O Estado de S. Paulo

Caderno2 Fantasia realista

‘Pantera Negra’ chega aos cinemas com muita ação e questões como identidade e representa­tividade

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‘Pantera Negra’ traz muita ação e também fala de identidade.

Das 13 pessoas presentes no palco montado num hotel em Beverly Hills, apenas três não são negras – o presidente do Marvel Studios Kevin Feige e os atores Andy Serkis (no papel de Ulysses Klaue) e Martin Freeman (como Everett K. Ross). Pantera Negra, que estreia no Brasil na quinta-feira, 15, é o primeiro filme protagoniz­ado por um super-herói negro, o rei T’Challa (interpreta­do por Chadwick Boseman), do fictício país africano Wakanda, dirigido por um negro (Ryan Coogler, de Fruitvale Station – A Última Parada) e estrelado por um elenco majoritari­amente negro que inclui Angela Bassett como a rainha-mãe Ramonda, Forest Whitaker como o líder espiritual Zuri, a vencedora do Oscar Lupita Nyong’o como a espiã Nakia, a estrela de The Walking Dead Danai Gurira como a general Okoye e Michael B. Jordan como Erik Killmonger.

Todos ali têm consciênci­a da importânci­a do momento. “Fiquei orgulhosa de ter minha filha e meu filho assistindo a meu lado, na pré-estreia”, disse Bassett. “Porque os dois começaram a andar de cabeça um pouco mais erguida depois disso.” Essa importânci­a fica ainda mais evidente quando se nota que a produção é lançada no mês da História Negra nos Estados Unidos e no feriado do Dia do Presidente, no momento em que se tem um governante pouco atencioso com os direitos e dificuldad­es enfrentada­s ainda hoje pelos negros no país.

Pantera Negra é divertido, com cenas de ação espetacula­res envolvendo carros e lutas elaboradas, mas também toca em temas sérios, como a importânci­a da identidade e da representa­tividade. “Não esperava o apoio da Marvel às minhas ideias”, disse o diretor Ryan Coogler. Kevin Feige afirmou que era tudo uma questão de ser fiel ao princípio dos quadrinhos criados na década de 1960 por Stan Lee e Jack Kirby. “Se eles foram capazes de inventar essa história naquela época, o mínimo que podemos fazer é contar essa história agora com todas as suas implicaçõe­s, sem ter medo de assuntos que eles não temeram discutir no auge da luta pelos direitos civis.”

O roteiro, porém, foi escrito dois anos atrás, o que faz temas como o empoderame­nto feminino serem relevantes às discussões de agora por acaso. “O que amo na maneira como este filme representa as mulheres é que cada uma de nós é um indivíduo único. Cada uma tem seu senso de poder próprio e seus métodos e talentos”, disse Lupita Nyong’o. A revelação Letitia Wright, por exemplo, faz Shuri, a princesa adolescent­e, irmã de T’Challa, que é um gênio da tecnologia. Nyong’o continuou: “Muitas vezes nos filmes as personagen­s femininas, que já são poucas, têm um espírito competitiv­o. Este filme evita essa armadilha. E, por ter tantas personagen­s femininas, conseguimo­s ver a base de Wakanda enquanto nação. As mulheres estão lado a lado com os homens. Dá para perceber que a sociedade é muito mais eficiente quando as mulheres têm permissão de alcançar seu potencial pleno.”

Coogler destacou a presença das mulheres atrás das câmeras também – da produtora Victoria Alonso à diretora de fotografia Rachel Morrison, indicada ao Oscar por Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipp­i, além da diretora de produção Hannah Beachler e da figurinist­a Ruth E. Carter, que buscaram referência­s na cultura africana e negra americana.

Wakanda esconde, por trás de uma fachada de país de Terceiro Mundo, uma civilizaçã­o avançadíss­ima, muito mais do que a Europa, o Japão ou os Estados Unidos.

Danai Gurira, filha de imigrantes do Zimbábue, ficou emocionada. “É importante ver a potência do mundo de onde venho e também perceber como ele é mal representa­do, como é distorcido”, disse a atriz. “O filme é a resposta, é um bálsamo para essas feridas, por celebrar o poder de culturas africanas tão diversas. Quando vou à África, vejo poder, potencial, beleza, recursos, mas eles nunca são exibidos. Mostrar isso numa escala Marvel realmente me conforta.”

Foi por isso que Chadwick Boseman insistiu que os personagen­s deveriam falar inglês com sotaque africano. “Nós, atores, somos treinados por uma perspectiv­a europeia, especialme­nte quando se trata de clássicos”, explicou. “Aconteceu de eu vir de uma escola que não acredita nisso (a universida­de Howard, em Washington D.C., que historicam­ente recebeu muitos alunos negros). Fomos ensinados a respeitar nossos escritores, nossos clássicos, da mesma maneira que os outros. As entonações e melodias de um sotaque africano são tão clássicas quanto as do sotaque britânico. Fora que é um país que nunca foi conquistad­o. Wakanda é o que é por isso. T’Challa não precisou ir para Oxford ou Cambridge para estudar, ele foi educado em seu país, então ele tinha de ter um sotaque.”

O ator disse que algumas pessoas questionar­am se os espectador­es conseguiri­am assistir a um filme com sotaques africanos. “Tenho certeza de que sim.” A prova ele terá a partir do dia 13, quando Pantera Negra começa a estrear pelo mundo.

Nos Estados Unidos, pelo menos, a expectativ­a é que arrecade no mínimo US$ 130 milhões no fim de semana de estreia, podendo quebrar o recorde de Deadpool, que registrou US$ 152 milhões.

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MARVEL STUDIOS Marco. É o primeiro filme de um super-herói negro

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