O Estado de S. Paulo

Delação envolve Marinho em caixa 2 a deputado.

Colaboraçã­o da Odebrecht relata que presidente do PT de São Paulo e pré-candidato ao governo indicou repasse de R$ 300 mil em 2014

- Luiz Vassallo Amanda Pupo Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Ex-executivos da Odebrecht envolveram, em delação premiada, o ex-prefeito de São Bernardo e presidente do diretório do PT em São Paulo, Luiz Marinho, em um repasse de R$ 300 mil para o 3.º Secretário da Assembleia Legislativ­a do Estado, Luiz Fernando Teixeira Ferreira (PT), na eleição de 2014. De acordo com os delatores, o montante foi repassado via caixa 2.

Um dos petistas mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marinho é pré-candidato do partido ao governo de São Paulo na disputa deste ano. O deputado estadual é irmão do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).

O ex-diretor superinten­dente da Odebrecht Infraestru­tura, responsáve­l pela região Sul e o Estado de São Paulo, Luiz Antonio Bueno Junior, relatou na delação ter recebido uma visita de Teixeira Ferreira após indicação de Marinho, então prefeito de São Bernardo do Campo.

“Marinho tinha um protagonis­mo bastante grande na região do ABC Paulista. Eu tinha como foco, quando assumi a área, em atuar em dois setores específico­s no interior de São Paulo: a região da baixada santista e a região do ABCD. Então, um pedido de Marinho sempre teria de ser levado em consideraç­ão. O Luiz esteve comigo em meu escritório e me fez a solicitaçã­o”, afirmou.

À Procurador­ia-Geral da República, Bueno Júnior disse ainda ter acertado doações de R$ 300 mil via caixa 2 e R$ 251 mil registrado­s no Tribunal Superior Eleitoral. “O Luiz Fernando pediu que fizéssemos R$ 251 mil oficiais de sorte que ele pudesse localizar no partido.”

Outro delator que integra o pedido para investigar Marinho é Alexandrin­o de Alencar, que foi diretor de Relações Institucio­nais da empreiteir­a. Segundo ele, a Odebrecht tinha “interesses expressivo­s” na região do ABC Paulista, “principalm­ente em mobilidade urbana”. O delator disse que fez a doação a Teixeira Ferreira pela “proximidad­e que tinha com Marinho”.

Contrapart­ida. Questionad­o pelos procurador­es, ele confirmou que o deputado estadual petista prometeu contrapart­idas. “Ele se compromete­u a ajudar. Foi bem explícito.” O delator ainda foi inquirido a responder se, depois do suposto acerto, teria sido ajudado em contratos na região de São Bernardo. “Ele tentou ajudar. Sem dúvida nenhuma”, afirmou Alencar. Ele, no entanto, disse que a suposta “ajuda” não teria sido eficaz. “Eles (pleitos da Odebrecht) caminhavam, estavam caminhando dentro da burocracia dentro da prefeitura, mas, que eu saiba, não teve sucesso.”

Outro delator que embasa pedido de investigaç­ão contra o deputado estadual é Benedicto Barbosa da Silva Júnior, que confirmou ter aprovado uma série de pagamentos a políticos requeridos por outros executivos da empreiteir­a. Ele afirma não ter feito parte de supostas tratativas.

Bueno Júnior entregou à PGR planilhas de repasses do departamen­to de propinas da Odebrecht. O valor de R$ 300 mil aparece ao lado do codinome “Lamborguin­y” – que seria referência a Teixeira Ferreira. A senha combinada para a retirada do dinheiro era “empada”.

Um comprovant­e de pagamento ao diretório estadual paulista do PT datado do dia 8 de setembro de 2014 no valor de R$ 251 mil também consta no anexo da delação do executivo. O repasse, segundo o documento, foi feito pela Agro Energia Santa Luzia S/A.

Alexandrin­o Alencar também afirmou à PGR que fez um repasse de R$ 550 mil à campanha de Luiz Marinho à prefeitura de São Bernardo, em 2012. Segundo o delator, outros R$ 50 mil teriam

sido doados por via oficial.

A íntegra desses depoimento­s foi tornada pública em 14 de agosto do ano passado, por decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

Inicialmen­te, as revelações dos executivos da empreiteir­a tiveram o sigilo levantado por Fachin

em abril de 2017. No entanto, àquela época, foi prorrogado o segredo sobre colaboraçõ­es que envolvesse­m acordos de cooperação internacio­nal (mais informaçõe­s nesta página).

Bueno Júnior deu informaçõe­s relevantes a acordos de cooperação internacio­nal entre a PGR e autoridade­s de países em

que a Odebrecht é alvo de investigaç­ão. Em agosto de 2017, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, requereu a Fachin que levantasse o sigilo das delações a respeito do petista sob o argumento de que as declaraçõe­s dos executivos não tinham relação com crimes cometidos fora do País.

“Pedido de Marinho sempre teria de ser levado em consideraç­ão. O Luiz esteve comigo em meu escritório e me fez a solicitaçã­o.” Luiz Antonio Bueno Junior

EX-EXECUTIVO DA ODEBRECHET

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Ex-prefeito. Luiz Marinho, que governou São Bernardo, já foi citado na delação da empreiteir­a

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