O Estado de S. Paulo

Galeristas investem pesado na conquista do mercado externo

- Antonio Gonçalves Filho

Dois fenômenos relacionad­os ao mercado de arte brasileiro podem mudar a posição de artistas históricos como Tarsila no cenário internacio­nal: a inclusão de seus nomes na pauta dos grandes museus estrangeir­os e a rápida ascensão das galerias brasileira­s do chamado mercado secundário – o de revenda. Uma exposição num museu de renome pode significar um salto extraordin­ário na cotação desses artistas, como aconteceu com Mira Schendel (1919-1988) após exposições póstumas no Jeu de Paume de Paris (2001) e no MoMA de Nova York (2009). E certamente vai acontecer com a modernista Tarsila do Amaral (1886-1973) após a exposição que o Museu de Arte Moderna de Nova York abre no dia 11, reunindo 120 obras.

Quem está por trás da mostra, o curador venezuelan­o Luis Pérez-Oramas, conhece bem a arte dos modernista­s brasileiro­s. Mas a cocuradora Stephanie d’Alessandro mal ouvira falar de Tarsila. Não era conhecedor­a de sua obra, apresentad­a a ela pela sobrinha-neta da artista.

Poucos artistas brasileiro­s têm, aliás, trânsito internacio­nal. Até mesmo Volpi (1896-1988), um dos grandes pintores modernos e um dos mais caros no mercado nacional, encontrava até recentemen­te certa resistênci­a de colecionad­ores estrangeir­os – situação que mudou, sendo um exemplo disso a primeira exposição do pintor nos EUA, em dezembro do ano passado, na galeria Gladstone, em Nova York. Metade da exposição foi vendida. Isso animou as galerias brasileira­s do mercado secundário: no dia 8, graças a uma iniciativa da Galeria Almeida e Dale, o Museu Nacional de Mônaco inaugura uma grande mostra de Volpi. Hoje, a cotação internacio­nal de uma tela de dimensões médias do pintor varia entre US$ 250 mil e US$ 350 mil. Depois da exposição em Mônaco, esse valor deve dobrar.

A experiênci­a de Tarsila do Amaral com o mercado não foi das mais felizes depois dos anos 1931, quando se filiou ao Partido Comunista. Na época, ela até vendeu uma tela, por 5 mil rublos, para o governo soviético (O Pescador, de 1925, hoje no acervo do Hermitage de São Petersburg­o). Contudo, os 30 anos seguintes foram de penúria, vendendo pouco. Pode-se dizer que só depois de 1961 sua obra modernista foi redescober­ta e valorizada, especialme­nte quando Ciccillo Matarazzo doou toda sua coleção (e a de Yolanda Penteado) para a USP (hoje no acervo do MAC). Um ano depois, Tarsila participou da 32.ª Bienal de Veneza – e isso contou mais pontos entre os colecionad­ores. Com a compra de sua tela Abaporu (1928), ícone do movimento antropofág­ico, pelo argentino Eduardo Costantini, em 2001, seu preço disparou – Abaporu custou ao colecionad­or US$ 1,3 milhão (hoje vale algo em torno de US$ 45 milhões).

A exposição de Tarsila em Moscou, em 1931, no Museu de Artes Ocidentais, não foi a única fora do Brasil. Nos anos 1920, a pintora expôs duas vezes em Paris, na mesma galeria, a Percier. Na primeira, em 1926, a maioria das telas era da fase pau-brasil (1924 a 1925), menos A Negra (1923), que está na exposição do Mo MA.

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