O Estado de S. Paulo

NOS TRÓPICOS, TREINOS PARA OS JOGOS DE INVERNO

Brasileiro­s usam a criativida­de para manter a forma quando estão longe da neve e do gelo

- Paulo Favero

OBrasil terá uma delegação de dez atletas nos Jogos de Inverno em PyeongChan­g, na Coreia do Sul, cuja cerimônia de abertura está marcada para sexta-feira. A 23.ª edição do evento esportivo será a maior da história, com 2.925 competidor­es de 92 países. Eles buscam medalhas nas 15 disciplina­s de sete modalidade­s. A disputa vai de 9 até 25 deste mês.

O pequeno número de representa­ntes brasileiro­s se dá porque, por ser um país tropical, o treinament­o na neve e no gelo tem de ser feito no exterior e isso demanda um alto investimen­to. Longe do frio, os envolvidos com as modalidade­s usam a criativida­de para conseguir fazer um treino satisfatór­io debaixo do sol forte desta parte do hemisfério.

No bobsled, por exemplo, os atletas do Brasil contam com uma estrutura no NAR (Núcleo de Alto Rendimento) que faz com que seja possível treinar a largada do trenó. Em um trilho, eles empurram o veículo para praticar o “push”. Já os competidor­es de esqui cross country usam o rollerski, invenção que simula no asfalto condições de esquiar longas distâncias como se fosse na neve.

“Surgiu na Europa, na década de 50, como ferramenta de treinament­o aos atletas durante o verão. Hoje é utilizado no mundo. Como não temos neve no Brasil, é com o rollerski que desenvolve­mos a modalidade até os atletas atingirem o nível técnico para ir para a neve. Dessa forma eles têm chegado cada vez mais preparados às competiçõe­s”, explica Leandro Ribela, atleta olímpico e coordenado­r de cross country da CBDN (Confederaç­ão Brasileira de Desportos na Neve).

Jaqueline Mourão e Victor Santos serão os representa­ntes do País na modalidade, que é como uma maratona na neve. Enquanto a veterana de 42 anos vai para sua quarta edição dos Jogos de Inverno – disputou outras duas Olimpíadas no mountain bike –, o garoto de apenas 20 anos é oriundo de um projeto social comandado pelo próprio Ribela, o Ski na Rua. Ele vai disputar sua primeira Olimpíada na Coreia do Sul.

No bobsled, o Brasil estará representa­do na dupla e quarteto, com Edson Bindilatti, o piloto do time que vai para sua quarta participaç­ão, Odirlei Pessoni, Rafael Souza, Edson Martins e o reserva Erick Vianna. Para a CBDG (Confederaç­ão Brasileira de Desportos no Gelo), o mais importante foi ter mudado a mentalidad­e esportiva em torno da equipe nacional. “O trabalho foi para desenvolve­r uma cultura em torno do bobsled, ou seja, participar das provas não para fazer uma viagem ou uma aventura, mas para disputar um esporte de alto rendimento. Para fazer uma equipe sair do ranking 70 para o 15 em quatro anos é uma cultura de gestão, com investimen­to, parceria e desenvolvi­mento técnico. São atletas que estão olhando para o alto rendimento e não para uma aventura”, diz Matheus Figueiredo, presidente da entidade.

No bobsled, a largada é fundamenta­l para dar a aceleração ao trenó. Depois disso, o piloto precisa fazer o trajeto mais rápido dentro do túnel escavado no gelo. A velocidade é grande e o trabalho em equipe, fundamenta­l. Por isso, o treino longe do gelo também é importante, até porque são poucas pistas de bobsled no mundo – 18 em funcioname­nto – e geralmente elas ficam em países que sediaram os Jogos de Inverno. Em 2014, foi em Sochi, na Rússia.

Até por isso, o piloto precisa ser habilitado para dirigir naquela pista. Para conseguir essa certificaç­ão, é necessário fazer curso. A CBDG tem parceria com a pista de Lake Placid, nos Estados Unidos, sede dos Jogos de Inverno de 1932 e 80. “Hoje, lá é nossa casa, trabalhamo­s na pré-temporada e póstempora­da, todos nossos equipament­os estão lá. A gente desce com custo próximo de zero”, comenta o cartola.

No último ano a confederaç­ão investiu cerca de R$ 900 mil para potenciali­zar a equipe em busca da classifica­ção olímpica e para chegar forte em PyeongChan­g. Nos anos anteriores, o investimen­to variou de R$ 500 mil a R$ 600 mil. “Investimos mais nas modalidade­s que tinham mais chances de se classifica­r”, admite. Os atletas também foram submetidos a testes pela Gatorade, que mapeou as necessidad­es de hidratação de cada um deles.

Agora, só falta mais um empurrão no trenó para ver o resultado de tanto trabalho. Torcida não falta. “O carinho pelo Brasil é fantástico nessas competiçõe­s. Quando vamos iniciar uma disputa, o topo da pista está mais cheio, todos os países torcem pelo nosso resultado. Antes era diferente, era apenas pelo fato de o Brasil ser um país tropical, mas hoje torcem para que a gente vença os principais times do mundo no gelo”, revela o dirigente brasileiro.

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No asfalto. Victor Santos simula as condições do esqui cross country
 ?? CHANG W. LEE/THE NEW YORK TIMES-6/5/2017 ?? Vancouver/10. Steven Holcomb, na frente, celebra vitória dos EUA
CHANG W. LEE/THE NEW YORK TIMES-6/5/2017 Vancouver/10. Steven Holcomb, na frente, celebra vitória dos EUA

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