O Estado de S. Paulo

‘Caipirinha Vestida por Poiret’, diz o poema de Oswald

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• Tarsila do Amaral nasceu em Capivari, interior de São Paulo, numa família dona de fazendas de café. Passou sua primeira temporada na Europa entre os 16 e os 18 anos. Casou em 1904 com o médico André Teixeira Pinto, com quem teve uma filha. Separou-se do marido nove anos depois, mudou-se para a capital do Estado e começou a estudar arte com professore­s europeus.

Em 1920, foi morar em Paris para estudar na Académie Julian, a mesma que frequentar­am Jean Arp, Pierre Bonnard, Louise Bourgeois, André Derain, Jean Dubuffet e Marcel Duchamp.

Quando os paulistas realizaram a Semana de 22, ela estava participan­do do salão da Société des Artistes Français no Grand Palais des Champs-Elysées. Jean Patou e Paul Poiret, dois dos mais famosos costureiro­s franceses na época, criaram vestidos para ela. No poema Atelier, de 1925, transcrito abaixo, Oswald de Andrade a identifico­u como “caipirinha vestida por Poiret”. O epíteto ajudou a firmar a persona de mulher cosmopolit­a para a artista que pintou Abaporu, o grande símbolo do antropofag­ismo brasileiro. Caipirinha vestida por Poiret A preguiça paulista reside nos teus olhos

Que não viram Paris nem Piccadilly

Nem as exclamaçõe­s dos homens Em Sevilha

À tua passagem entre brincos Locomotiva­s e bichos nacionais Geometriza­m as atmosferas nítidas

Congonhas descora sob o pálio Das procissões de Minas A verdura do azul klaxon Cortada

Sobre a poeira vermelha Arranha-céus

Fords

Viadutos

Um cheiro de café

No silêncio emoldurado.

 ?? ACERVO FUNDAÇÃO JOSÉ E PAULINA DEMIROVSKY ?? ‘Antropofag­ia’. Contornos pesados e formas repetidas
ACERVO FUNDAÇÃO JOSÉ E PAULINA DEMIROVSKY ‘Antropofag­ia’. Contornos pesados e formas repetidas

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