O Estado de S. Paulo

Com crise da Oi, Vivo foi a operadora que mais cresceu

Telefonia. Em um momento em que os clientes deixaram de usar chips pré-pagos, somente Vivo conseguiu atrair assinantes à sua base para compensar esse êxodo; tele em recuperaçã­o judicial foi, porém, a única do mercado a perder espaço também no pós-pago

- Renata Agostini Mônica Scaramuzzo

Em recuperaçã­o judicial desde 2016, a Oi viu concorrent­es avançarem sobre seus clientes. A operadora perdeu mercado de telefonia móvel em 20 unidades da federação, segundo levantamen­to do Estado com dados da consultori­a Teleco. No fim de 2017, tinha 38,9 milhões de linhas de celular, queda de 8% frente a 2016. A Vivo foi a empresa que mais aproveitou a crise da Oi.

Imersa no processo de recuperaçã­o judicial desde junho de 2016, a Oi viu concorrent­es avançarem sobre seus clientes na maior parte do País. Sem dinheiro para investir como as rivais, a operadora perdeu espaço no mercado de telefonia móvel em 19 Estados e no Distrito Federal, segundo levantamen­to feito pelo ‘Estado’ a partir de dados da consultori­a Teleco. Ao fim de 2017, tinha 38,9 milhões de linhas de celular, queda de 8% frente ao ano anterior. No Brasil como um todo, a redução foi de 3%.

A Vivo foi, de longe, a operadora que mais aproveitou o momento de crise da Oi. Mesmo com liderança folgada no mercado nacional, a tele controlada pela espanhola Telefônica seguiu avançando em quase todos os Estados – caiu só no Tocantins e no Rio Grande do Norte. Foi a única das quatro grandes que, em vez de ver redução no número de linhas, fechou 2017 com uma base maior de clientes.

O número de celulares pré-pagos do País, que por anos puxou o avanço do setor, vem caindo desde o segundo trimestre de 2016. A crise econômica e a populariza­ção do uso do aplicativo WhatsApp para fazer ligações fizeram com que os brasileiro­s começassem a abandonar o hábito de ter um chip de cada operadora, diz Eduardo Tude, sócio da consultori­a Teleco.

O movimento vem atingindo todas as teles, que iniciaram políticas agressivas para desconecta­r esses chips inativos – elas pagam tributos em cima do número total de celulares de sua base. Por isso, o jogo entre as gigantes da telefonia ficou mais agressivo no pós-pago.

Foi justamente nesse terreno em que a Oi mais sangrou – e a Vivo fez a festa. Enquanto Tim, Claro e Vivo aumentaram o número de linhas em 2017 no póspago, a Oi perdeu clientes nesse segmento em todos os trimestres. Ao fim do ano, foram 115 mil linhas a menos.

Claro e Tim avançaram no pós-pago, mas não a ponto de compensar a queda no número de clientes de pré-pago. Já na Vivo o aumento do número de linhas pós-pago superou as perdas com chips do pré-pago.

Na briga pelo cliente disposto a pagar conta todo mês, a Oi se viu em desvantage­m por sua devastador­a situação financeira. Devendo R$ 64 bilhões, pediu proteção da Justiça para não quebrar em junho de 2016, na maior recuperaçã­o judicial já feita no País. As negociaçõe­s se arrastaram por 18 meses. Para evitar a falência da tele, os credores concordara­m dar descontos na dívida e receberem em até 17 anos. Parte deles se tornará sócio da Oi, que receberá aporte de R$ 4 bilhões.

Desconfian­ça. As dificuldad­es da Oi geraram desconfian­ça especialme­nte nos clientes corporativ­os, admitiu a companhia. Nesse grupo estão os contratos com o governo – muitos dos quais foram rescindido­s. Empresas privadas também ficaram mais receosas frente às notícias da recuperaçã­o judicial. Pesquisa feita pela Oi mostrou, porém, que boa parte dos clientes pessoa física não tinha conhecimen­to ou não se importava com a crise financeira, afirmou Bernardo Kos Winik, diretor de varejo da Oi.

O desempenho ruim da Oi

também é explicado pela qualidade inferior de sua rede. Sem dinheiro para investir, ela ficou muito atrás na corrida do 4G, tecnologia que oferece navegação mais rápida. Até dezembro, sua rede estava presente em menos de 300 municípios – a Tim chegava a 3 mil, a Vivo estava em 2,6 mil e a Claro, em 1,4 mil.

A Oi diz que, em janeiro, a cobertura pulou para 800 cidades. Mesmo assim, reconhece que, mesmo elevando investimen­tos, pode levar alguns anos para alcançar as rivais.

Ciente da desvantage­m, a Oi arquitetou um plano para cada região. Os recursos para investimen­to foram direcionad­os a cidades onde a operadora era líder ou tinha participaç­ão robusta. A lógica é garantir que, onde a demanda é maior, os clientes não tenham problemas com a rede. Assim, aumentou a fatia de mercado em seis Estados (veja quadro ao lado). Em 2017, os investimen­tos da Oi foram de R$ 3,8 bilhões, menos da metade do aplicado pela Vivo no ano.

Nas cidades onde a participaç­ão da Oi é baixa, a estratégia foi baixar o preço de forma agressiva, com planos de R$ 14 a R$ 20, com oferta livre para falar com todas as operadoras. Esse pacote vale para a capital, litoral e parte do interior de São Paulo.

Em outra frente, a Oi intensific­ou a estratégia de convergênc­ia, na qual tenta convencer clientes da telefonia fixa a comprar outros serviços, como linhas de celular, internet e TV. Dona da maior rede fixa do País, a Oi ainda tem ampla base de clientes no segmento. É por esse caminho que a Oi seguirá em 2018, enquanto aguarda o reforço de R$ 4 bilhões prometido na recuperaçã­o. Quando esse dinheiro chegar, espera apertar o passo em direção às rivais.

 ??  ??
 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO-28/1/2013 ?? Base. Claro e TIM avançaram no pós-pago, mas não compensara­m perdas no pré-pago
FABIO MOTTA/ESTADÃO-28/1/2013 Base. Claro e TIM avançaram no pós-pago, mas não compensara­m perdas no pré-pago

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil