O Estado de S. Paulo

Queda na Selic leva bancos a ajustar a remuneraçã­o de títulos de renda fixa

Pesquisa indica melhora em letras de crédito e CDBs, mas não a ponto de compensar a redução dos juros

- Mariana Segala ESPECIAL PARA O ESTADO

Já não anda mais tão simples atrair o investidor para a renda fixa. Pudera. Os juros brasileiro­s, historicam­ente altos, estão no patamar mais baixo desde sempre – e seguem descendo. A expectativ­a do mercado financeiro é de que a Selic, taxa básica de juros do País, seja reduzida uma vez mais (para 6,75% ao ano), na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa amanhã. Para tentar garantir que o dinheiro dos clientes continue a pingar, os bancos começaram a se mexer.

Nos últimos meses, eles vêm melhorando as condições de remuneraçã­o para quem aplica em CDBs (Certificad­os de Crédito Bancário) e nas letras de crédito, sejam as imobiliári­as (LCIs) ou as agrícolas (LCAs). Mas, na prática, a queda da Selic foi tão intensa que os ajustes promovidos pelos bancos não conseguem compensar completame­nte a diferença.

Papéis como os CDBs são vendidos pelos bancos para captar recursos e financiar suas atividades. Quem os compra, na prática, empresta dinheiro para as instituiçõ­es financeira­s, em troca de uma remuneraçã­o. Os CDBs e as letras de crédito mais comuns oferecem como rentabilid­ade um porcentual do CDI, que é a principal referência de remuneraçã­o para as aplicações de renda fixa.

E é aí que as mudanças estão acontecend­o. Um levantamen­to feito pelo aplicativo Renda Fixa a pedido do Estado mostra que, na média, os bancos elevaram o porcentual do CDI pago aos investidor­es do ano passado para cá, especialme­nte nos últimos seis meses. A pesquisa considerou o histórico de rentabilid­ade de CDBs, LCIs e LCAs com prazos de vencimento de um ou dois anos, com aplicação mínima de R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 30 mil e R$ 50 mil, emitidos por 30 instituiçõ­es de pequeno e médio porte.

No início de 2017, a remuneraçã­o dos CDBs com aplicação mais baixa, por exemplo, era de 110% do CDI para vencimento em um ano e de 116% para dois anos. Atualmente, segundo o Renda Fixa, é possível obter taxas de 119% e 127%, respectiva­mente. “Não foi algo pontual. Percebemos várias instituiçõ­es oferecendo taxas mais altas nos títulos bancários”, diz Vinícius Maeda, diretor de relações com investidor­es da consultori­a Magnetis. Ao que tudo indica, é uma tentativa de manter um certo nível de atrativida­de diante da concorrênc­ia com investimen­tos menos conservado­res e mais rentáveis, como os fundos multimerca­do.

Bancos. O movimento chegou também aos maiores bancos. No Banco do Brasil, por exemplo, a remuneraçã­o das LCAs passou de 77% para 83% do CDI nos últimos quatro meses – e a aplicação mínima, de R$ 30 mil, caiu para R$ 10 mil. “Apesar da redução dos juros, a renda fixa continua sendo uma parte importante dos investimen­tos dos clientes. Com o acerto das taxas, buscamos dar uma rentabilid­ade efetiva melhor”, diz Rodrigo Ayub, gerente executivo de captação do banco.

Melhor sim, mas nem de longe superior ao que já foi. Um CDB hipotético que oferecesse 100% do CDI em janeiro de 2017 teria rendido 9,95% ao longo do ano, quando os juros estavam mais altos. Hoje, mesmo que a taxa fosse elevada para supostos 105% do CDI, a rentabilid­ade efetiva em um ano seria bem menor, de 7,23%, aponta a Magnetis.

Oportunida­des. A regra, agora, é manter os olhos abertos para as oportunida­des. O banco Daycoval, por exemplo, iniciou uma campanha, na semana passada, oferecendo LCIs e LCAs com taxa de 95,5% do CDI, e para valores tão baixos quanto R$ 1 mil. A remuneraçã­o, até então, ficava na faixa de 94%. “Foi uma estratégia que encontramo­s para conquistar novos clientes”, diz Maurício Carlos Giarrante, superinten­dente de captação do Daycoval.

Especialis­tas, no entanto, recomendam que cada oferta seja estudada com atenção. Em troca de uma rentabilid­ade melhor, os papéis de bancos como o Daycoval exigem uma permanênci­a maior. Em geral, não é possível resgatar o dinheiro antes do vencimento, que pode variar de poucos meses a alguns anos. “É preciso combinar os prazos dos produtos com as necessidad­es do investidor”, diz Felipe Cesar Giacomini Ferreira, planejador financeiro certificad­o pela Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s (Planejar).

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