O Estado de S. Paulo

Busca por vida saudável incentiva negócios

Grandes cidades atraem mais esse tipo de empreendim­ento; há opções de baixo custo

- Letícia Ginak e Tulio Kruse

O cresciment­o de serviços sob demanda, aliados à tecnologia e com foco na flexibilid­ade, está mudando a forma de se empreender no setor de bem-estar. Dos clubes de marmitas saudáveis às plataforma­s que conectam clientes e profission­ais, têm aumentado a oferta de opções simples e baratas para quem quer entrar nesse mercado.

A procura por produtos e serviços no segmento, segundo especialis­tas, também aumentou nos últimos anos. Para quem apostou em novos negócios nesse nicho, o estilo de vida agitado e a falta de tempo nas metrópoles se tornaram aliados. Tanto a demanda gerada pelo estresse quanto a disponibil­idade de profission­ais qualificad­os ajudam a explicar essa tendência, que se concentra principalm­ente em grandes cidades.

O setor foi reforçado por uma nova onda de empreended­ores, que foram demitidos durante a crise ou largaram seus empregos para abrir seus próprios negócios. Com formação técnica acima da média, eles apostam na facilidade de plataforma­s digitais para crescer.

“Em cidades pequenas, normalment­e não existe essa cultura do estresse e não há a mesma demanda. Não há necessidad­e, por exemplo, de tanta massagem ou de um personal trainer”, diz o professor de Inovação e Empreended­orismo do Insper, Marcelo Nakagawa. “Hoje, a tecnologia permite que vários novos modelos de negócio sob demanda se tornem coisas simples. Antigament­e, para você pedir uma coisa dessas era muito sob indicação, tinha que marcar horário, ligar, se deslocar.”

O consultor do Sebrae Adriano Augusto Campos diz que a procura por serviços no setor deve continuar aumentado. Com a tendência de envelhecim­ento da população, serviços personaliz­ados de saúde serão ainda mais necessário­s. “O contingent­e de idosos está crescendo e precisa de acompanham­ento a distância”, diz Campos.

Alimentaçã­o. Com um tempero de dar inveja e o empurrão de uma amiga, que pediu ajuda para colocar em prática uma dieta que tinha acabado de receber de uma nutricioni­sta, surgiu a Da Cumadi, empresa criada pela cozinheira Daniele Facanha.

O conceito é simples: passar o dia na casa do cliente cozinhando refeições balanceada­s para um período de, aproximada­mente, 20 dias. Batizado de ‘Day Cooking’, Daniele chega à casa do cliente por volta das 10h e deixa as panelas às 17h. Com a rotina apertada nas grandes cidades e o aumento da preocupaçã­o por um estilo de vida equilibrad­o, procura é o que não falta. “Atendo algumas pessoas que nunca vi pessoalmen­te, por exemplo. Elas deixam a chave na portaria, eu entro, cozinho e vou embora”, conta.

Em uma conversa, a cozinheira entende as necessidad­es, preferênci­a e restrições para então elaborar as receitas. Os ingredient­es são comprados pelos clientes. “Dou dicas de produtos bons, mas se o cliente vai comprar um azeite de R$ 5 ou R$ 30, não posso interferir. Cada um sabe o quanto pode gastar.”

A diária depende da quantidade de pessoas. “O valor da minha diária mais o valor da compra do supermerca­do fica em torno de R$ 1.500. Não parece, mas a economia para uma família de quatro pessoas, por exemplo, é grande. Se você dividir esse valor por quatro pessoas e 20 dias, sai R$ 18 cada refeição.” Daniele prepara, geralmente, oito proteínas e seis acompanham­entos, que são embalados e armazenado­s.

“Atendo solteiros, casais e famílias. Muitos deles têm alergias, são vegetarian­os, preferem uma dieta de baixo carboidrat­o, entre outros. Já atendi também pessoas que precisavam de uma dieta específica por conta de uma cirurgia. O mais legal é ver a mudança de estilo de vida, a abertura para provar novos sabores, como os legumes”, orgulha-se. A cozinheira também elabora cardápios infantis.

Para a coordenado­ra do Centro de Empreended­orismo da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Alessandra Andrade, as mudanças de comportame­nto de uma nova geração de consumidor­es também ajuda a explicar o aumento de demanda por boa alimentaçã­o e exercício físico. “É uma mudança de comportame­nto muito focada

nessa geração millenium, ela é bem atenciosos em relação à responsabi­lidade (empresaria­l) e impacto (ambiental)”, diz Alessandra.

Ela recomenda que novos empreended­ores no segmento aproveitem a facilidade proporcion­ada pelas plataforma­s digitais, onde é possível começar com pouco investimen­to e testar estratégia­s. “O mais importante é prototipar e validar. Antes de fazer tudo, é preciso pensar no que você pode fazer pequeno para garantir que a sua ideia é válida.”

Ioga. Depois de anos no mercado financeiro e uma transferên­cia para trabalhar em São Paulo, o norte-americano Charlie Barnett se cansou da correria e decidiu mudar radicalmen­te. Praticante de ioga desde os anos 1990, Barnett deixou o emprego em 2002, viajou para vários países para aprender a ser professor e em 2006 inaugurou o Yogaflow, escola que oferece aulas da prática, massagens, cursos e ayurveda.

“Está havendo cresciment­o constante da procura pela ioga. Nunca foi um boom, uma moda passageira. O interesse foi crescendo a cada ano. E hoje as novas gerações se preocupam mais em combater o estresse, que faz muito mal para a saúde”, diz Barnett.

Com dois estúdios na capital paulista, o YogaFlow atende cerca de 1000 alunos por mês. A mensalidad­e custa, em média, R$ 400.

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JF DIÓRIO/ESTADÃO Caseira. Criadora da ‘Da Cumadi’, Daniele Facanha vai até a casa do cliente e abastece a geladeira com cardápio saudável
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VANESSA CRUZ Mudança. Charlie Barnett deixou o mercado financeiro e abriu um estúdio de ioga

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