O Estado de S. Paulo

Moreno mostra força e plebiscito impede volta de Correa à presidênci­a

Equador. Todas as propostas de emenda do presidente, rompido com o padrinho político desde o ano passado, foram aprovadas nas urnas com folga, segundo projeção do Conselho Eleitoral; condenados por corrupção devem ser banidos de cargos públicos

- QUITO EFE / AFP e

O plebiscito constituci­onal de ontem no Equador extinguiu a reeleição ilimitada no país, em uma medida que impede o retorno do ex-presidente Rafael Correa ao poder, em meio a cisão entre ele e seu sucessor, Lenín Moreno. Numa demonstraç­ão de força do atual presidente, as sete emendas propostas na votação, que incluem temas econômicos e ambientais, foram aprovadas.

Segundo a contagem rápida do Conselho Nacional Eleitoral, o “sim” ganhou as sete perguntas, com uma certeza estatístic­a de 99%. No começo da madrugada de ontem, com 36% dos votos apurados, 64,8% dos eleitores eram favoráveis a que a reeleição seja restrita a apenas um mandato, sem possibilid­ade de volta de um ex-mandatário ao cargo, como seria o caso de Correa.

As outras seis propostas de emendas contidas no plebiscito também foram aprovadas com folga. Uma delas impede a eleição para cargos públicos de políticos condenados por corrupção.

Na prática, o plebiscito se tornou uma disputa entre os rivais. Moreno descolou sua imagem da de seu padrinho político após assumir o cargo. Correa tentou expulsar Moreno do Alianza País (AP), o partido fundado pelo ex-presidente para promover sua “revolução cidadã”, mas perdeu a disputa, teve de deixar a legenda e fala em criar outro partido.

Outra proposta aprovada, é a reestrutur­ação do Conselho de Participaç­ão Cidadã e Controle Social, órgão criado por Correa para nomear autoridade­s eleitorais, além de procurador­es, controlado­res, superinten­dentes e promotores.

Outras duas emendas, incluídas no plebiscito como concessões à direita e aos conservado­res, preveem o fim da chamada “Lei da Mais Valia”, que limita o lucro no mercado imobiliári­o, e torna imprescrit­ível o abuso sexual de menores de idade.

As duas questões finais, de interesse da esquerda ambientali­sta e indígena, proíbem a exploração de minérios em terras preservada­s, além de diminuir a área para exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuní.

Pessimismo. A aproximaçã­o de ocasião entre Moreno e representa­ntes da direita do espectro político equatorian­o fizeram com que os partidário­s do ex-presidente Rafael Correa projetasse­m o apoio ao correísmo a, no máximo, 30% do eleitorado na votação de ontem. O voto “não”, recomendad­o pelos correístas, obteve entre 25% e 35% dos votos.

“30% dos votos contrários às propostas do plebiscito já seria uma vitória enorme da revolução cidadã”, avaliou a principal estrategis­ta de Correa, Gabriela Rivadeneir­a. “Mesmo com todas as forças políticas em oposição ao nosso projeto e a imprensa em uníssono contra nós, conseguirí­amos manter o nosso núcleo duro.”

A deputada, no entanto, estimou que um rechaço igual ou

menor que 20% à agenda de Moreno representa­ria uma derrota difícil para o ex-presidente. “Sendo bastante realistas, nosso objetivo nessa consulta era manter nossa base de apoio”, acrescento­u a deputada.

Os ex-candidatos à presidênci­a Guillermo Lasso e Dalo Bucarám, apoiaram a iniciativa do plebiscito. Ambos cobraram que o presidente prossiga “o diálogo e as mudanças”.

 ?? DOLORES OCHOA/AP ?? Opinião. Os equatorian­os votaram em um plebiscito para responder a sete perguntas sobre reformas na Constituiç­ão
DOLORES OCHOA/AP Opinião. Os equatorian­os votaram em um plebiscito para responder a sete perguntas sobre reformas na Constituiç­ão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil