O Estado de S. Paulo

Após disputa, editora-chefe do ‘Bild’ pede demissão

Renúncia põe em risco meta da mídia alemã de ter 30% dos cargos de chefia nas redações nas mãos de mulheres

- Christophe­r F. Schuetze THE NEW YORK TIMES / BERLIM TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Tanit Koch, primeira editora-chefe do tabloide alemão Bild, um dos periódicos mais vendidos da Alemanha, anunciou na sexta-feira sua demissão depois de uma aparente disputa de poder com outro executivo da publicação. A saída de Tanit do Bild, de propriedad­e da Axel Springer, ocorre pouco mais de dois anos após ela ter assumido o cargo. O jornal, conhecido por sua linha popular, manchetes escandalos­as e fotos de mulheres seminuas, tem base diária de 1,46 milhão de leitores.

A demissão de Tanit encerra um capítulo de uma impression­ante ascensão em sua carreira. Ela começou como trainee não remunerada no jornal e se tornou editora sênior em uma década. A saída também vai contra os esforços de empresas de mídia para ter mais força feminina de comando.

Segundo fontes, a razão da demissão teria sido uma disputa entre Tanit, 40 anos, e Julian Reichelt, que dirige todos os dez títulos do jornal. No ano passado, pouco mais de um ano após a nomeação de Tanit, Reichelt, ex-correspond­ente de guerra, foi promovido ao atual posto. Aparenteme­nte os dois entraram em conflito em relação à administra­ção do jornal.

Tanit Koch deixará o cargo em 1.º de março, quando Reichelt, de 37 anos, assumirá todas as responsabi­lidades que estavam a cargo dela. “Quando duas pessoas não se harmonizam profission­almente, isso pode ser temporaria­mente contrabala­nçado por concessões mútuas”, afirmou Tanit em um email para seus colegas. “O ano de 2017 foi marcado por isso, até que minha disposição chegou ao limite.”

A mudança ocorre num momento em que o Bild luta contra um declínio abrupto de leitores, tendência observada por todo o setor de jornais da Alemanha. Em seu auge, na década de 1980, o Bild tinha uma tiragem diária de mais de 5,5 milhões de exemplares. O número veio caindo desde então – apenas em 2017, a baixa foi de 10%.

Equilíbrio. Nos últimos anos, o Bild e outros jornais vinham buscando também maior equilíbrio de gênero nas suas redações. O Pro-Quote, grupo voltado ao setor jornalísti­co, estabelece­u a meta de que 30% dos postos mais altos dentro das organizaçõ­es de mídia deveriam ser ocupados por mulheres. Até o fim de 2017, só três publicaçõe­s cumpriram o acordo – incluindo o Bild.

A saída de Tanit Koch lança dúvidas em relação a essa iniciativa. Ela é a segunda mulher na liderança a deixar o jornal em menos de um ano. Em setembro, Donata Hopfen, que chefiava a divisão editorial da publicação, deixou a companhia.

“Numa posição como esta, dentro de um jornal, ambiente em que as disputas internas são violentas, o chefe tem de ser resistente, não importa se homem ou mulher”, disse Ulrike Simon, analista de mídia do Spiegel Daily. /

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MICHAEL KAPPELER/EUROPEAN PRESSPHOTO AGENCY Tempo. Tanit Koch sai do ‘Bild’ após dez anos na publicação

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