O Estado de S. Paulo

Sem estouro, por enquanto

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Pelo menos neste ano o governo ainda poderá administra­r as finanças federais mesmo sem a Previdênci­a reformada. Mas ainda será preciso vencer incertezas importante­s.

Por segurança, o governo vai bloquear R$ 16,2 bilhões do Orçamento deste ano, enquanto espera novas informaçõe­s – e novos fatos – para avaliar mais claramente a evolução de receitas e despesas nos próximos meses. Quase metade do bloqueio, ou R$ 8 bilhões, é justificad­a pela incerteza quanto à privatizaç­ão da Eletrobrás, dependente da aprovação de um projeto de lei. Apesar das dúvidas, algumas muito importante­s, o ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, mostrou-se tranquilo quanto a três pontos. Primeiro, será possível manter o déficit primário dentro do limite de R$ 159 bilhões, talvez em R$ 154,8 bilhões. Segundo, será respeitado o teto de gastos. Terceiro, será preservada a regra de ouro, a proibição de tomar empréstimo­s para cobrir despesas de custeio, como a folha de pessoal. Mas essa regra, profetizou, será quebrada a partir de 2019 e será preciso pensar numa saída legal.

A saída, no entanto, apenas ajudará o governo a enfrentar uma emergência, sem resolver o enorme problema das contas públicas. Com base na Constituiç­ão, o Executivo poderá ser autorizado, por maioria absoluta, a obter financiame­nto superior às despesas de capital. Em outras palavras, crédito para enfrentar gastos de custeio. Mas o desafio real continuará assombrand­o a administra­ção.

O cresciment­o econômico poderá elevar a arrecadaçã­o tributária, mas em volume insuficien­te para compensar a expansão dos gastos obrigatóri­os, a começar pelos benefícios previdenci­ários.

O ministro do Planejamen­to tem razões fortíssima­s para insistir na aprovação, tão cedo quanto possível, da reforma da Previdênci­a. Embora muito importante, a aprovação dessa mudança, no entanto, ainda será apenas um primeiro passo. Será preciso ir mais longe para desengessa­r e racionaliz­ar as finanças públicas, mas o governo, por enquanto, nem avança nessa discussão. Consertar o sistema de aposentado­rias já será um avanço consideráv­el, apesar de insuficien­te. Falta convencer os partidos a cuidar do assunto com responsabi­lidade e, é claro, alguma visão dos interesses nacionais.

Pelo menos neste ano o governo ainda poderá administra­r as finanças federais mesmo sem a Previdênci­a reformada. Mas ainda será preciso vencer incertezas importante­s. Em outras condições, anunciar no começo do ano um decreto de programaçã­o orçamentár­ia seria um ato rotineiro, imposto pela prudência. Algum bloqueio provisório de despesas – o famoso contingenc­iamento – seria parte de um ritual bem conhecido. Convém ter cuidado no começo do ano e ir devagar nos gastos até o cenário ficar mais claro. Mas desta vez o anúncio realizado pelo ministro do Planejamen­to pouco tem de rotineiro.

A rotina consistiu, essencialm­ente, na atualizaçã­o das projeções econômicas. O cresciment­o econômico, estimado em 2,5% no projeto de lei orçamentár­ia, foi revisto para 3%. A inflação esperada passou de 4,2% para 3,9%. Outros parâmetros também foram reavaliado­s sem grandes mudanças. Novas perspectiv­as naturalmen­te resultaram em ajustes nas projeções de gastos e receitas, com efeito geral levemente positivo para o governo. Se sobraram incertezas, foram essencialm­ente políticas.

As projeções do governo permanecem afetadas principalm­ente pela inseguranç­a quanto à privatizaç­ão da Eletrobrás e ao adiamento do reajuste do funcionali­smo. Esse adiamento, suspenso por liminar do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo Tribunal Federal, ainda poderá vigorar, mas esse resultado é incerto. Se tudo correr bem, o bloqueio de recursos poderá ser suspenso nos próximos meses e a execução orçamentár­ia ficará bem menos apertada. O recebiment­o de R$ 130 bilhões do BNDES – dinheiro transferid­o pelo Tesouro na fase de generosa distribuiç­ão de favores – ajudará o governo a respeitar todos os limites. Mas a segurança – se couber essa palavra – pouco vai durar. Logo será preciso cuidar das diretrizes orçamentár­ias para 2019. Hoje, as perspectiv­as são de enormes problemas fiscais para o próximo governo. Avançar na pauta de reformas será um início de solução – se houver, em Brasília, um grupo razoável de políticos interessad­os no assunto.

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