad­a a música do ano na premiação do Grammy este ano, foi produzida em colaboraçã­o com pelo menos oito compositor­es. Pesquisas. A influência crescente do hip-hop trouxe mais artistas convidados para o estúdio de gravação. Segundo a empresa de pesquisa de mercado Nielsen, o R&B/hip-hop é o gênero de música mais popular nos Estados Unidos e também o que mais abraçou a cultura da colaboraçã­o. A melhor representa­ção disso é o chamado “posse cut”, estilo de música em que pelo menos meia dúzia de rappers se revezam cantando uma estrofe. Os artistas de hip-hop continuam a colaborar cada vez mais. Segundo a Hit Songs Descontruc­ted, empresa de análise de música, 64% das gravações de hip-hop entre as dez primeiras no ranking da Billboard eram de mais de um artista, em comparação com 40% das músicas pop.

Os serviços de streaming também vêm incentivan­do artistas populares a participar­em de gravações entre si. Embora as emissoras de rádio continuem muito segregadas, com base no que Nate Sloan, musicólogo e apresentad­or do podcast Switched on Pop, chama de “categorias na maior parte fictícias inventadas por executivos de marketing”, serviços como Spotify e Apple Music apagam as linhas que separam os gêneros musicais. Um usuário do Spotify que procura, por exemplo, Kendrick Lamar, artista de hiphop, pode encontrar trilhas do Maroon 5 e do Imagine Dragons, grupos raramente ouvidos nas emissoras de rádio hip-hop convencion­ais.

Pode ser tentador descartar as músicas pop do DJ Khaled, taxando-as de forçadas e sem autenticid­ade. Mas uma nova pesquisa sugere que os ouvintes apreciam um som familiar, embora peculiar, muito encontrado nas músicas compostas em colaboraçã­o.

Usando um banco de dados de 27 mil músicas que apareceram nos mapas da Billboard Hot 100 entre 1958 e 2016, Noah Askin, da Insead, escola de administra­ção francesa, e Michael Mauskapf, da Columbia Business School, concluíram que as músicas de maior sucesso tendem a ser diferentes, mas não demais, chegando no ponto certo que os autores descrevem como “uma diferencia­ção perfeita”. Colaboraçõ­es que combinam um artista conhecido com um iniciante, ou uma interpreta­ção convencion­al com uma mais intrigante, podem produzir exatamente o tipo de música que as pessoas querem ouvir.

Músicas de maior sucesso tendem a ser diferentes, mas não demais, chegando em ‘uma diferencia­ção perfeita’

 ?? STEVE MARCUS/REUTERS ?? Fórmula de sucesso. DJ Khaled (à frente, de preto) é um dos mais bem-sucedidos artistas de hip-hop
STEVE MARCUS/REUTERS Fórmula de sucesso. DJ Khaled (à frente, de preto) é um dos mais bem-sucedidos artistas de hip-hop

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